Sem uma religião definida, embora crente em Deus, uma leitora dos artigos do nosso blog pediu-nos alguns esclarecimentos. Ela mesma considera inaceitável a fé cega nos mitos da Gênese Mosaica e do Novo Testamento, citando os seis dias da Criação, a arca de Noé, Adão e Eva, a serpente e a maçã, o Paraíso perdido, a virgem Maria de Nazaré, a estrela guia, etc. Porém, o que mais a intriga é: Por que deificaram somente Jesus, se tantos outros cristos que, certamente, passaram pela humanidade e que, também, deveriam operar os tais “milagres”, permaneceram anônimos na História? Segundo ela, como admitir que Jesus tenha vindo ao mundo para sofrer pelos nossos “pecados”? Por que Deus não impediu a crucificação do Mestre, consentindo que O matassem?
Percebemos que o raciocínio da nossa leitora é aguçado, sem dúvida; mas, faz-se mister considerar que o raciocínio humano vem sendo trabalhado, de muitos séculos no planeta, pelos vícios de toda sorte. “Temos plena confirmação deste asserto no ultra-racionalismo europeu, cuja avançada posição evolutiva, ainda agora, não tem vacilado entre a paz e a guerra, entre o direito e a força, entre a ordem e a agressão.”(1) Sobre suas questões, vamos por partes. Os hábitos mentais dos espíritas, também, tendem a ser conduzidos pela fé raciocinada.
Sobre os mitos mosaicos que cita, lembramos que se Moisés se utilizou de muitas metáforas, e se não transmitiu ao mundo a lei definitiva, ele deu, à Terra, as bases da Lei divina e imutável. Aqui devemos considerar que os homens receberão, sempre, as revelações divinas de conformidade com a sua posição evolutiva. Para nós, a Humanidade da Era Cristã recebeu a grande Revelação em três aspectos essenciais: Moisés trouxe a missão da Justiça; o Evangelho, a revelação insuperável do Amor, e o Espiritismo, em sua feição de Cristianismo redivivo, traz, por sua vez, a sublime tarefa da Verdade.
Sem querer esbarrar na deificação do Cristo, sabemos que no centro das três revelações encontra-se Jesus-Cristo, como o fundamento de toda a luz e de toda a sabedoria. Portanto, não há outros Cristos na Terra. Ele, o Mestre, está conosco há mais de 4,5 bilhões de anos. Jesus foi o divino escultor da obra geológica do planeta. Junto de seus prepostos, iluminou a sombra dos princípios com os eflúvios sublimados do seu amor, que saturaram todas as substâncias do mundo em formação. E mais ainda, “Todas as entidades espirituais encarnadas no orbe terrestre são Espíritos que se resgatam ou aprendem nas experiências humanas, após as quedas do passado, com exceção de Jesus-Cristo, fundamento de toda a verdade neste mundo, cuja evolução se verificou em linha reta para Deus, e em cujas mãos angélicas repousa o governo espiritual do planeta, desde os seus primórdios.”(2)
Sobre a supremacia do Cristo, lembremos do “Meu Pai e eu somos Um”. Essa afirmativa evidenciava a sua perfeita identidade com Deus, na direção de todos os processos atinentes à marcha evolutiva do planeta terrestre. (3) Por várias razões, qualquer comentário sobre o Cristo não julgamos acertado fazer, para não condicionar a figura Dele aos meios humanos, num paralelismo injustificável, porquanto, em Jesus, temos de observar a finalidade sagrada dos gloriosos destinos do espírito. “N’Ele, cessaram os processos tacanhos de julgamentos humanos, sendo indispensável reconhecer, na sua luz, as realizações que nos compete atingir. Representando, para nós outros, a síntese do amor divino, somos compelidos a considerar que, de sua culminância espiritual, enlaçou, no seu coração magnânimo, com a mesma dedicação, a Humanidade inteira, depois de realizar o amor supremo.”(4) É que Jesus, com Amor, manifestou-se na Terra no seu esplendor máximo; Com Jesus, a Justiça e a Verdade nada mais são que os instrumentos divinos de exemplificação, Ele que é o Cordeiro de Deus, alma da redenção de toda a Humanidade.
