Na
esteira da História, não há a menor dúvida de que o Século XX engendrou os
pilotis de sustentação da pesquisa científica, ainda que ao jugo de uma radical
estrutura eclesiástica, que se viu obrigada a se adequar aos tempos modernos,
pois a Ciência deveria cumprir-se nos santuários da Natureza, para produzir um
Mundo melhor e ampliar a compreensão do próprio ser humano.
Porém,
essa mesma ciência subjugou o cientista de maneira a deixá-lo à mercê de sua
própria impotência. Além do que, os ilustres "cérebros" do mundo -
desde 1945, foram proscritos dos países pobres para os ricos em face de
problemas de ordem econômica.
As
Ciências alcançaram notável desenvolvimento, verdadeiramente espantosos, assim
que houve a associação entre a investigação científica e o desenvolvimento
tecnológico.
A
Genética foi sendo pesquisada até que se chegou à unidade básica, o DNA, que
esclarece como é transmitida ou modificada a hereditariedade. No
desenvolvimento prático dessa grande descoberta, os biólogos decifram o genoma
humano, patrimônio genético de cada indivíduo. Surge, então, a Engenharia
Genética, possibilitando a clonagem. Daí, pergunta-se: até que ponto podemos
manipular a vida, ou mesmo criá-la?
A
medicina, inegavelmente, foi extremamente beneficiada pelas ciências físico-químico-biológicas:
os transplantes de órgãos; a penicilina; a vacina contra a poliomielite. No
entanto, o que dizer da Aids, do Câncer, e de tantas outras doenças ainda
incuráveis? A Física comparece com as descobertas revolucionárias de Albert Einstein,
com a teoria da relatividade, que estimulou o desenvolvimento de complexas
teorias matemáticas, e de Max Planck, com a mecânica quântica, que, entre 1924
e 1927 dá um golpe mortal na Física Newtoniana. A manipulação dessas energias
acabou por produzir o lixo atômico. Por outro lado, quais os danos possíveis ao
meio ambiente e, consequentemente à Humanidade?
O
conceito de antimatéria passa a ser manipulado pelos especialistas desde 1928.
Nesse rumo, a simples terminologia implicava uma recusa deliberada a deixar que
o progresso do cálculo teórico fosse desviado por qualquer ideia preconcebida
da realidade. A matéria foi destrinçada até as doze subdivisões do átomo, tendo
o neutrino como uma das mais impressionantes subpartículas dos elementos que se
agitam na intimidade do átomo. A conceituação do verbete "matéria"
torna-se desafiadora, quando se define o neutrino como "algo" que não
tem massa, não tem campo elétrico, não tem campo de magnetismo, mas é
matéria!!! Sobre isso, perguntaram a Einstein: "O que é matéria?"
Ele, então, respondeu: "Matéria é energia condensada; energia é matéria
desagregada; e o homem é um conjunto de elétrons regido pela consciência".
Poderiam
os físicos conviver com a permanente contradição? Niels Bohr arrosta o desafio
e expressa que não havia como traduzir a totalidade da matéria numa descrição monoide,
até mesmo, em face de um grave complicador chamado "linguagem
humana".
No
debate sobre o tema não se podia ignorar o conflito gerado entre Ciência e
Religião, até porque, o próprio Vaticano se viu forçado a se comunicar via
satélite; pastores evangélicos se assenhorearam de poderosos veículos de
comunicação (televisão, jornal, revista, INTERNET, etc.) e várias outras seitas
e doutrinas estruturadas se locupletam à saciedade com as conquistas
técnico-científicas.
Hobsbawm
(1) atesta que o Século XX desfechou em bases de problemas desafiadores, por
ausência de perspectiva de sistema ou estrutura internacional. O século XX se
consubstanciara de guerras mundiais, quentes ou frias, feitas por grandes
potências e seus aliados, em cenários de destruição em massa, cada vez mais
apocalípticos.
O
século XX acabou numa desordem global cuja natureza não estava clara e sem um
mecanismo óbvio para acabar com ela, ou mantê-la sob controle.
Foi
um período de guerras religiosas, embora seus líderes militantes bebessem nas
ideologias do socialismo e nacionalismo, cujos equivalentes divinos eram
abstrações de políticos venerados como divindades.
Outra
questão levantada por Hobsbawm é sobre dois cruciais problemas a saber:
demografia e ecologia. Sobre esses problemas, uma coisa é certa: quaisquer
empreendimentos devem ser reduzidos ao "sustentável", uma vez que,
desconsiderando essa realidade, pode remeter a um desequilíbrio incontornável
entre a humanidade. Os recursos "renováveis" que se consome e o
impacto sobre o meio ambiente não podem ser relegados a questões de somenos
importância, principalmente, levando-se em consideração a utilização da água
potável, que, segundo alguns teóricos, pode ser o referencial mais explícito de
confronto bélico planetário.
Hoje,
investem-se vultosos recursos financeiros em projetos de investigação das
causas prováveis das angústias humanas. Em função disso, surgem vários
laboratórios que pesquisam sobre inúmeras patologias.
Não
desconhecemos, nessa conjuntura, a rejeição que sofrem os excluídos sociais,
posto que a ganância pelo dinheiro atinge patamares surrealistas. Estarrece-nos
a voracidade na busca do sexo, onde são remetidos os atormentados nos pântanos
da indigência moral. Atualmente, as pessoas hesitam em sair nas ruas, face aos
assaltos e sequestros relâmpagos que têm ocorrido a todo momento. São momentos
de inquietudes e desarranjo emocional, onde só no Brasil existem entre 15 a 30
milhões de pessoas com transtornos mentais, com neuroses e índices acentuados
de demência; com epilepsia e psicoses várias.
Nessas
angústias, a depressão tem preocupado os especialistas, que estimam que, em
cada grupo de 100 pessoas, 15 têm a probabilidade de desenvolvê-la.
Ainda
amargamos os contrastes de uma suprema tecnologia no campo da informática, das
viagens espaciais, dos supersônicos, dos raios laser, ao tempo que ainda temos
que conviver com todos os tipos de drogas inventados (cocaína, heroína,
ecstasy, a crack).
Como
vimos, o desenvolvimento científico e tecnológico não somente traz benefícios à
Humanidade, mas, também, produz efeitos negativos para o Mundo, podendo chegar,
inclusive, à destruição do Planeta: da bomba atômica, aos mísseis de ogiva
nuclear; das armas químicas e biológicas, às bombas de fragmentação. Assim como
modifica a Natureza, promove a angústia existencial.
Nesse
panorama a mensagem do Cristo é o grande edifício da redenção social, que
haverá de penetrar em todas as consciências humanas, como um dia penetrou nas
consciências de Vicente de Paulo, da irmã Dulce, de Chico de Assis, da Teresa
de Calcutá, de Chico Xavier e de Mahatma Gandhi.
Urge,
portanto, que a Humanidade, na falta de um sentido para a vida, experimente o
Evangelho nos múltiplos setores da sociedade, até porque, o Espiritismo
preceitua que temos uma fatalidade biológica, porém, a forma de nos
comportarmos dentro dos limites de nascimento e desencarnação é da nossa livre
escolha e podemos alcançar a sublimação com o ato de querer, movidos pela fé
raciocinada.
Jorge
Hessen
Referência
Bibliográfica:
1.
Hobsbawm, Eric John. "A Era dos Extremos": O Breve Século XX:
1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
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