Sabemos que toda ideia,
cuja estrutura se mostra modificada em relação à anterior, ou seja, inovadora,
gera dissidências. Com o Espiritismo não haveria de ser diferente. No Brasil, a
discussão sobre o tema é antiga. Desde o início do Movimento Espírita Brasileiro,
duas linhas de debates doutrinários se formaram: a dos laicos, também chamados
de "científicos" e a dos "místicos", liderados por Bezerra
de Menezes, que, com seu carisma e espírito de liderança, foi um ardente propagador
das ideias Espíritas. Esse eminente apóstolo da paz e da caridade e seus
seguidores triunfaram sobre seus antagonistas, hegemonizando o movimento
espírita com maior ênfase do Evangelho.
Muitos irmãos usam
indevida e erradamente o nome de Allan Kardec para tentar impor a ideia de que
a Doutrina Espírita é apenas uma Ciência. É Ciência, sim!! Filosofia, também!!
Mas, acima de tudo, tem por base principal, a indestrutível moral do Cristo.
Portanto, é religião, sobretudo!! Chega a ser supérfluo, porém, insistamos, com
serenidade e bom senso, nos argumentos de reforço sobre a questão.
Os princípios
Espíritas estão expressos de maneira completa em O Livro dos Espíritos, por seu
aspecto filosófico; em O Livro dos Médiuns, por seu aspecto fenomênico e experimental,
e em O Evangelho Segundo o Espiritismo, por seu aspecto moral-religioso. Num
discurso pronunciado na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, em 1º de
novembro de 1868, Kardec afirmou: "O
laço estabelecido por uma religião, seja qual for seu objetivo, é um elo
essencialmente moral que liga os corações, que identifica os pensamentos, as
aspirações, e não é só o fato de compromissos materiais que se rompem à
vontade, ou do cumprimento de fórmulas que falam mais aos olhos do que ao
espírito. O efeito desse elo moral é estabelecer entre os que ele une a
fraternidade e a solidariedade, a indulgência e a benevolência, a religião da
família (1)
Ressalte-se que a Doutrina Espírita não comporta casta
sacerdotal com seu cortejo de hierarquias, de cerimônias e de privilégios.
Considere-se que o Espiritismo não é religião no sentido banal do termo, pois
não tem culto material exterior, nem sacerdócio organizado. Não adota
cerimônias de espécie alguma, não tem rituais, nem velas, nem vestes especiais,
nem qualquer simbologia, sem atos sacramentais. Não adota ornamentação para
cultos, nem gestos de reverência, nem sinais cabalísticos, nem benzeduras, nem
talismãs, nem defumadores, nem cânticos cerimoniosos (ladainhas, danças
ritualísticas, etc.), nem bebida alcoólica, nem oferendas etc.
Distante desse
"culto exterior", da "organização hierárquica", da chefia
humana, a Doutrina Espírita coloca o "amai-vos uns aos outros"(2) de
Jesus, corporificado na legítima prática moral-religiosa. O Espírito São Luís,
em O Livro dos Espíritos, na Questão 1.010 (a), lembra que "os espíritos,
não vêm subverter a religião, como alguns o pretendem. Vêm, ao contrário,
confirmá-la, sancioná-la por provas irrecusáveis. Daqui a algum tempo, muito
maior será do que é hoje o número de pessoas sinceramente religiosas e
crentes."(3).
O ilustre filho de
Lyon , em O Livro dos Médiuns - Capítulo III, Do Método, Item 24, ainda
assevera com todas as letras "Espiritismo repousa sobre as bases
fundamentais da religião e respeita todas as crenças; um de seus efeitos é
incutir sentimentos religiosos nos que os não possuem, fortalecê-los nos que os
tenham vacilantes."(4) Os inimigos da doutrina (encarnados e
desencarnados) objetivam o aprisionamento mental e a escravidão psíquica dos
desatentos às ideias esdrúxulas que enxertam no corpo doutrinário. Em verdade,
a ausência de humildade, em não se deixar conduzir pelas orientações doutrinárias
, é prova explícita de que almejam a destruição do M.E.B. Movimento Espírita
Brasileiro, desacreditando o Espiritismo, para retardar a implantação
definitiva do Consolador na Terra.
Será que o
Espiritismo depende de prosélitos cientificistas? Emmanuel, em O Consolador,
enfatiza que não! Lembrando que “a direção do Espiritismo pertence ao Cristo e
seus prepostos, antes de qualquer esforço humano, precário e perecível e somente
o cristianismo restaurado pode salvar o mundo que se perde. Nossa missão é
essencialmente religiosa, na restauração da fé viva e na revivência das
tradições simples dos tempos apostólicos. Não temos a presunção de pedir o
atestado de óbito das escolas religiosas, nem desejamos estabelecer a luta
dogmática e o sectarismo. Desejamos tão-só reavivar a crença pura, a fim de que
o homem, na qualidade de herdeiro divino, possa entrar na glória espiritual da
compreensão de Jesus Cristo".(5)
As falanges das
trevas (encarnados e desencarnados) são muito poderosas e organizadas. O que
elas desejam é abolir o Evangelho do Espiritismo e, a se confirmar essa ignóbil
ideia, a Doutrina Espírita desaparecerá. Têm surgido, ultimamente, muitas
práticas estranhas ao M.E.B. Movimento Espírita Brasileiro, motivo por que
precisamos salvaguardar esse tesouro e preservá-lo, obrigatoriamente, contra as
influências ideológicas que buscam adulterar o seu legítimo valor. Até porque,
se incorporamos por ideal o Espiritismo Cristão, não lhe devemos negar
fidelidade. O Espiritismo surgiu para que todos se ajustem à moral do Cristo e,
fundamentalmente, para "religar" o homem a Deus.
Espiritismo então
é uma religião? Obviamente que o é, como confirma “filosoficamente” Kardec
" o Espiritismo é uma religião e nós nos ufanamos disso."(6) Nesse
sentido, cabe ressaltar que o aspecto religioso foi desenvolvido por Kardec em
o "Evangelho Segundo o Espiritismo" e na obra "O Céu e o Inferno" ou a Justiça
Divina Segundo o Espiritismo.
Jorge Hessen
jorgehessen@gmail.com
Referências
bibliográficas:
1
Kardec ,Allan . Discurso pronunciado na Sociedade Parisiense de Estudos
Espíritas, em 1º de novembro de 1868
2
Jo 15, 12
3
Kardec,Allan. O livro dos Espíritos, Rio de janeiro: Ed FEB 1988, Questão 1.010
4
______ ,Allan ,O Livro dos Médiuns, Rio de janeiro: Ed FEB 1998, Capítulo III,
Do Método, Item 24
5
Xavier, Francisco Cândido. O Consolador, ditado pelo Espírito Emmanuel, Rio de
Janeiro: Ed FEB, 2000
6
______,Allan. Artigo : “É o Espiritismo uma Religião?”, conforme publicada
na Revista Espírita , dezembro de 1968
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