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  • segunda-feira, 26 de outubro de 2009

    ANO 2012, O FATOR MAIA E NOSTRADAMUS, MUITAS CRENDICES E PARANÓIAS

    Analisemos a seguinte matéria: "Você temeria o futuro se levasse a vida de Tom Cruise, com mais de US$ 300 milhões no banco e presença garantida na lista de celebridades mais ricas do mundo elaborada pela revista "Forbes"? Então, imagine o impacto da notícia, divulgada no ano passado, de que o superastro estaria construindo um abrigo subterrâneo, de US$ 10 milhões, no terreno de sua mansão, no Colorado. Segundo o relato, publicado pela revista "Star", Cruise estaria convicto de que a Terra experimentará um contato, potencialmente devastador, com uma raça alienígena, em 2012. O ator acredita que a vida em nosso planeta vai mudar para pior ou para melhor, em 21/12/2012. Nessa data, encerra-se o calendário que era usado pelos antigos Maias no auge da sua civilização. Por isso, todo o movimento, envolvendo o ano de 2012, é chamado, genericamente, também, de "Profecia Maia". (1)
    Essa crendice estúpida é o ponto culminante de um processo que começou há duas décadas. Em 1984, o americano José Arguelles publicou "O Fator Maia". Nele, mesclava seus estudos, sobre o fim do calendário Maia, com suas próprias idéias agourentas. O autor se inspirou em um livro de ficção. Arguelles disse que a data marcaria o fim do ciclo do Homo Sapiens e o início de uma época, ecologicamente, mais harmoniosa. Conclamou os leitores a se reunirem, em várias partes do mundo, nos dias 16 e 17 de agosto de 1987, para meditar e rezar, dando um pontapé inicial para o grande dia que estava, ainda, há 25 anos da tal crendice absurda imaginada para o futuro. Esse evento, batizado de Convergência Harmônica, atraiu grande atenção da mídia americana e ganhou o apoio de celebridades como a atriz Shirley McLaine." (2) Sabemos, no entanto, que "os bons Espíritos nunca determinam datas. Portanto, a previsão de qualquer acontecimento, para uma época determinada, é indício de mistificação.



