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  • terça-feira, 3 de maio de 2011

    CONSIDERAÇÕES ESPÍRITAS SOBRE A EPIDÊMICA PRÁTICA PSICO-SOCIAL DO BULLYING

    Na chacina de Realengo, na cidade do Rio de Janeiro, meninos e meninas ficaram irmanados num trágico destino. Suas vidas foram prematuramente ceifadas num episódio de insonhável bestialidade. Jornais, redes de TV, revistas, rádios e Internet noticiaram o crime horroroso ocorrido na Escola Municipal Tasso da Silveira. É um episódio para cujas causas não há como permanecermos estáticos na busca de entendimento.
    Wellington, embora com a mente arruinada e razão obliterada, fez sua opção de atirar contra jovens estudantes. Na fita gravada, alegou ter sofrido bullying, anos antes, na mesma escola; porém, poderia ter superado o trauma de antanho. Ainda que admitamos sua provável subjugação por seres espirituais perversos, a responsabilidade da decisão recai integralmente sobre  ele.
    No entanto, não é muito simples explanar o fato, e  para esse mister,  recorremos aos ditames da Justiça de Deus, visando minimizar ao máximo as dores dos familiares que ainda choram a ausência brutal dos filhinhos. Cabe refletir que não há como concebermos injustiça nos Estatutos do Criador. Sobre os alunos alvejados é perfeitamente plausível que as causas para um desfecho tão assombroso estejam conectadas a ressarcimento de dívida do pretérito, ou decisão voluntária do espírito de sacrifício pessoal, visando auxiliar na construção de um projeto social mais profundo sobre a violência urbana.
    Cremos que tanto a psicologia como as outras áreas do saber acadêmico não conseguirão aclarar razões para a trágica ocorrência. Nem é de bom parecer acomodar-nos com anotações racionalizadoras das ciências sociais. Entretanto, podemos nos valer dos conceitos espíritas que nos induzem à certeza de que fatalidade e acaso inexistem nas experiências humanas.
    Um fato é inconteste: Wellington protagonizou uma das maiores barbaridades da História. Será que a crueldade humana deriva da carência de senso moral? Dizem os Espíritos que “o senso moral pode não estar desenvolvido no homem cruel, mas não está ausente; porque ele existe, em princípio, em todos os homens; é esse senso moral que os transforma mais tarde em seres bons e humanos. Ele existe no selvagem como o princípio do aroma no botão de uma flor que ainda não se abriu.”(1)
    O macabro assunto tem motivado alguns debates sobre a questão da segurança nas escolas. Em cada discussão um tema é citado com insistência: o bullying, que tem sido discutido com pujantes cores por especialistas das áreas do direito, da psicologia, da medicina, da sociologia, da pedagogia e outras. A prática de bullying começou a ser pesquisada há cerca de 10 anos na Europa, quando descobriram que essa forma de violência estava por trás de muitas tentativas de homicídio e suicídio de adolescentes.
    O termo bullying é derivado do verbo inglês bully, que significa usar a superioridade física para intimidar alguém. Também adota aspecto de adjetivo, referindo-se a “valentão” e "pit bull". As vítimas são os indivíduos considerados mais fracos e frágeis dessa relação, transformados em objeto de diversão e prazer por meio de “chacotas” maldosas e intimidadoras. É considerada uma questão de saúde pública e de segurança social.
    O fenômeno é uma epidemia psico-social e pode ter consequências graves. O que, à primeira vista, pode parecer um simples apelido inofensivo, pode afetar emocional e fisicamente o alvo da ofensa. Crianças e adolescentes que sofrem humilhações racistas, difamatórias ou separatistas podem ter queda do rendimento escolar, somatizar o sofrimento em doenças psicossomáticas e sofrer de algum tipo de trauma que influencie traços da personalidade. Tem sido responsável pelos altos índices de evasão e repetência escolar uma vez que o aluno não vê a escola como local de aprendizado, mas como um ambiente hostil.


    Na panorâmica do mundo atual, observamos  jovens que não têm compostura, são violentos e fazem de tudo para conquistar seus objetivos, tripudiando e passando por cima de tudo e de todos, achando que os fins justificam os meios. No século XIX, Allan Kardec levantou a questão da violência urbana e indagou os Espíritos - “como pode dar-se que no seio da mais adiantada civilização se encontrem seres às vezes tão cruéis quanto os selvagens?” Os Benfeitores responderam: “do mesmo modo que numa arvore carregada de bons frutos se encontram frutos estragados. São, se quiseres, selvagens que da civilização só tem a aparência, lobos extraviados em meio de cordeiros. Espíritos de ordem inferior e muito atrasados podem encarnar entre homens adiantados, na expectativa de também se adiantarem; contudo, se a prova for muito pesada, vai predominar a natureza primitiva.”(2)
    Os filhos, quando crianças, registram em seu psiquismo todas as atitudes dos pais, tanto as boas quanto as más, manifestadas na intimidade do lar. Por esta razão, os pais devem estar sempre atentos e, incansavelmente, buscando um diálogo franco com os filhos, sobretudo amando-os, independentemente de como se situam na escala evolutiva.
    Não há dúvida que há muitos espíritos primários reencarnados na Terra. Por isso os pais devem ter cuidado redobrado com a disciplina dos mesmos, reforçando na intimidade doméstica os exemplos de moralidade. Pais, avós e professores formam os grupos encarregados da educação. Não se pode permitir que esses Espíritos reencarnados sejam entregues simplesmente às mãos de funcionários, ou sob a estranha tutela da televisão, das redes sociais da Internet e de violentos jogos eletrônicos.
    Crianças as quais são criadas dentro de padrões de liberalidade excessiva, sem limites, sem noções de responsabilidade, sem disciplina, sem religião e muitas vezes sem amor, serão aquelas com maior tendência aos comportamentos agressivos, tais como o bullying, pois foram mal acostumadas e por isso esperam que todos façam as suas vontades e atendam sempre às suas ordens."A criança livre é a semente do celerado. A própria reencarnação se constitui, em si mesma, restrição considerável à independência absoluta da alma necessitada de expiação e corretivo".(3)
    O Espiritismo não nomeia soluções peculiares, refreando ou regulamentando cada atitude, nem dita fórmulas ilusionistas de bom comportamento aos jovens. Elege consentir, em toda sua amplitude, os dispositivos da lei divina, que asseguram a todos o direito de escolha (o livre-arbítrio) e a responsabilidade consequente de seus atos.
    Desde os primeiros anos, devemos ensinar a criança a fugir do abismo da liberdade, controlando-lhe as atitudes e concentrando-lhe as posições mentais, pois que essa é a ocasião mais propícia à edificação das bases de uma vida. É urgente salientar que quando os filhos são rebeldes e incorrigíveis, impermeáveis a todos os processos educativos, "os pais, depois de movimentar todos os processos de amor e de energia no trabalho de orientação educativa deles, que sem descontinuidade da dedicação e do sacrifício, esperem a manifestação da Providência Divina para o esclarecimento dos filhos incorrigíveis, compreendendo que essa manifestação deve chegar através de dores e de provas acerbas, de modo a semear-lhes, com êxito, o campo da compreensão e do sentimento." (4)

     Jorge Hessen
    http://jorgehessen.net

    Fontes de Referências:

    (1)Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Ed FEB, 2001, questão 754
    (2)idem questão  755
    (3)XAVIER, Francisco Cândido. O Consolador. Pelo Espírito Emmanuel. 17. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1995.
    (4)idem.

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