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  • domingo, 14 de junho de 2009

    A JUVENTUDE DO PÓS-GUERRA - CONFLITO DE GERAÇÕES


    Muito se fala e se especula sobre o modelo analítico comportamental do jovem nas três últimas décadas.
    O homem é por natureza um ser social. Suas relações com o mundo formam os grupos fundamentais da sociedade. A família, a escola, o trabalho, o shopping, o clube etc., retratam bem a necessidade que o homem tem de se relacionar com os outros, em constante reciprocidade. Ninguém vive isolado e ninguém é auto-suficiente.
    Grosso modo, o tipo de grupamento jovem no período proposto está assentado, fundamentalmente, numa base material, conhecida, em várias rodas, por base econômica. Claro que dela se originam os diversos tipos de relações psicossociais, inclusive conflitos urbanos e bélicos. Nessa base, ideologicamente surge o conceito de superestrutura: o Estado, as leis, as religiões, a Filosofia, a cultura, a educação. Surge, enfim, a sociedade, hoje marcada pela cultura hedonista e utilitarista, e pela violência estrutural.
    A economia passa a influir na vida de relação, ou seja, nas idéias em geral, nos comportamentos, no psiquismo individual e coletivo.
    Após a Segunda Guerra Mundial, a Alemanha derrotada era um verdadeiro caos no tecido social e no campo econômico. Seus líderes procuravam reorganizar a Nação, ideologicamente dividida entre duas tendências políticas. Por isso, surgem a Alemanha ocidental e a Alemanha Socialista. Nesse clima, encontramos a mocidade européia, especialmente a alemã, totalmente sem rumo. Sociólogos, pedagogos, psicólogos, especialistas e professores muito se preocuparam com aquela geração de jovens marcada pelos terríveis sofrimentos físicos e morais, resultante de um conflito trágico, testemunhas oculares de uma guerra que começou em setembro de 1939, com a invasão de Hitler à Polônia, e se estendeu até agosto de l945, com as explosões das duas bombas termo-nucleares no Japão.
    A pergunta que aflorava em cada jovem do após-guerra era: e agora, o que vamos fazer de nossas vidas? Já não nos basta trabalhar, ganhar dinheiro, comer, beber, procriar! A vida não pode se constituir somente nisso, conforme escreve Juvanir Borges, no Reformador, de agosto de l994.
    Nesse clima, observamos que os jovens tinham uma certa razão, uma vez que seus conhecimentos e os ensinamentos de suas crenças religiosas não respondiam aos anseios de idealistas construídos nas doloridas repercussões da guerra. Ante essa instabilidade psíquica e ausência de orientação moral-espiritual, tornam-se presas frágeis do materialismo. Em conseqüência, essa geração foi uma geração destroçada.
    A filosofia do existencialismo impulsionou a recondução do jovem à era das cavernas, fazendo-o mergulhar nos subterrâneos das grandes metrópoles e, ali, entregando-se à fuga da consciência e do raciocínio, pela busca do prazer alucinado do gozo imediato. Joanna de Ângelis explica essa situação, afirmando que, da aberração pura e simples a desequilíbrios cada vez mais graves, a juventude desgovernou-se e a filosofia da flor e do amor assumiu proporções alarmantes, convocando homens éticos a atitudes, para elaboração de novos conceitos filosóficos, capazes de frenarem a onda de sexo e erotismo. Era o ressurgimento apoteótico do velho sistema de Diógenes, acrescido pelo superluxo e profundo desinteresse pela vida. O Cinismo irrompeu nas últimas manifestações filosóficas, transformando os alucinógenos ,barbitúricos e benzodiazepínicos em gostosos manjares para as fugas espetaculares da realidade e completo mergulho no "vazio existencial".
    Portanto, a geração do após-guerra foi uma geração confusa, sem norte e esfacelada. A panorâmica internacional da Guerra Fria dos anos 50 forjou a irrupção da nominada juventude transviada nos cenários norte-americanos. Este movimento deu base para a geração da contracultura dos anos 60, por estarem em desacordo com valores tradicionais da classe média americana. Enxergavam o paternalismo governamental, as corporações industriais e os valores sociais tradicionais como parte de um "estabelecimento" único, e que não tinha legitimidade. Portanto a filosofia hippie(*) nada mais era do que a bizarra forma de vida dos diogeanos contemporâneos, no esforço da quebra