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  • terça-feira, 17 de maio de 2011

    A URBANIDADE NECESSÁRIA




    Marcus Vinicius de Azevedo Braga
    Articulista Espírita- Brasília-DF

    Para o convívio em qualquer campo de serviço e estudo é preciso urbanidade. Aprendemos isso na escola. Esse respeito mútuo, essa caridade no falar expressa em cortesia é fundamental para o relacionamento humano, para a harmonia dentre  as diversas matrizes de opinião, naturais do espírito encarnado.
    Kardec, o mestre lionês, diante dos grandes embates intelectuais, com a sua amestria, manteve a urbanidade, como no trecho a seguir de “O que é o espiritismo”:
     “Isso seria um meio de perder a disputa um pouco mais depressa, porque a violência é o argumento daqueles que nada de bom têm a dizer. “
               A discordância é salutar. Os argumentos constroem conhecimento. Mas o sarcasmo e a ofensa são um campo sombrio, que não agrega idéias, gerando somente a mágoa e a discussão.  Assim vemos esse lamentável episódio da história do espiritismo pátrio, onde o nosso amigo e articulista de longa data, Jorge Hessen, viu suas argumentações solidamente construídas sobre a industrialização dos eventos espíritas contraposta por xingamentos e ataques pessoais de um expositor espírita, XYZ, por meio de uma mensagem eletrônica amplamente divulgada entre pessoas do movimento,  e que no texto se utiliza de uma distorção das idéias do Jorge, levando o leitor a  que não leu os seus artigos a pensar que esse empreende ataques pessoais a figuras famosas do Movimento espírita, quando o que se questiona é o paradigma adotado em mega-eventos, de mega-palestrantes, de mega-preços, voltados para um micro-público.
    André Luis já se posicionava sobre essa temática em CONDUTA ESPÍRITA:
            Nas reuniões doutrinárias, jamais angariar donativos por meio de coletas, peditórios ou vendas de tômbolas,  vista dos inconvenientes que apresentam, de vez que tais expedientes podem ser tomados à conta de pagamento por benefícios.
    A pureza da prática da Doutrina Espírita deve ser preservada a todo custo.

    Em uma mercantilização que figura na bíblia, nos vendilhões do templo, nas indulgências da Idade Média e que assume roupagens diversas. Vivemos o ano do Chico, dos filmes, dos programas, onde viramos polo de luta entre emissoras de TV e entre políticos em campanha. Tudo isso nos tomou de assalto e mais do que casas espíritas cheias, ganhamos evidência e notoriedade.
    Causa tristeza essa deprimente situação de idéias combatidas a pedradas, pois ignora tudo o que o codificador nos deixou no conhecimento espírita. Ignora a democracia, os avanços de nossa época no campo social. Falta a urbanidade de quem tem argumentos...
    Cada vez mais nos tornamos espíritas igrejistas, importando de outras denominações práticas que juramos combater-a politicagem, a mercantilização, o personalismo, hierarquias. Ainda na sabedoria de André Luis, Op. Cit.
                  Agir de tal modo a não permitir, mesmo indiretamente, atos que signifiquem profissionalismo religioso, quer no campo da mediunidade, quer na direção de instituições, na redação de livros e periódicos, em traduções e revisões, excursões e visitas, pregações e outras quaisquer tarefas.
               

    Não queremos espíritas-párocos, não queremos vaticanos, não queremos representações parlamentares, não queremos ser a torcida do flamengo. Queremos a reforma íntima, a materialização do reino do cordeiro na Terra e a construção do homem de bem. Não queremos repetir os modelos que a história já provou que são falhos. O Trecho da mensagem do Confrade XYZ corrobora esse pensamento, que os textos de Jorge Hessen questiona:
    “O segmento evangélico, numa checagem que eu fiz em 2009, investia, mensalmente, uma quantia de 150 milhões de reais, em televisão e rádio, no Brasil. Vou repetir: 150 MILHÕES DE REAIS por mês, não são 150 mil não. Imagine quanto estão investindo este ano de 2011.


    O que faríamos com 150 milhões de reais no espiritismo? Uma Rede de TV ou a prática do bem? Se queremos abandonar os meios em função dos fins, partamos para um vale tudo na luta por novos adeptos. Lembre-mos o codificador em “O que é o espiritismo”:
    A.K. . Por que eu desejaria fazer de vós um prosélito se vós mesmo isso não o desejais? Eu não forço nenhuma convicção. Quando encontro pessoas sinceramente desejosas de se instruírem e que me dão a honra de solicitar-me esclarecimentos, é para mim um prazer, e um dever, responder-lhes no limite dos meus conhecimentos. Quanto aos antagonistas que, como vós, têm convicções firmadas, eu não faço uma tentativa para os desviar, já que encontro bastante pessoas bem dispostas, sem perder meu tempo com as que não o são. A convicção virá, cedo ou tarde, pela força das coisas, e os mais incrédulos serão arrastados pela torrente. Alguns partidários a mais, ou a menos, no momento, não pesam na balança. Por isso, não vereis jamais zangar-me para conduzir às nossas idéias aqueles que têm tão boas razões como vós para delas se distanciarem.
    O que Jorge aponta nos seus textos são esses desvios, essa troca da qualidade pela quantidade, essa visão salvacionista de que só o espiritismo é a solução, ignorando a idéia de salvação kardequiana. A visão de que pela divulgação da doutrina, faremos tudo, pelo sonho de um mundo espírita. O espiritismo é o futuro das religiões e não a religião do futuro!  Quem ler os textos de Jorge Hessen sobre o assunto entenderá a profundidade e a importância de suas análises sobre essa atual temática. Quisera que a questão se resumisse a um articulista insensato de Brasília falando mal de personalidades espíritas. Trata-se dos rumos da nossa prática espírita, o que fazemos com esse tesouro! Agora, se queremos apenas grandes eventos, sem problema. Quando chegarmos no céu, quer dizer, no plano espiritual, procuraremos alguém com uma prancheta com a anotação de nossa presença nesses eventos, a contabilizar a nossa salvação.
     
     
    Marcus Vinicius 

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