    Convivemos, atualmente, com uma "hecatombe" de informações agourentas, passíveis de causar muita confusão. Para escrever este texto, li um estranho livro destinado, exclusivamente, às profecias de magos, videntes, adivinhos e profetas de várias religiões e seitas. O enfoque do livro foi o ano 2012, como data fatídica, em que a humanidade irá sucumbir por catástrofes terrestres ou vindas do espaço. Entre outras "pérolas", no livro, encontrei que, segundo previsão dos Maias, “a Quinta Era do Sol, que vivemos, acabará em 20 de dezembro de 2012, em meio a catástrofes naturais". Em estudos realizados por astrônomos, sobre aproximações perigosas de asteróides, há, realmente, uma previsão, baseada em estudos científicos, que diz o seguinte: A força gravitacional da Terra pode atrair um grande asteróide, de nome 2004 MN4, o que poderá provocar uma forte colisão entre ambos, por volta de 2034. (sic...)
    Na Idade Média, eram comuns as previsões esquisitíssimas provindas da Igreja, enfocadas em catástrofes climáticas, miséria, epidemias, eclipses e cometas imprevistos. Ressalte-se que maremotos, ciclones, erupções vulcânicas, asteróides, cometas, mudanças climáticas e o aquecimento global, tanto em evidência hoje, são catástrofes naturais que fazem parte da história do planeta. Existiram em todas as épocas e continuarão existindo.
    Atualmente, profecias, notadamente as de Nostradamus, são lembradas e citadas até o limite do intolerável. Um mau agouro paira sobre as mentes mais frágeis. Nesse frenesi, cada seita, com seu cortejo de fanáticos, já estabeleceu sua agenda para o tal "Juízo Final."
    As "revelações" nostradâmicas foram escritas no Século XVI - quase sempre pessimistas - e estão reunidas em alguns volumes, notadamente, com uma linguagem empolada, cujo título da obra é: "As Centúrias". Alguns nostradâmicos de plantão interpretaram que a destruição e a fome estariam marcadas para setembro de 1999. Outros neurastênicos acreditam que o ano 2012 será palco de destruição inimaginável. Outros alienados dizem que Nostradamus prevê o fim do mundo, somente, no ano 3797.
    Subliminarmente, alguns desavisados ficam assustados com a passagem do tempo, esquecendo-se de que a nossa contagem cronológica é, totalmente, arbitrária. O Universo está pouco se lixando com a maneira de como dividimos e contamos o tempo. Para os fanáticos, que fixam datas para acontecimentos futuros, sugiro que prestem bastante atenção para o seguinte fato real: O nascimento de Jesus é o episódio que, tradicionalmente, demarca o início da Era Cristã. Porém, por força de um erro de cálculo, cometido no Século VI d.C., pela Igreja, as datas não coincidem. Sabe-se, atualmente, que Jesus nasceu antes do ano 1, provavelmente, entre 6 e 5 a.C. Pode-se afirmar isso, com razoável segurança, graças à narrativa muito precisa do Evangelho de Lucas. Segundo o evangelista, o fato aconteceu na época do recenseamento, ordenado pelo Imperador romano, César Augusto. Esse censo, o primeiro realizado na Palestina, tinha por objetivo regularizar a cobrança de impostos. Os historiadores estão de acordo em situar tal fato político no período que vai de 8 a 5 a.C.
    Curiosamente, a enciclopédia O Mundo do Saber, Editora Delta-Volume I, (3) registra: Jesus nasceu em Belém-Judéia, em 4 a.C. Ante muitas controvérsias sobre a questão, colhemos informes, no seio da própria Igreja, de que, no Século VI, (525 a D.), o Sacerdote Dionísio, fanático por matemática, e recebendo a incumbência de "descobrir" a data exata do nascimento do Cristo, fixou-a no ano 754, do calendário romano; (4) conclusão, essa, que foi aceita pela cúpula da Igreja Católica. Acontece, porém, que o Clérigo Dionísio começou a pesquisa, partindo de uma premissa equivocada, pois manteve como referência o batismo do Mestre, ocorrido em 150, ano do governo do Imperador Tibério César, (5) e tinha absoluta convicção, à época, de que o imperador romano iniciou o governo no ano 14; a conclusão foi "lógica": 14+15=29, onde tentou buscar confirmação no Novo Testamento, quando Lucas, no Capítulo III, versículo 23, registra ter sido Jesus batizado com 29 anos de idade (!!?...).
    Outro fato histórico relevante, é que Tibério César governava o Império desde o ano 9 d. C.; logo, o equívoco do padre matemático subtraiu alguns anos da história cristã, cronologicamente, regida pelo calendário gregoriano.(6) Aliás, erro já, devidamente, assumido pelo Vaticano. (7)
    Existe outro fator que comprova o erro de cálculo de Dionísio: sabemos, pela tradição dos textos das escrituras, que Herodes, o Grande, quando teve notícia do nascimento do Cristo, ordenou a matança de todas as crianças nascidas, nos dois últimos anos, em Belém e cercanias da Judéia. Na ocasião, Maria e José, pais de Jesus, refugiaram-se em outro país (Egito). Ora, a História se encarrega de registrar que Herodes morreu, exatamente, no ano em que nasceu Jesus (mesmo ano da ordem do infanticídio generalizado); logo, pelos dados que possuímos, considerando-se o calendário de Roma, e se Jesus era, de fato, um recém-nascido, à época da matança, atualmente estaríamos, pelo menos, em 2014 pós-Jesus.
    É bem verdade que o Século XX foi marcado por grandes tragédias ligadas ao apocalipse. Começou em 1910: a Terra iria (como aconteceu) atravessar a cauda do cometa Halley e a presença do mortífero gás cianogênio mataria todos. Ninguém morreu intoxicado com o gás. Sob o pavor do final dos tempos, na noite de 18/11/1978, em Jonestown Guiana, 900 pessoas, cabrestadas pelo pastor Jim Jones, líder da seita Templo do Povo, morreram ao ingerir suco com cianureto. Em Uganda, o líder de uma seita, Joseph Kibweteere, prognosticou que o mundo acabaria no dia 31/12/1999. Como isso não ocorreu, adiou para o ano seguinte. No dia e hora marcados, o templo, bem como todas as pessoas, foram envolvidos em combustível e 470 pessoas foram carbonizadas, inclusive, 50 crianças. No ano de 1993, em Waco, Texas, EUA, 70 seguidores da seita Ramo Davidiano morrem carbonizados no Rancho do Apocalipse. Em 1995, um culto do Juízo Final, liderado por Shoko Asahara, do grupo Verdade Suprema, obcecado pela idéia do fim do mundo, lançou um gás tóxico no metrô de Tóquio, envenenando centenas de pessoas inocentes e estranhas à seita. Em março de 1997, dezenas de corpos, de homens e mulheres, que pertenciam à seita Higher Source, liderados pelo Pastor Marshall Applewhite, suicidaram-se, acreditando que suas almas encontrariam uma nave voadora, esperando por eles na cauda do cometa Hale Bopp, e que os levaria a outro planeta.
    O mundo atual, dominado por incerteza, insegurança, pobreza e desigualdades sociais, continuará a alimentar seitas apocalípticas, passíveis de causar grandes tragédias. Fanáticos religiosos, utilizando a Internet, poderão estabelecer um clima de apreensão e pavor. Aprendamos, pois, com o genial lionês, Allan Kardec, que "os grandes fenômenos da Natureza, aqueles que são considerados uma perturbação dos elementos, não são de causas imprevistas, pois tudo tem uma razão de ser e nada acontece sem a permissão de Deus. E os cataclismos, algumas vezes, têm uma razão de ser direta para o homem. Entretanto, na maioria dos casos, têm por objetivo o restabelecimento do equilíbrio e da harmonia das forças físicas da natureza." (8)
    Os pessimistas insistem em considerar que a maneira, negativa e sombria, de perceber as coisas do mundo é uma maneira realista de viver. Não concordo. Na verdade, se olharmos a vida com muita emoção (distantes do raciocínio), vamos encontrar motivos que nos abatem os ânimos em qualquer lugar e em qualquer situação; crianças carentes, fome universal, guerras, violência urbana, sequestros, carestia, insegurança social, corrupção, acidentes catastróficos e por aí afora. Entretanto, é um dever para com nosso bem-estar estarmos adaptados à vida, com tudo que ela tem de bom e de ruim, sem, obviamente, cruzarmos os braços diante das situações.
    Em verdade, a "forma empregada, até agora, nas predições faz, delas, verdadeiros enigmas, as mais das vezes indecifráveis. [absurdos] Hoje, as circunstâncias são outras; as predições nada têm de místicas. São, antes, advertências do que predições propriamente ditas. A humanidade contemporânea também conta com seus profetas. Mais de um escritor, poeta, literário, historiador ou filósofo hão traçado, em seus escritos, a marcha futura de acontecimentos a cuja realização, agora, assistimos." (9)
    Recordemos sempre que a prática dos códigos evangélicos é a condição intransferível que determinará a grande transformação social, política e econômica do porvir. Nessa esteira, haverá de ser o final do "mundo velho", desse mundo regido pela desmesurada ambição, pela corrupção, pelo aniquilamento dos preceitos éticos, pelo orgulho, pelo egoísmo e pela incredulidade. Por isso, cremos que a Terra não se transformará por meio de um cataclismo e outras tragédias que destrua, de súbito, uma geração. A atual sociedade desaparecerá, gradualmente, e a nova lhe sucederá, sem a derrogação das leis naturais, conforme preceitua o Espiritismo.