das amarras vitorianas de maneira contundente. Nos idos dos anos 70, encontramos uma geração com características amargas. No Brasil, vivemos o que alguns chamaram de Anos Rebeldes. A juventude era a resultante de um regime militar e muitos somaram esforços no sentido de transplantar para cá a Revolução Soviética, o que resultou em gravíssimos conflitos ideológicos, numa luta por reivindicações inexpressivas (sem legítimo valor), no tocante a situações econômicas e sociais. Nos anos 80 e 90, houve uma invasão mundial de ideologias bizarras, com o eclodir de atavios de experiências pregressas, e surgem as gangues neonazistas, os bad boys, os Punks. Paralelamente, às buscas desses grupos estranhos, desencadeia-se, do outro lado social, a explosão do consumo com o aparecimento, em profusão, dos centros comerciais. Os meios de comunicação quebraram os valores regionais e introduziram uma cultura uniforme, sem fronteiras. Em face de valores como o amor, a liberdade, a justiça e a fraternidade, que na prática perderam o conteúdo original, surgia uma nova realidade, o CONSUMO, estabelecendo os seus próprios valores: o sucesso e a competição.
    Os empresários descobriram, no jovem imaturo, todo o potencial do consumidor. Segundo levantamentos estatísticos, em apenas 40 anos, o número de jovens entre 15 e 24 anos duplicou; os 500 milhões de l960 são mais de 1 bilhão, nesse novo Século. Toda linha de produção, como discos, roupas, espetáculos, foi concebida a partir deles e para eles. Os personagens que os jovens transformaram em ídolos (Beatles, Mao, Che Guevara, etc.), justamente, porque tinham contestado o sistema, foram-lhes devolvidos, comercializados: pôsteres dos Beatles, camisas com o rosto de Che Guevara, etc.. O consumo transformava a contestação em um produto de consumo e o jovem, em referência de gastança.
    Certa vez, falando sobre conflitos de gerações, o médico inglês Ronald Gibson começou uma conferência citando as seguintes reflexões:
    1)"Nossa juventude adora o luxo, é mal educada, caçoa da autoridade e não tem o menor respeito pelos mais velhos. Nossos filhos, hoje, são verdadeiros tiranos. Eles não se levantam quando uma pessoa idosa entra, respondem aos seus pais e são simplesmente maus."
    2)"Não tenho mais nenhuma esperança no futuro do nosso país, se a juventude de hoje tomar o poder amanhã; porque essa juventude é insuportável, desenfreada, simplesmente horrível."
    3)"Nosso mundo atingiu seu ponto crítico. Os filhos não ouvem mais seus pais. O final do mundo não pode estar muito longe!"
    4)"Essa juventude está estragada até o fundo do coração. Os jovens são malfeitores e preguiçosos. Eles jamais serão como a juventude de antigamente. A juventude de hoje não será capaz de manter a nossa cultura."
    Após ter lido as quatro citações, ficou muito satisfeito com a aprovação que os espectadores davam às frases. Então, revelou a origem delas:
    A primeira é de Sócrates (470-399 a.C.), a segunda é de Hesíodo (720 a.C.), a terceira é de um sacerdote do ano 2000 a.C, e a quarta estava escrita em um vaso de argila descoberto nas ruínas da Babilônia e tem mais de 4000 anos de existência.
    Gibson concluiu que o conflito de gerações é normal e a geração que está sendo substituída sempre tenta diminuir as capacidades da que está ascendendo. Porém, toda juventude tem o poder de transformação e deve usá-lo para criar sociedades mais justas.
    A despeito de tudo isso, acreditamos que, após os processos de aferição e seleção dos valores morais na Terra, em um determinado momento - quiçá não muito longe - a sociedade será contemplada com uma geração de espíritos que, no transcurso da adolescência, pelo plantio da paz, experimentarão a sua essência. Saberão conservar essa paz, com Jesus, no seu mais lídimo ideal.
    (*)O termo derivou da palavra em inglês hipster, que designava as pessoas nos EUA que se envolviam com a cultura negra, e.x.: Harry "The Hipster" Gibson. Em 6 de setembro de 1965, o termo hippie foi utilizado pela primeira vez, em um jornal de São Francisco, um artigo do jornalista Michael Smith. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Hippie acesso em 19-02-08


    Jorge Hessen
    E-Mail: jorgehessen@gmail.com
    Site: http://jorgehessen.net

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