"Mas se alguém não tem cuidado dos seus e principalmente dos da sua família, negou a fé e é pior do que o infiel." (1)
Segundo informações da mídia, existem escolas que estão recriando o famoso "Dia dos Pais", comemorado, tradicionalmente, no segundo domingo do mês de agosto. O fato (recriação) tem o seu nascedouro na diversidade atual das configurações familiares, o que obriga às instituições de ensino inovar a celebração da data para atender à nova realidade familial.
As novas estruturas familiares clamam por medidas alternativas, que obrigam os estabelecimentos de ensino a repensar comemorações tradicionais, e atender, satisfatoriamente, aos casais separados que compartilham a guarda dos filhos, e/ou solteiros que resolvem adotar crianças, evitando-se, assim, situações constrangedoras. Por isso, algumas escolas têm adotado ritos comemorativos heterodoxos que assinalem o chamado "Dia dos Pais". Uma das alternativas encontradas foi criar o "Dia da Família", solenidade em que as crianças levam para a escola os familiares que elas desejarem, e/ou a comemoração do "Mês da Família", evento em que as crianças utilizam desenhos e histórias para que elas expressem suas vivências familiares no ambiente escolar durante o mês. (2)
O tema nos remete a refletir sobre a família. Sabemos que a família é a célula mais importante do organismo social. É constituída por inúmeras regras sociais e modelos comportamentais que integram seus membros em um sistema dignificador de desenvolvimento e de conquistas, cuja principal função é aprimorar o Espírito, lapidando as arestas das imperfeições e sutilizando o sentimento de amor, para que os indivíduos se mantenham ajustados em favor da ordem, do progresso e do bem-estar de toda a sociedade. Sendo o núcleo natural e fundamental da sociedade, a família tem direito à proteção, não só do Estado, mas, da própria sociedade, igualmente. Desse fato, defluem conclusões evidentes: primeiro, que a família não é só aquela, tradicionalmente, constituída pelo casamento, tendo os mesmos direitos as demais entidades familiares socialmente constituídas; segundo, que ela (a família) não é célula do Estado (domínio da política), mas da sociedade civil, não podendo o Estado tratá-la como parte sua; a família é concebida como espaço de realização da dignidade das pessoas humanas.
Outro fato importante, e que merece destaque, é a emancipação feminina, principalmente econômica e profissional, que modificou, substancialmente, o papel que era destinado à mulher no âmbito doméstico e remodelou a família. A família está se adaptando às novas circunstâncias, assumindo um papel mais concentrado na qualidade das relações pessoais e nas aspirações para uma vida mais feliz. Destarte, nesse contexto, a família sofreu, nas últimas décadas, profundas mudanças de função, natureza, composição e, conseqüentemente, de concepção. A família patriarcal, que nossa tradição tomou como modelo, ao longo do século XX, entrou em crise, culminando com sua derrocada. E não há como desconhecermos que a família atual está matrizada em um fundamento emocional: a afetividade. Desse modo, enquanto houver affectio haverá família, unida por laços de liberdade e responsabilidade, desde que consolidada na simetria, na colaboração, na comunhão de vida não hierarquizada. Portanto, a realização pessoal da afetividade e da dignidade humana, no ambiente de convivência e solidariedade, passa a ser função básica da família de nossa época.
Por outro lado, vale neste ponto analisar que estamos numa etapa histórica de profundas transformações, em que os valores, que regem a sociedade, estão sendo questionados. "Como nos dias atuais nunca se buscou tanto o prazer e a satisfação doentia das paixões, contudo, ao mesmo tempo, nunca se sentiu tanta falta de orientação e amparo à família que possam preparar o homem para a modernidade, sem levá-lo à bancarrota moral." (3) Portanto, a família está se modificando e, atualmente, tal metamorfose tem se tornado preocupante, pois muitas vezes a sociedade não está preparada para tal, assim como seus membros podem não estar preparados, psiquicamente, para enfrentar os apelos da sociedade.