Portanto, o tipo mais perfeito que Deus ofereceu ao homem para lhe servir de guia e modelo foi o Cristo. Para Allan Kardec “Jesus é para o homem o exemplo da perfeição moral a que pode pretender a humanidade na Terra. Deus nos oferece Jesus como o mais perfeito modelo, e a doutrina que ensinou é a mais pura expressão de sua lei, porque era o próprio Espírito Divino e foi o ser mais puro que apareceu na Terra. Se alguns daqueles que pretenderam instruir o homem na lei de Deus algumas vezes o desviaram, ensinando-lhe falsos princípios, foi por se deixarem dominar por sentimentos muito materiais e por ter confundido as leis que regem as condições da vida da alma com as do corpo. Muitos anunciaram como leis divinas o que eram apenas leis humanas criadas para servir às paixões e dominar os homens.”(5)
A respeito dos mitos e crendices do Novo Testamento, sabemos que foram impostos por seres sem escrúpulos. A começar com Constantino, que permitiu o famigerado Concílio de Nicéia. Posteriormente, com Teodósio, oficializando o Cristianismo no Estado Romano. Em 384, São Jerônimo teve a missão de redigir uma tradução latina do Antigo e do Novo Testamento. Essa tradução tornar-se-ia a norma das doutrinas da Igreja: foi o que se denominou a “Vulgata”. Essa tradução oficial, que deveria ser definitiva, segundo a cúpula da Igreja, foi, entretanto, alterada em diferentes épocas, por ordem dos ulteriores pontífices. Portanto, os chamados livros canônicos, foram submetidos a diversas e trágicas interpolações para satisfazer os mesquinhos interesses da Igreja. “Sufocaram, antes de desabrochar, os fortalecedores princípios que teriam conduzido os povos à verdadeira crença, à que eles hoje em dia inda procuram. Tudo para assegurar, fortalecer, tornar inabalável a autoridade da Igreja.” (6)
Sobre a crucificação do Messias, permitida por Deus, deve ser apreciado, tão-somente, pela dolorosa expressão do Calvário? Cremos que não, pois o Gólgota representou o coroamento da obra do Senhor, mas, o sacrifício na sua exemplificação, verificou-se em todos os dias da sua passagem pelo planeta. E o cristão deve buscar, antes de tudo, o modelo nos exemplos do Mestre, porque o Cristo ensinou com amor e humildade o segredo da felicidade espiritual, sendo imprescindível que todos os discípulos edifiquem, no íntimo, essas virtudes, com as quais saberão demonstrar ao calvário de suas dores, no momento oportuno. (7)
Os mistérios das Leis divinas são insondáveis. Óbvio que não cai um fio de cabelo de nossas cabeças sem que Deus o saiba e permita. A crucificação estava nos ditames da Vontade suprema e não havia como ser modificada. E, mais ainda, a crucificação teve efeito simbólico, uma vez que, após a condenação, o Mestre ressurge para nós. Desde então, a morte deixou de ser o lúgubre ingresso para o Nada; porquanto, na verdade, é a esplendorosa revelação de que a vida é eterna, como perenes serão as realizações do bem, na terra e no espaço. Quando o Celeste Amigo revelou o Túmulo Vazio, Ele venceu a morte. É verdade! Todos os evangelistas narram as aparições de Jesus, após sua crucificação, com circunstanciados pormenores, que não permitem se duvide da realidade do fato. Pois bem, minha irmã, eis o motivo pelo qual Deus não impediu a crucificação de Jesus.
Em outro assunto, a leitora do blog http://jorgehessenestudandoespiritismo.blogspot.com/ lembra o aborto provocado, questionando se essa decisão não deveria ser da mãe, uma vez que o livre-arbítrio nos dá, a todos, a liberdade de escolha? Explicamos que o aborto provocado, para quem estuda a Doutrina Espírita e segue os conselhos dos Espíritos, constitui crime. Se você diz: Eu não praticaria, mas que outras mulheres tenham o direito de escolha é nada mais, nada menos que presenciar alguém prestes a cometer suicídio e fechar os olhos, não tentando, de forma alguma, impedi-lo e pensar, intimamente: - Nada posso fazer. A escolha é dele.
Portanto, tentar impedir, o quanto nos seja possível, que mulheres cometam o aborto, nada mais é que valorizar a vida dessas futuras mães e reconhecer a importância da encarnação dos Espíritos que se ligam a elas, desde o momento da fecundação. Que a leis humanas e as religiões continuem firmes no propósito da não descriminalização do aborto.
Jorge Hessen
http://jorgehessen.net
jorgehessen@gmail.com
Fontes:
(1) Xavier, Francisco Cândido. O Consolador, ditado pelo espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed FEB, 2001
(2) idem pergunta 243
(3) idem pergunta 288 –
(4) idem pergunta 327
(5) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Ed. Feb, 2001, pergunta 625
(6) Denis. Léon. Cristianismo e Espiritismo, Rio de Janeiro: Editora FEB, 2001
(7) Xavier, Francisco Cândido. O Consolador, ditado pelo espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed FEB, 2001, pergunta 286 –
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