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  • domingo, 14 de junho de 2009

    MORTES ANTECIPADAS


    Não raras vezes, encontramos famílias em que desencarnam crianças e jovens enquanto os idosos permanecem encarnados. Há, também, muitas existências que são frustradas desde o berço, "não por simples punição da natureza, mas porque a própria Lei Divina funciona em todos nós, desde que todos existimos no hausto do Criador."(1) Há aqueles que passam pela experiência, porém, revoltam-se e blasfemam: "Deus não é justo, pois sacrifica o que tem todo o futuro pela frente, para conservar os que já viveram longos anos".(2) Em razão desses fatos, Kardec indagou aos espíritos "Qual a utilidade das mortes prematuras?" (3) - explicaram os Benfeitores - "As mais das vezes servem como provação para os pais."(4) Todavia, alguns insistem em dizer que é uma terrível tragédia ver uma vida, tão cheia de esperanças, ser ceifada prematuramente! Porém, a quais "esperanças" se referem? Aos lauréis acadêmicos, onde aquele que desencarnou poderia fazer-se admirar, conquistar uma brilhante carreira, fama e fortuna? "Sempre essa visão estreita, que não consegue elevar-se acima da matéria! Sabemos qual teria sido o destino dessa vida, tão cheia de esperanças, segundo entendemos? Será que é mais importante um lugar de destaque entre os homens que entre os Espíritos bem-aventurados? (5)
    Pacifiquemos a consciência em vez de chorar, quando for da vontade de Deus retirar um de nossos filhos deste planeta de expiações acérrimas. "Não seria egoísmo desejar que ele fique para sofrer conosco? Ah! Essa dor se concebe entre os que não têm fé e que vêem na morte a separação eterna." (6) Para ajuizarmos qualquer situação com imparcialidade, é importante que lhe identifiquemos as conseqüências com base em algumas variáveis que procedem da razão. Dessa maneira, para melhor apreciarmos o que, a rigor, é bom ou ruim para nós, é indispensável que nos transportemos para além da vida material, porque, é na dimensão espiritual que as conseqüências se fazem sentir.
    Na vida física, há muitas viciações que levam as criaturas à subjugação a pessoas e situações, arruinando-lhes o próprio corpo ou os aniquilando, impondo-lhes a morte prematura. Com o acicate da consciência, provocam processos degenerativos e desajustes nos centros essenciais do corpo perispiritual, notadamente naqueles que comandam as estruturas funcionais: do córtex encefálico, das glândulas endocrínicas, da organização emotiva e do sistema hematopoético (formação e desenvolvimento das células sanguíneas).
    Em razão do impacto da desencarnação, prematuramente provocada, os recursos do universo psicossomático entram em colapso, sob traumatismo profundo, para o qual não há termo correlato na diagnose humana. A prática de comportamentos de risco à saúde e à própria vida (inatividade física, tabagismo, dieta inadequada, abuso de bebidas alcoólicas e conduzir veículos automotores de forma imprudente, etc.) é responsável por uma significativa aceleração do tempo, antecipando a morte física. Cometem o que poderíamos nominar de "suicídio não intencional", os que se entregam a todos os tipos de vícios; são ainda suicidas involuntários os glutônicos (que não comem para viver, mas vivem para comer), ocasionando acúmulo de substâncias deletérias ao organismo (colesterol, glicose, lipídios, etc.), propiciando o desencadeamento de doenças (arteriosclerose, diabete, obesidade, etc.), com todas as suas sequelas, e que levam, inevitavelmente, ao óbito antecipado.
    Fazemos, aqui, um breve parênteses sobre o tabagismo. Sabemos que, se alguém fuma excessivamente, o cigarro pode desencadear um enfisema ou um câncer de pulmão, por exemplo, se existirem causas predisponentes ou, em caso contrário, surgirem, sem que tivesse havido qualquer eleição anterior do reencarnado ou da espiritualidade; a consequência inevitável, a morte prematura, também não correspondente a um processo estabelecido no planejamento da recorporificação do Espírito. O mau uso de seu livre arbítrio é o que determina aquela fatalidade, o infortúnio. Além dos problemas pulmonares, um levantamento efetuado nos Estados Unidos, na década de 90, por pesquisadores da área de saúde pública, "apontou o fumo como o principal fator de risco para antecipar o dia da morte, provocada por todos os tipos de doenças cardiovasculares (principal causa de morte prematura nos países industrializados)."(7)
    Historicamente, o compositor Frederico Chopin revelou, precocemente, uma genialidade para a música e se tornou um dos mais celebrados compositores do período Romântico, deixando uma obra artística profunda, sólida, carregada de emotividade e beleza sutil. Entretanto, levou uma vida, até certo ponto, desregrada, que, aliada a uma saúde frágil, fez com que tivesse uma desencarnação antecipada aos 39 anos. Na década de 30, Chopin inicia uma aproximação espiritual com a médium Yvonne Pereira, deixando uma profunda marca na vida dessa notável espírita, registrada em sua obra "Devassando o Invisível". As considerações tecidas por Yvonne merecem profunda meditação, pois, para ela, "Chopin revelou que sua missão falhou, em parte, por ter dado atenção, de modo exclusivo, ao campo artístico, esquecendo de desenvolver, de modo mais pleno, o amor a si próprio e ao semelhante, portanto, sua entrega, sem relutância, aos costumes e excessos da época, ocasionou sua morte prematura, o que lhe valeu a situação de suicida inconsciente no Mundo Espiritual." (8)
    Concebemos que muitas situações, que denominamos de infelicidade, segundo acanhadas interpretações, cessam com a vida física e encontram a sua compensação na vida além-túmulo. Será verdade isso? A Doutrina Espírita conceitua a infelicidade sob um prisma diferente, ou seja: no reverso do conceito de felicidade, isto é: infelicidade pode ser a alegria, o prazer, a vã agitação, a satisfação louca da vaidade, que fazem calar a consciência, que comprimem a ação do pensamento, que atordoam o homem com relação ao seu futuro. É o ópio do esquecimento que ardentemente procuramos conseguir. " (9) A Deus não se engana; não se foge ao destino; nós é que espreitamos o prazer do repouso ilusório e nos deparamos imergindo, de súbito, na agonia da verdadeira infelicidade, naquela que surpreende a alma amolentada pela consciência de culpa , pela indiferença e pelo egoísmo.
    Na vida, tudo tem nexo causal, isto é, uma relação que une a causa ao efeito, o que equivale a afirmar que o acaso não deve constar do dicionário espírita. Portanto, todas as dores e dissabores que nos alcançam, analisando-os melhor, sempre encontraremos neles "a razão divina, razão regeneradora, e nossos interesses representarão uma consideração secundária, que relegaremos ao último plano." (10) Muitas vezes, "a morte é preferível, mesmo numa encarnação de vinte anos, a esses desregramentos vergonhosos [explicam os Espiritos] que desolam as famílias respeitáveis, ferem um coração de mãe, e fazem branquear, antes do tempo, os cabelos dos pais." (11) Aquele que desencarna na flor da idade não é uma vítima da fatalidade, pois Deus julga que não lhe será útil permanecer, por mais tempo, na Terra.
    Em verdade, a morte prematura, tanto pode estar vinculada a erro grave desta existência, ou a faltas de existência pretérita. A exemplo das almas culpadas, que transgrediram a Lei geral que vige os destinos das criaturas e retornam à carne, para recomporem a consciência ante o deslize, encontram-se, irrefutavelmente, os ex-suicidas (conscientes ou inconscientes) que necessitam do contato com os fluidos materializados do planeta, para refazerem a sutil estrutura eletromagnética de seu corpo espiritual. Há casos de desencarnações precoces que não estão inseridos no processo de resgate do passado delituoso e configuram sim, ações meritórias de Espíritos missionários que renascem para viverem poucos anos em contato com a carne em função de tarefas espirituais relevantes. É o que afirma André Luiz: "Conhecemos grandes almas que renasceram na Terra por brevíssimo prazo, simplesmente com o objetivo de acordar corações queridos para a aquisição de valores morais, recobrando, logo após o serviço levado a efeito, a respectiva apresentação que lhes era costumeira." (12)
    Aos espíritas, que já compreendem a vida espiritual, auscultem seu coração, e vejam os viciados, não como delinquentes, mas, como pessoas que se enfraqueceram diante da vida. "E se pedirmos a Deus para os abençoar, sentiremos em nós mesmos a consolação poderosa que faz secarem as lágrimas, e essas aspirações sedutoras, que nos mostram o futuro prometido pelo soberano Senhor."(13)