Em Allan Kardec temos magistral questão: "Pode considerar-se como missão a paternidade? É, sem contestação possível, uma verdadeira missão. É ao mesmo tempo grandíssimo dever e que envolve, mais do que o que pensa o homem, a sua responsabilidade quanto ao futuro". (4) É comum, hoje, e muito preocupante, os filhos terem convivência com apenas um dos genitores devido à separação judicial (divórcio), pois a relação da criança com um(a) único(a) genitor(a) pode se transformar em um vínculo de exclusividade causado pela superproteção do(a) mesmo(a), principalmente em se tratando de filhos únicos, não havendo lugar para mais um(a) na relação e causando à criança uma dificuldade de compartilhar afeto com os outros. Para tanto, é muito importante a rede social, pois, assim, é possível ampliar seus vínculos afetivos, permitindo um intercâmbio de afeição com outra criança, vivenciando a experiência gratificante do amor fraterno. Conforme preceitua a Doutrina Espírita, devemos começar, na intimidade do templo doméstico, a exemplificação dos princípios que esposamos, "com sinceridade e firmeza, uniformizando o próprio procedimento, dentro e fora dele, posto que a fé espírita no clima da família é a fonte do Espiritismo no campo social." (5)
Voltando à questão familiar e de parentela, a rigor, devemos "melhorar, sem desânimo, os contactos diretos e indiretos com os pais, irmãos, tios, primos e demais parentes, nas lides do mundo, para que a vida não venha a nos cobrar novas e mais enérgicas experiências em encarnações próximas. O cumprimento do dever, criado por nós mesmos, é lei do mundo interior a que não poderemos fugir." (6) A família é uma reunião espiritual no tempo, e, por isso mesmo, o lar é um santuário. Muitas vezes, mormente na Terra, vários de seus componentes se afastam da sintonia com os mais altos objetivos da vida; todavia, "quando dois ou três de seus membros aprendem a grandeza das suas probabilidades de elevação, congregando-se intimamente para as realizações do espírito eterno, são de esperar maravilhosas edificações." (7) O ínclito mentor Emmanuel, nos chama a atenção, dizendo que "a família consangüínea, entre os homens, pode ser apreciada como o centro essencial de nossos reflexos. Reflexos agradáveis ou desagradáveis que o pretérito nos devolve. "(8)
A estrutura familiar tem suas matrizes na esfera espiritual. Em seus vínculos, juntam-se todos aqueles que se comprometeram, no Além, a desenvolver na Terra uma tarefa construtiva de fraternidade real e definitiva. Preponderam nesse instituto divino os elos do amor, fundidos nas experiências de outras eras. Todavia, aí acorrem, igualmente, os ódios e as perseguições do pretérito obscuro, a fim de se transfundirem em solidariedade fraternal, com vistas ao futuro. "É nas dificuldades provadas em comum, nas dores e nas experiências recebidas na mesma estrada de evolução redentora, que se olvidam as amarguras do passado longínquo, transformando-se todos os sentimentos inferiores em expressões regeneradas e santificantes. Purificadas as afeições, acima dos laços do sangue, o sagrado instituto da família se perpetua no Infinito, através dos laços imperecíveis do Espírito. (9)
Jorge Hessen
E-Mail: jorgehessen@gmail.com
Site: http://jorgehessen.net
FONTES:
1- Cf. Timóteo, capítulo 5, versículo 8.
2- Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2006, cerca de 35% das famílias eram monoparentais - tinham só um dos responsáveis. Esse índice, há uma década, ficava em 23%. No mesmo período, o porcentual de uniões legais em que pelo menos um dos cônjuges é divorciado passou de 9% para 13%.
3- Fonte: A voz da Serra em 14/08/2005 - disponível no site www.avozdaserra.com.br/colunas/espirita.php> acesso 09-11-08
4- Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Ed. FEB 2001, Questão 582
5- Vieira, Waldo. Conduta Espírita. Ditado pelo Espírito André Luiz. 21a edição. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1998.
