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  • sábado, 16 de junho de 2012

    A CONEXÃO TELEVISÃO-VIOLÊNCIA-COMPORTAMENTO É PREOCUPANTE

    A violência de todas as gradações conspurca as conquistas sociológicas deste século. Irrompe-se em todos os níveis da sociedade, manifestando-se em múltiplas magnitudes. Lemos um jornal, uma revista; assistimos televisão e a bestialidade é obstinadamente difundida, seja pelos noticiários, pelos documentários, seja pelos filmes (inclusive desenhos “infantis”), pelos programas de auditório cada vez mais obscuros em termos de valores éticos.
    Por quanto tempo teremos que conviver com os aviltantes programas de tevê na Pátria do Evangelho? São como “shows” que profanam os princípios fundamentais da moral e da ética. Há programas televisivos brasileiros que estão sendo vetados pelos telespectadores europeus através passeatas contra as licenciosas aberrações que se cometem nas programações importadas destas plagas do Cruzeiro do Sul.
    É imperioso que haja, no Brasil, um movimento de conscientização popular robusto, a fim de que ocorra uma alteração na legislação para que seja devolvido ao País o culto dos valores morais elevados veiculados pelas emissoras de TV. Uma mobilização popular será necessária e justa, pois são nossos filhos que estão sendo influenciados pelas programações promíscuas que vêm corrompendo a família brasileira.
    Atualmente, é claro que o conflito fundamental não é mais, unicamente, o conflito de classes. Há conflitos de gênero, étnicos, religiosos, regionais, por afirmação de identidade sexual etc. Que princípio filosófico será capaz de dar conta da relação entre os agentes de socialização – desenvolvimento de opinião pública, de ethos (1) e de sociabilidade – e qual a importância dos meios de comunicação, particularmente da mídia televisiva, nesse processo de harmonização social?
    Dois estudos realizados pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), em 2009, mostraram que as telenovelas apresentadas nos últimos 40 anos vêm moldando as famílias em aspectos como número de filhos e divórcios. As telenovelas produzidas no país não estão exclusivamente influenciando e acarretando polêmica no Brasil. Especialistas afirmam que em Angola, na África, por exemplo, as novelas são os programas de maior sucesso. O comércio igualmente é influenciado, desviando centenas de feirantes informais angolanas a atravessarem o Atlântico e desembarcarem em São Paulo à procura de produtos para (re)venda em seu país. Para as pessoas de Angola, as novelas brasileiras são referência sobre o que vestir.
    Dizem os especialistas que estamos na “era da alienação”, do estar sozinho e das adesões frágeis, o que facilita a violência. O alcance do produto televisivo, em particular das teledramaturgias (as famigeradas telenovelas), nos juízos e desejos dos brasileiros, suscita empecilhos, superstições, supressões e anuências que, além de repercussões particulares, acarretam sequelas sociais em nível mundial.
    Como se não bastasse, a mídia televisiva tornou-se uma das principais instituições de influência sobre a formação cultural da criança e jovens. Estudos realizados pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul demonstram que a exibição de violência na TV tem efeitos inequívocos. Há correlações concretas entre a frequente exposição à violência exibida na Televisão e o comportamento agressivo do telespectador. Pesquisas comprovam que nos Estados Unidos, após a entrada da televisão os lares, na década de 40, a taxa de homicídios aumentou 93%.
    A televisão ocupa um lugar central nos descaminhos dos rumos que a infância tem tomado. Para desviar-se dos choros e esperneios, muitos pais permitem que os filhos permaneçam mais tempo diante da tevê do que o preconizado. Mesmo considerando que a criança assista apenas a programas “infantis”, aquelas menores de cinco anos deveriam assistir televisão no máximo duas horas por dia. A recomendação é da Academia Americana de Pediatria (AAP). Os programas invadem as casas, afetam os ouvidos, os olhos, modificam as opiniões das pessoas, estabelecem campanhas, decompõem comportamentos. Diante desse dilema foi perguntado a Chico Xavier como era analisado o trabalho dos meios de comunicação pelo Mundo Espiritual.
