SITES E BLOGS

  • LEITORES
  • segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

    FILHOS TEMPORÕES E OS DESAFIOS PARA OS “PAIS-AVÔS”


    Quais os limites de idade para a maternidade/paternidade na velhice, considerando as novas tecnologias de reprodução humana? Casos de gravidez tardia têm ficado mais comuns. Muitas questões são evocadas para o tema. Temos um caso recente de Gabriella, uma bibliotecária italiana de 57 anos e Luigi de Ambrosis, um aposentado de 70. Casados há 21 anos, decidiram ter um bebê com óvulos doados. Há um ano e sete meses nasceu Viola. Todavia, perderam a guarda da filha porque a corte de Turim (Itália) entendeu que eles são velhos demais e não têm condições de criá-la. A menina foi colocada para adoção.
    Segundo os juízes, a menina Viola  poderia ficar órfã muito jovem ou seria forçada a cuidar de seus pais idosos na idade em que os jovens mais precisam de apoio. Cremos que esse não deve ter sido o motivo, pois só em setembro de 2011, outros dois casais italianos mais velhos (elas, de 57 e 58 anos; eles, 65 e 70 anos) geraram gêmeos por doação de óvulos.  Em verdade, Gabriella e Luigi de Ambrosis foram submetidos a testes psicológicos e psiquiátricos que concluíram que a mãe não estabeleceu vínculos emocionais com a filha. O marido também não teria demonstrado preocupação com o bem-estar da Viola.
    Um estudo feito pela Universidade de Tel Aviv, em Israel, sugere que homens que se tornam pais com mais de 45 anos têm filhos com dificuldade de interação social com mais frequência e até indica que filhos de pais mais velhos têm mais probabilidade de ter autismo ou QI mais baixo. No estudo analisaram dados de 450 mil adolescentes do sexo masculino com 16 ou 17 anos de idade. Os resultados desse trabalho, porém, estão ainda longe de ser conclusivos.
    Outra pesquisa realizada pela Universidade de Queensland, na Austrália, consigna que pais mais velhos têm maior probabilidade de ter filhos com menor habilidade cognitiva, isto é, menos inteligentes. Será? Os pesquisadores usaram informações do US Collaborative Perinatal Project, que realiza diferentes testes em crianças com oito meses, com anos 4 e com 7 anos de idade.
    Os testes verificam habilidades de linguagem oral, leitura e escrita, memória, compreensão, concentração e coordenação motora. O resultado final do estudo demonstrou que as crianças que tinham papais mais velhos pontuaram menos nos testes de habilidades cognitivas, com exceção das habilidades motoras. O estudo sugere que os governantes conscientizem a população dos agravos de se ter um filho em idade tardia (tanto homens como mulheres) e eduque para a gestação em idade mais apropriada.
    Entendemos que, se por um lado a gravidez com os papais mais velhinhos pode ser um pouco arriscada, por outro a infância da criança poderá ser muito melhor. Casais idosos têm maior experiência e geralmente estão numa condição financeira mais propícia para ter filhos. Inobastante a opinião dos especialistas, o fato de os pais mais velhos tentarem poupar os filhos de tudo é o principal fator responsável pelo desequilíbrio dos filhos. A superproteção pode provocar nos jovens a dificuldade de se relacionar com outras pessoas e de estabelecer laços afetivos fora do ambiente familiar.
    Será que gerar filhos na velhice pode tornar-se um problema social? Ninguém quer pensar que os pais estão envelhecendo ou desencarnando. Em verdade, imaginar que os pais velhos se aproximam mais rápido da morte pode gerar muita ansiedade e frustração. O ideal seria que as pessoas refletissem sobre não abreviar a morte de ninguém, mas aceitar a vida em plenitude, mesmo diante da fatalidade biológica.
    Sou um “pai-avô” – tenho uma filha de 7 anos e creio que a figura do “pai-avô” pode ser compreendida como uma das inúmeras formas que temos de lidar com a finitude que aguilhoa a todos, e de maneira contundente, a partir da maturidade. Talvez a geração de filhos da velhice traga  mais dificuldades em conviver com os filhos na adolescência. Mas o Espiritismo nos treina para  lidar com os conflitos comuns aos adolescentes, e nada melhor do que nós, pais anciãos, tentarmos nos colocar no lugar dos jovens. Não esqueçamos que carregamos uma vantagem sobre os demais pais de outras faixas etárias. Para nós, esse diferencial é a maturidade. A possibilidade de educarmos de forma diferente e melhor é incontestável.
    Se moldarmos uma sociedade em que os idosos sejam queridos e respeitados pelos filhos temporões, seremos capazes de envelhecer sem temer o destino deles.

    Jorge Hessen

    http://jorgehessen.net