    Jorge Hessen
    E-Mail: jorgehessen@gmail.com
    Site: http://jorgehessen.net
    FONTES:
    (1)Estudo sobre Morte das crianças em tenra idade e dos Jovens disponível em http://www.guia.heu.nom.br/morte_de_crian%C3%A7as_e_jovens.htm, acesso em 18-02-09
    (2)Kardec, Allan. Evangelho Segundo o Espiritismo, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2001, Cap. V - Bem Aventurados os Aflitos
    (3)Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Ed FEB, 2001 questão n° 346 a 347
    (4)idem:
    (5)Kardec, Allan. Evangelho Segundo o Espiritismo, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2001,Cap. 5 - IV - Perda de Pessoas Amadas e Mortes Prematuras
    (6)idem
    (7)Disponível no site http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-89102001000600009
    (8)PEREIRA, YVONNE A. Devassando o Invisível. 6a Ed. Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1985
    (9)Kardec, Allan. Evangelho Segundo o Espiritismo, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2001 Delfina de Girardin. (Paris, 1861.)
    (10)Kardec, Allan. Evangelho Segundo o Espiritismo, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2001,Cap. 5 - IV - Perda de Pessoas Amadas e Mortes Prematuras
    (11)idem
    (12)Xavier, Francisco Cândido. Entre a Terra e o Céu, ditado pelo Espírito André Luiz, Rio de Janeiro: Ed FEB 1988 Xavier
    (13)Kardec, Allan. Evangelho Segundo o Espiritismo, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2001,Cap. 5 - IV - Perda de Pessoas Amadas e Mortes Prematuras

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