6- Idem
7- Xavier, Francisco Cândido. No Mundo Maior , ditado pelo espírito André Luiz - Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1947)
8- Xavier, Francisco Cândido. Palavras de Emmanuel, ditado pelo espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: FEB, 2002
9- Xavier, Francisco Cândido. O Consolador - ditado pelo espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: FEB, 2001
Segundo informações da mídia, existem escolas que estão recriando o famoso "Dia dos Pais", comemorado, tradicionalmente, no segundo domingo do mês de agosto. O fato (recriação) tem o seu nascedouro na diversidade atual das configurações familiares, o que obriga às instituições de ensino inovar a celebração da data para atender à nova realidade familial.
As novas estruturas familiares clamam por medidas alternativas, que obrigam os estabelecimentos de ensino a repensar comemorações tradicionais, e atender, satisfatoriamente, aos casais separados que compartilham a guarda dos filhos, e/ou solteiros que resolvem adotar crianças, evitando-se, assim, situações constrangedoras. Por isso, algumas escolas têm adotado ritos comemorativos heterodoxos que assinalem o chamado "Dia dos Pais". Uma das alternativas encontradas foi criar o "Dia da Família", solenidade em que as crianças levam para a escola os familiares que elas desejarem, e/ou a comemoração do "Mês da Família", evento em que as crianças utilizam desenhos e histórias para que elas expressem suas vivências familiares no ambiente escolar durante o mês. (2)
O tema nos remete a refletir sobre a família. Sabemos que a família é a célula mais importante do organismo social. É constituída por inúmeras regras sociais e modelos comportamentais que integram seus membros em um sistema dignificador de desenvolvimento e de conquistas, cuja principal função é aprimorar o Espírito, lapidando as arestas das imperfeições e sutilizando o sentimento de amor, para que os indivíduos se mantenham ajustados em favor da ordem, do progresso e do bem-estar de toda a sociedade. Sendo o núcleo natural e fundamental da sociedade, a família tem direito à proteção, não só do Estado, mas, da própria sociedade, igualmente. Desse fato, defluem conclusões evidentes: primeiro, que a família não é só aquela, tradicionalmente, constituída pelo casamento, tendo os mesmos direitos as demais entidades familiares socialmente constituídas; segundo, que ela (a família) não é célula do Estado (domínio da política), mas da sociedade civil, não podendo o Estado tratá-la como parte sua; a família é concebida como espaço de realização da dignidade das pessoas humanas.
Outro fato importante, e que merece destaque, é a emancipação feminina, principalmente econômica e profissional, que modificou, substancialmente, o papel que era destinado à mulher no âmbito doméstico e remodelou a família. A família está se adaptando às novas circunstâncias, assumindo um papel mais concentrado na qualidade das relações pessoais e nas aspirações para uma vida mais feliz. Destarte, nesse contexto, a família sofreu, nas últimas décadas, profundas mudanças de função, natureza, composição e, conseqüentemente, de concepção. A família patriarcal, que nossa tradição tomou como modelo, ao longo do século XX, entrou em crise, culminando com sua derrocada. E não há como desconhecermos que a família atual está matrizada em um fundamento emocional: a afetividade. Desse modo, enquanto houver affectio haverá família, unida por laços de liberdade e responsabilidade, desde que consolidada na simetria, na colaboração, na comunhão de vida não hierarquizada. Portanto, a realização pessoal da afetividade e da dignidade humana, no ambiente de convivência e solidariedade, passa a ser função básica da família de nossa época.
Por outro lado, vale neste ponto analisar que estamos numa etapa histórica de profundas transformações, em que os valores, que regem a sociedade, estão sendo questionados. "Como nos dias atuais nunca se buscou tanto o prazer e a satisfação doentia das paixões, contudo, ao mesmo tempo, nunca se sentiu tanta falta de orientação e amparo à família que possam preparar o homem para a modernidade, sem levá-lo à bancarrota moral." (3) Portanto, a família está se modificando e, atualmente, tal metamorfose tem se tornado preocupante, pois muitas vezes a sociedade não está preparada para tal, assim como seus membros podem não estar preparados, psiquicamente, para enfrentar os apelos da sociedade.
