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  • domingo, 14 de junho de 2009

    ANTE A VIOLENCIA DOMÉSTICA É URGENTE A ORAÇÃO NO LAR


    A rigor, as relações familiais deveriam ser, acima de tudo, de ordem ética. Mas, observa-se nelas uma deterioração emocional profunda e uma complexa malha de desestabilidades morais, que nos importa examiná-las. No clã familiar antigo, sem dúvida, encontrava-se um espaço de convivência maior entre seus membros, embora não se esteja discutindo sua qualidade. Na atual arrumação familiar, pelo contrário, e apesar das menores dificuldades materiais, encontra-se um espaço menor. A tecnologia volátil é responsável, quase que diretamente, por essa conjuntura, pois, ocupam-se espaços importantes para assistir televisão, ouvir música [com fone de ouvido], navegar na Internet - e assim por diante. Em face disso, somos instados a confirmar que o instituto familiar necessita de apoio religioso para alcançar seu equilíbrio moral.
    Recentemente, a imprensa divulgou os seguintes fatos: uma jovem, em São Paulo, matou os pais com a ajuda do namorado; um casal atirou um bebê contra um automóvel; um casal jogou menina pela janela do prédio. Nos casos acima, não ignoramos fatores motivadores dos crimes como o uso de drogas, paixões descontroladas, recalques infanto-juvenis, ambição financeira e outros levados a conta de transtornos emocionais e mentais capazes de subtrair, temporariamente, a capacidade de raciocínio e equilíbrio.
    A violência do homem civilizado tem as suas raízes profundas e vigorosas na selva. O homo brutalis tem as suas leis: subjugar, humilhar, torturar e matar. O pragmatismo das sociedades contemporâneas coisificou o homem, o que vale dizer que o nadificou no plano moral. O mesmo indivíduo que se prostra diante das imagens frias dos altares, nos templos suntuosos, volta ao seu posto de mando para ordenar torturas canibalescas. O homem contemporâneo vive atormentado pelo medo, esse inimigo atroz que o assombra, uma vez submetido às contingências da vida atual, de insegurança e de incertezas, resultando em transtornos graves da mente, pela angústia dissolvente da própria individualidade.
    Muitas famílias vivem e revivem agressividades múltiplas, influenciadas pela violência que, insistentemente, é veiculada pelos noticiários, pelos documentários, pelos filmes, pelas torpes telenovelas e pelos programas de auditório (cada vez mais obscuros de valores éticos). Alguns familiares assimilam, subliminarmente, essas informações e, no quotidiano, sobretudo, reagem, violentamente, diante dos reveses da vida ou perante as contrariedades corriqueiras. A brutalidade familiar tem esmaecido, consideravelmente, o caminho para Deus. Há os que condenam a violência alheia, mas, no entanto, no dia-a-dia, ao invés de agirem de forma pacífica e fraterna, são quais andróides, revidando com a mesma moeda as agressividades sofridas. Existem aqueles casais que dizem viver um amor recíproco e, no entanto, quando há qualquer desentendimento entre eles, são extremamente hostis um com o outro. Há os que vêem no cônjuge um verdadeiro teste de paciência, pois os seus "santos" não se "cruzam". Mais ainda, quando o assunto são os filhos, há pais que dizem adorar todos eles, mas os consideram espíritos imaturos, que dão muito trabalho e, não raro, desgostos. A vida em família, nessas condições, transforma-se em verdadeiro tormento. Na verdade, se não os aceitarmos, hoje, como são, teremos de aceitá-los amanhã, pois as leis da vida exigem, segundo nos ensinou Jesus, que nos entendamos com os nossos irmãos de penosa convivência 'enquanto estivermos a caminho com eles'. A fuga aos deveres atuais será paga mais tarde com os juros devidos. Os filhos difíceis são filhos de nossas próprias obras, em vidas passadas, que a Providência Divina, agora, encontra a possibilidade de nos unir pelos laços da consangüinidade, dando-nos a maravilhosa chance de resgate, reparação e os serviços árduos da educação.