    O médium de Uberaba respondeu: “Na Inglaterra há uma lei que consideramos de muita importância. A própria imprensa, através da cúpula formada pelos homens de responsabilidade que a representam, decidiu formar uma associação de censura, de tudo que tivesse de ser lançado ao público pelos mais novos, pelos jornalistas, pelos radialistas, por todos aqueles que estivessem começando a tarefa de se comunicar com o público. No Brasil, a minha opinião, sem qualquer crítica, mas absolutamente sem qualquer crítica, eu creio que os excessos na televisão, nos jornais e nas revistas são de molde a falsear os sentimentos e pensamentos de muita gente.” (2)
    Somos influenciados a partir do bombardeio informativo detonado pelos programas televisivos. Há uma espécie de efeito acumulativo, isto é, uma exposição exagerada à violência midiática que poderá desenvolver um certo temor e uma espécie de complexo de vítima. Quanto mais violência vemos na tevê, mais facilmente aceitamos  a ideia de que o comportamento agressivo é uma coisa normal.
    Embora alguns afirmem que os efeitos da tevê não interferem no comportamento, ou seja, seus efeitos são mais discretos do que se imagina, não concordamos com isso! Afirmam que a violência que a tevê transmite  não é inventada pelas emissoras, pois sempre existiram gangues, traficância, prostituição, assassinatos, antes mesmo da TV existir, vociferam os acadêmicos “libertários”! Entretanto, entronizar os lixos da sociedade numa ensandecida guerra por audiência nos leva a refletir sobre a tese da regulação das programações, a fim de diminuir a exposição das pessoas, sobretudo crianças, aos entulhos da violência que a televisão transmite.
    A guerra pela audiência, como todo duelo, é demente, é irracional. E na pugna pela audiência, como em toda batalha, as principais vítimas são as crianças. Numa sociedade de mercado, tudo é tratado como mercadoria. Inclusive a infância. Conquanto seja questão bastante discutida, não há como tapar o sol com peneira; não podemos desconsiderar a nefasta influência da tevê na formação das crianças, tanto na erotização precoce quanto na antecipação do imaginário social. Hoje isso pode ser considerado uma forma de profunda violência.
    Óbvio que o controle é um bom método, sempre a partir da discussão popular, possibilitando determinar programas a ser privilegiados ou não na veiculação. Uma regulação (sem a característica de censura), porém de um controle democrático, por parte do telespectador sobre as programações que serão exibidas.
    A relação televisão-violência-comportamento, é evidente que existe! Não obstante seja uma relação extremamente complexa e não confinante. Não há como deixar de responsabilizar os meios de comunicação, em especial a TV, para explicar ao conjunto da população o aumento do grau de violência que se tem observado. Segundo alguns especialistas, a televisão amolece o corpo e anestesia o espírito. Diante da tevê, o telespectador permanece, fisicamente, inerme, qual androide. Dos seus sentidos, trabalham somente a visão e a audição, mas de maneira absurdamente parcial.
    É evidente que quem estuda o Espiritismo e pratica seus preceitos vê-se melhor instrumentalizado para a vida em sociedade nestes tempos atribulados, encontrando conceitos lógicos e racionais para o entendimento da vida numa visão cristã da mesma. Em nome de uma pretensa ruptura com a antiga base educacional, modelada nos princípios da austeridade, não podemos abraçar o comodismo na tarefa disciplinadora dos filhos, por preguiça ou porque não adquirimos as bases necessárias para essa tarefa. Em face disso, não podemos permitir que os nossos frágeis rebentos sejam marionetes dos processos de (des)educação alienante da mídia televisiva.
    A criança é um adulto que está numa fantasia transitória, conforme afirmava, sempre, Chico Xavier. O adolescente, nos seus 14 e 15 anos, não tem ainda perfeito discernimento para fazer opções quanto ao caminho que lhe cabe trilhar. É geralmente muito instável, o que é natural. Por essa razão, os programas de tevê têm de ser mais bem selecionados pelos pais espíritas, especialmente aqueles que contêm cenas degradantes nos filmes, novelas e em programas de auditório de qualidade duvidosa, e em horários impróprios para eles.
    Jorge Hessen
    http://jorgehessen.net

    REFERENCIAS:


    (1)    Ethos, na Sociologia, é uma espécie de síntese dos costumes de um povo.
    (2)    Entrevista com Chico Xavier durante o Programa "Terceira Visão", da Rede Bandeirantes,  São Paulo, exibido em 25/12/1987.