Em Allan Kardec temos magistral questão: "Pode considerar-se como missão a paternidade? É, sem contestação possível, uma verdadeira missão. É ao mesmo tempo grandíssimo dever e que envolve, mais do que o que pensa o homem, a sua responsabilidade quanto ao futuro". (4) É comum, hoje, e muito preocupante, os filhos terem convivência com apenas um dos genitores devido à separação judicial (divórcio), pois a relação da criança com um(a) único(a) genitor(a) pode se transformar em um vínculo de exclusividade causado pela superproteção do(a) mesmo(a), principalmente em se tratando de filhos únicos, não havendo lugar para mais um(a) na relação e causando à criança uma dificuldade de compartilhar afeto com os outros. Para tanto, é muito importante a rede social, pois, assim, é possível ampliar seus vínculos afetivos, permitindo um intercâmbio de afeição com outra criança, vivenciando a experiência gratificante do amor fraterno. Conforme preceitua a Doutrina Espírita, devemos começar, na intimidade do templo doméstico, a exemplificação dos princípios que esposamos, "com sinceridade e firmeza, uniformizando o próprio procedimento, dentro e fora dele, posto que a fé espírita no clima da família é a fonte do Espiritismo no campo social." (5)
Voltando à questão familiar e de parentela, a rigor, devemos "melhorar, sem desânimo, os contactos diretos e indiretos com os pais, irmãos, tios, primos e demais parentes, nas lides do mundo, para que a vida não venha a nos cobrar novas e mais enérgicas experiências em encarnações próximas. O cumprimento do dever, criado por nós mesmos, é lei do mundo interior a que não poderemos fugir." (6) A família é uma reunião espiritual no tempo, e, por isso mesmo, o lar é um santuário. Muitas vezes, mormente na Terra, vários de seus componentes se afastam da sintonia com os mais altos objetivos da vida; todavia, "quando dois ou três de seus membros aprendem a grandeza das suas probabilidades de elevação, congregando-se intimamente para as realizações do espírito eterno, são de esperar maravilhosas edificações." (7) O ínclito mentor Emmanuel, nos chama a atenção, dizendo que "a família consangüínea, entre os homens, pode ser apreciada como o centro essencial de nossos reflexos. Reflexos agradáveis ou desagradáveis que o pretérito nos devolve. "(8)
A estrutura familiar tem suas matrizes na esfera espiritual. Em seus vínculos, juntam-se todos aqueles que se comprometeram, no Além, a desenvolver na Terra uma tarefa construtiva de fraternidade real e definitiva. Preponderam nesse instituto divino os elos do amor, fundidos nas experiências de outras eras. Todavia, aí acorrem, igualmente, os ódios e as perseguições do pretérito obscuro, a fim de se transfundirem em solidariedade fraternal, com vistas ao futuro. "É nas dificuldades provadas em comum, nas dores e nas experiências recebidas na mesma estrada de evolução redentora, que se olvidam as amarguras do passado longínquo, transformando-se todos os sentimentos inferiores em expressões regeneradas e santificantes. Purificadas as afeições, acima dos laços do sangue, o sagrado instituto da família se perpetua no Infinito, através dos laços imperecíveis do Espírito. (9)
Jorge Hessen
E-Mail: jorgehessen@gmail.com
Site: http://jorgehessen.net
FONTES:
1- Cf. Timóteo, capítulo 5, versículo 8.
2- Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2006, cerca de 35% das famílias eram monoparentais - tinham só um dos responsáveis. Esse índice, há uma década, ficava em 23%. No mesmo período, o porcentual de uniões legais em que pelo menos um dos cônjuges é divorciado passou de 9% para 13%.
3- Fonte: A voz da Serra em 14/08/2005 - disponível no site www.avozdaserra.com.br/colunas/espirita.php> acesso 09-11-08
4- Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Ed. FEB 2001, Questão 582
5- Vieira, Waldo. Conduta Espírita. Ditado pelo Espírito André Luiz. 21a edição. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1998.
6- Idem
7- Xavier, Francisco Cândido. No Mundo Maior , ditado pelo espírito André Luiz - Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1947)
8- Xavier, Francisco Cândido. Palavras de Emmanuel, ditado pelo espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: FEB, 2002
9- Xavier, Francisco Cândido. O Consolador - ditado pelo espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: FEB, 2001
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