    Devemos ensinar a tolerância mais pura, mas não desdenhemos a energia, quando necessária no processo da educação, reconhecida a heterogeneidade das tendências e a diversidade dos temperamentos. "O lar não se fez para a contemplação egoística da espécie, porém, para santuário onde, por vezes, exigem-se a renúncia e o sacrifício de uma existência inteira." (1) Por todas essas razões, precisamos aprender a servir e perdoar; socorrer e ajudar os jovens entre as paredes do lar, sustentando o equilíbrio dos corações que se nos associam à existência e, "se nos entregarmos realmente no combate à deserção do bem, reconheceremos os prodígios que se obtêm dos pequenos sacrifícios em casa por bases da terapêutica do amor." (2)
    Muitos temem a violência. Erguem altos muros com fios eletrificados ao redor de suas residências, tentando evitar que ela (a violência) os atinja. Contratam seguranças para protegerem suas empresas e seus lares. Instalam equipamentos sofisticados que os alertem da chegada de eventuais usurpadores de seus bens. Contudo, existe outro tipo de violência que não damos atenção: é a que está fincada dentro de cada um de nós. Violência íntima, que alguns alimentam, diariamente, concedendo que ela se torne animal voraz. É o ato de indiferença que um elege para apunhalar o outro no relacionamento doméstico, estabelecendo silêncios macabros às interrogações afetuosas. São os cônjuges que, entre si, pactuam com a mudez, como símbolo do desconforto por viverem, um ao lado do outro, como algemados sem remissão. A violência de fora pode nos alcançar, ferir-nos e, até mesmo, magoar-nos profundamente, mas, a violência do coração (interna), silenciosa, que certas pessoas aplicam todos os dias, em seus relacionamentos, é muito mais perniciosa e destruidora. A paz do mundo começa sob o teto a que nos albergamos. "Se não aprendemos a viver em paz, entre quatro paredes, como aguardar a harmonia das nações?" (3)
    O Espiritismo explica que "os que encarnam numa família, podem ser Espíritos simpáticos, ligados por anteriores relações, que se expressam por uma afeição recíproca na vida terrena. Mas, também pode acontecer sejam completamente estranhos uns aos outros esses Espíritos, afastados entre si por antipatias igualmente anteriores, que se traduzem na Terra por um mútuo antagonismo, que aí lhes serve de provação." (4) O apostolado de reajuste há de se iniciar nos pais, porquanto, despertos para a lógica e para o entendimento, são convocados pela sabedoria da vida ao apaziguamento e à renovação. Trazidos à reencarnação para os alicerces dos fenômenos sócio-domésticos, não é somente a relação dos pais para com os filhos que assume caráter de importância, mas, igualmente, a que se verifica dos filhos para com os pais. "Os pais não conseguem penetrar, de imediato, a trama do destino que os princípios cármicos lhes reservam aos filhos, no porvir, e os filhos estão inabilitados a compreender, de pronto, o enredo das circunstâncias em que se mergulharam seus pais, no pretérito, a fim de que pudessem volver do Plano Espiritual ao renascimento no Plano Físico." (5)
    Devemos estar sempre atentos e, incansavelmente, buscando um diálogo franco com os filhos, sobretudo, amando-os, independentemente, de como se situam na escala evolutiva. Coincidentemente, ou não, os jovens mais agressivos são pouco amados pelos pais, sentem-se deslocados no grupo familiar ou se consideram pouco atraentes, etc.. Por estas e muitas outras razões, devemos transmitir segurança aos filhos através do afeto e do carinho constantes. Afinal, todo ser humano necessita ser amado, gostado, mesmo tendo consciência de seus defeitos, dificuldades e de suas reais diferenças.
    Nos primeiros anos de vida dos filhos [mais no período infantil do que na adolescência] é que podemos exercer salutar influência em favor do aprimoramento moral deles, através dos bons conselhos e, o que é mais importante, dos bons exemplos que lhes possamos oferecer. Em extremo, há pais que não têm pelos filhos o carinho e a solicitude que dispensam aos animais (a exemplo das aves e dos mamíferos), já que não titubeiam em dá-los ou mesmo abandoná-los à própria sorte desde a mais tenra idade. Outros, ao contrário, fazem dos filhos verdadeiros ídolos, colocando-os acima de tudo e de todos, inclusive de Deus. Os julgam possuidores de excelsas qualidades, recusando-se a admitir sejam capazes de qualquer ação menos digna. Daí, porque, sempre encontram um meio de justificar-lhes os erros, enxergando-os quais "vítimas inocentes" da maldade do mundo.
    Somos defrontados, em todos os departamentos da família humana, pelas ocorrências da aversão inata. Pais e filhos, irmãos e parentes outros, não raro, se repelem, desde os primeiros contatos. "Pais existem nutrindo antipatia pelos próprios rebentos, desde que esses rebentos lhes surgem no lar, e existem filhos que se inimizam com os próprios pais, tão logo senhoreiam o campo mental, nos labores da encarnação. Arraigado no labirinto de existências menos felizes, decerto que o problema das reações negativas, culpas, remorsos, inibições, vinganças e tantos outros está presente no quadro familiar, em que o ódio acumulado em estâncias do pretérito se exterioriza, por meio de manifestações catalogáveis na patologia da mente."(6)
    A família, para determinadas religiões e sociedades, é algo indissolúvel. Tempos atrás, a manutenção dessas famílias era, somente, para manter aparências de respeito e felicidade. Hoje, observam-se famílias se desfazendo por trivialidades. O que é o ideal? A família de "porta-retratos" ou a família que se dissolve na primeira "tempestade moral"?