    Jorge Hessen

    E-Mail: jorgehessen@gmail.com

    Site: http://jorgehessen.net

    Blog: http://jorgehessenestudandoespiritismo.blogspot.com







    FONTES:

    (1) Fonte: Revista Galileu - Edição 206 - Setembro de 2008 - Por Pablo Nogueira

    (2) Kardec, Allan. O Livro dos Médiuns, Rio de Janeiro: Ed FEB, 2001

    (3) Enciclopédia O Mundo do Saber, Editora Delta-Volume 1

    (4) 2761 anos já se transcorreram a partir da fundação de Roma

    (5) Cf. Luc. 3: 1 a 6

    (6) O calendário gregoriano, aceito nos nossos dias em praticamente todo o mundo, só passou a vigorar a partir de 1582, quando foi promulgado pelo Papa Gregório XIII, tendo posteriormente sido gradualmente aceite por todos os países.

    (7) Tibério César sucedeu Augusto que morreu no dia 19 de agosto do 767 da fundação de Roma, 14 da nossa era, quando assumiu de fato o título de César e começou a governar. Portanto, João começou a pregar no ano 28. O batismo de Jesus, antes da Páscoa de 29, estava com 35 anos. E na crucificação ocorrido no ano 31 da nossa era, 784 da fundação de Roma, Jesus tinha 38 anos de idade.

    (8) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Ed FEB, 2004

    (9) Kardec, Allan "A Gênese", Cap. XVI, item 17, 16ª ed., FEB/a973-RJ.




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