O clérigo  muçulmano Mofiz Uddin foi o responsável pela fatwah (sentença)  contra  Hena, que foi presa juntamente com outras três pessoas. Os  religiosos  disseram à polícia que Hena teria sido pega em flagrante.  Porém,  Dorbesh Khan, o pai da adolescente dissse: “Que tipo de justiça é  essa?  Minha filha foi espancada em nome do fanatismo religioso. Se  tivesse  sido julgada por um tribunal do Estado, minha filha jamais teria   morrido”. Em verdade, punições realizadas em nome da sharia (legislação   sagrada islâmica) e decretos religiosos foram proibidos em Bangladesh,   por isso, um grupo de moradores de Shariatpur foi às ruas em protesto   contra a fatwa e contra os autores da sentença.
Para  comentar o fato sob o viés kardeciano, é importante destacar que em   qualquer análise que façamos sobre o comportamento sexual dessa ou   daquela pessoa, somos obrigados a lembrar sempre de Deus, “que julga em   última instância, que vê os movimentos íntimos de cada coração e que,   por conseguinte, desculpa muitas vezes as faltas que censuramos, ou   reprova o que relevamos, porque conhece o móvel de todos os atos.   Lembremo-nos de que nós, que clamamos em altas vozes anátemas, teremos   quiçá cometido falta mais grave” (1) do que a pessoa que censuramos.
No  caso Hena, alguns dizem que ela sofreu violência sexual, contudo há  os  que afirmam que houve o adultério cometido pelo primo. De qualquer   modo, o episódio remete-nos aos Códigos de Jesus, que proclamou a   sentença: “atire-lhe a primeira pedra aquele que estiver isento de   pecado”(2). Essa advertência faz da comiseração uma obrigação para nós   outros, porque ninguém há que não necessite, para si próprio, de   indulgência. “Ela nos ensina que não devemos julgar com mais severidade   os outros, do que nos julgamos a nós mesmos, nem condenar em outrem   aquilo de que nos absolvemos. Antes de profligarmos a alguém uma falta,   vejamos se a mesma censura não nos pode ser feita.”(3) É importante   observar que Jesus, avaliando equívocos e quedas, nas aldeias do   espírito, haja selecionado aquela da mulher, em falhas do sexo, para   emitir a sua memorável sentença: "aquele que estiver sem pecado atire a   primeira pedra".
O sábio Espírito Emmanuel explica que  “no rol das defecções, deserções,  fraquezas e delitos do mundo, os  problemas afetivos se mostram de tal  modo encravados no ser humano que  pessoa alguma da Terra haja escapado,  no conjunto das existências  consecutivas, aos chamados "erros do  amor".”(4) Penetremos cada um de  nós nos recessos da própria alma, e, se  conseguimos apresentar  comportamento irrepreensível, no imediatismo da  vida prática ante os  dias que correm, indaguemo-nos, com sinceridade,  quanto às próprias  tendências. “Quem não haja varado transes difíceis,  nas áreas do  coração, no período da reencarnação em que se encontre,  investigue as  próprias inclinações e anseios no campo íntimo, e, em sã  consciência,  verificará que não se acha ausente do emaranhado de  conflitos, que  remanescem do acervo de lutas sexuais da Humanidade.”(5)
Por  essas razões, personalizando na mulher sofredora a família humana,   Jesus pronunciou a inesquecível sentença “atire-lhe a primeira pedra”,   convocando os homens, supostamente puros em matéria de sexualidade, a   lançarem sobre a mulher infeliz a primeira pedra.
Em  verdade, quando respeitarmos nosso semelhante em seu foro íntimo, os   conceitos de adultério se farão distanciados do cotidiano, de vez que a   compreensão apaziguará o coração humano e a chamada desventura afetiva   não terá razão de ser, ou seja,  ninguém  trairá  ninguém em  matéria   afetiva.
Abstenhamo-nos, sob qualquer hipótese, de  censurar e condenar seja lá  quem for em matéria de comportamento  sexual. Recordemos que estamos  emergindo de um passado longínquo, em  que estivemos mergulhados nos  labirintos dos desequilíbrios na área  afetiva, a fim de que as bênçãos  do aprendizado se nos fixem na  consciência a Lei do amor. Achamo-nos  muito longe da pureza do coração ,  por isso mesmo, se alguém nos parece  cair, sob enganos do sentimento,  não critiquemos , ao invés disso  silenciemos e oremos a seu benefício.
Para  com qualquer pessoa que se nos afigura desmoronar em delito   sentimental, sejamos caridosos!.Nenhum de nós consegue conhecer-se tão   exatamente, a ponto de saber hoje qual a dimensão da experiência afetiva   que nos espera no futuro. Silenciemos ante as supostas culpas do   próximo, porquanto nenhum de nós, por agora, é capaz de medir a parte de   responsabilidade que nos compete a cada um nas irreflexões e   desequilíbrios dos outros.
Jamais  esqueçamos que todos somos componentes de uma só família  (encarnada e  desencarnada), operando em dois mundos, simultaneamente.  Somos  incapazes de examinar as consciências alheias e cada um de nós,  ante a  Sabedoria Divina, é um caso particular, em matéria de amor,  reclamando  compreensão. “A vista disso, muitos de nossos erros  imaginários no  mundo são caminhos certos para o bem, ao passo que muitos  de nossos  acertos hipotéticos são trilhas para o mal de que nos  desvencilharemos,  um dia!... Abençoai e amai sempre. Diante de toda e  qualquer  desarmonia do mundo afetivo, seja com quem for e como for,  colocai-vos,  em pensamento, no lugar dos acusados, analisando as vossas  tendências  mais íntimas e, após verificardes se estais em condições de  censurar  alguém, escutai, no âmago da consciência, o apelo inolvidável  do  Cristo: "Amai-vos uns aos outros, como eu vos amei.”(6)
Jorge Hessen
http://jorgehessen.net
Referências bibliográficas:
(1)       Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo, item 16, do Cap. X, Rio de Janeiro: Ed FEB, 1991
(2)       João Cp. 8:7
(3)       ______, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo, item 13, do Cap. X, Rio de Janeiro: Ed FEB, 1991
(4)       Xavier, Francisco Cândido. Vida e Sexo, ditado pelo espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed FEB, 2000, Cap. 22
(5)       Idem
(6)       Idem Cap. 26
 
 
 
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