    Cabe ao Centro Espírita dimensionar os serviços de suporte à família atual, mas não de forma isolada. Deve o Centro Espírita integrar suas ações com outras instituições, tanto de caráter religioso como social, na busca da melhor qualidade do atendimento individual e coletivo, naturalmente, sem perder sua identidade doutrinária, mas, objetivando o resgate da ordem moral, que deve alicerçar a família como espaço de convivência.
    "O culto do Evangelho é uma forma de reunir a família em torno de um objetivo comum. A comunhão familiar, onde todos conversam, trocam idéias, falam de seus problemas, comentam suas atividades à luz dos ensinamentos de Jesus, representa o mais eficiente estímulo para o estreitamento das ligações afetivas, transformando o lar em porto de segurança e paz, com garantia de equilíbrio e alegria para todos".(7) Quem estuda o Evangelho, e se esforça por praticar seus preceitos, vê-se melhor instrumentalizado para a vida familiar nos tempos atribulados em que vivemos, encontrando conceitos lógicos e racionais para o entendimento da vida numa visão evangélica consciente. O espírita-cristão deve se armar de sabedoria e de amor, para atender à luta que vem sendo desencadeada nos cenários domésticos em geral, concitando à concórdia e ao perdão, em qualquer conjuntura anárquica e perturbadora da vida moderna, pois "quando a família ora, Jesus se demora em casa". (8) É verdade - "quem cultiva o Evangelho em casa, faz da própria casa um templo do Cristo." (9) Logo, é imprescindível praticarmos os Ensinos de Jesus no lar, contribuindo com a parcela de mansidão para pacificá-lo. O homem moderno ainda não percebeu que somente a experiência do Evangelho pode estabelecer as bases da concórdia, da fraternidade e constituir os antídotos eficazes para minimizar a violência que, ainda, avassala o ninho doméstico e deságua na sociedade.
    Portanto, mesmo num ambiente familiar conturbado, onde existe a evidente reunião de Espíritos não afinados, quando se institui a presença de Jesus nesse lar, esse "(...) produz sinais evidentes de paz, e aqueles que antes experimentavam repulsa pelo ajuntamento doméstico descobrem sintomas de identificação, necessidade de auxílio mútuo." (10) "A prece proferida de coração é uma emissão eletromagnética de elevada potência. Por isso, ela se reveste de significativa importância na defesa mento-espiritual do indivíduo e do próprio lar. Os pais que possuem o hábito da prece devem insistir por transferir esse precioso elemento de equilíbrio e proteção psíquica para os filhos, pois necessitamos dessa realimentação vibratória com o Genitor Divino para manter o nosso psiquismo estabilizado nas esferas elevadas, e essa comunhão com o Criador se estabelece através da prece sincera e singela, principalmente, quando proferida e bem sentida no seio familiar, transformando qualquer sombra em alegria e bem estar de todos.


    Jorge Hessen
    E-Mail: jorgehessen@gmail.com
    Site: http://jorgehessen.net
    FONTES:
    (1) XAVIER, Francisco Cândido. O Consolador. Ditado pelo Espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: FEB, 1995
    (2) XAVIER, Francisco Cândido. "Caminhos de Volta" - Espíritos Diversos, SP: IDE 1976
    (3) XAVIER, Francisco Cândido. Jesus No Lar ditado pelo Espírito Néio Lucio, Rio de Janeiro: FEB, 2001
    (4) KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2001, cap. XIV
    (5) XAVIER, Francisco Cândido. Vida e Sexo, Ditado pelo Espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2001
    (6) Idem
    (7) SIMONETTI ,Richard. Temas de Hoje, Problemas de Sempre, SP: ed. Correio Fraterno 1990
    (8) FRANCO, Divaldo Pereira. SOS Família, ditado pelo Espírito Joanna de Angelis, Salvador: Ed. Leal, 2006
    (9) XAVIER, Francisco Cândido. Conduta Espírita, ditado pelo Espírito André Luiz. Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1996, cap. 5
    (10)FRANCO, Divaldo Pereira. Florações Evangélicas, ditado pelo Espírito Joanna de Ângelis, Salvador: Ed. LEAL, 1987, cap.3

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