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  • sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

    O ESPÍRITO E O CÉREBRO SE DISTINGUEM SEM GRILHETAS MATERIALISTAS (Jorge Hessen)

    Jorge Hessen
    http//aluznamente.com.br

    James Fallon, neurocientista, professor de psiquiatria e comportamento humano da Universidade da Califórnia, passou anos pesquisando o cérebro de potenciais homicidas. Aos 58 anos de vida acreditava ser uma pessoa “normal”, tendo como referência a família equilibrada e intensa atividade acadêmica. Certa tarde de outubro de 2005, vasculhando exames de pessoas que sofrem desordens psiquiátricas graves, através das imagens cerebrais de assassinos misturados com esquizofrênicos, depressivos e outros cérebros “normais”, teve uma singular surpresa: na análise dos exames deparou com determinada imagem que revelava o cérebro de um psicopata; todavia identificou que era o seu exame. Surpreendeu-se, afinal foi uma revelação chocante e começou a questionar a própria identidade. (1) Fallon descobriu que o seu cérebro apresenta “inativa” uma área ligada à conduta ética e à tomada de decisão. Observou igualmente que possui genes vinculados à violência.
    Sob o guante das surpreendentes descobertas, publicou um livro intitulado “O psicopata no interior”. Na obra esquadrinha alguns argumentos sobre as causas de um homem feliz no casamento e na profissão, que pode ser um psicopata com as mesmas características genéticas de um serial killer. (2) É difícil determinar precisamente o que faz de uma pessoa um psicopata. Na verdade, a anormalidade mental tem uma variedade de sintomas que nem sequer aparecem no manual de diagnóstico de transtornos mentais. James Fallon acredita que, graças em grande parte à sua educação e apoio de sua família, tem sido capaz de canalizar suas tendências psicóticas.
    Para os Espíritos, a nossa “mente é o campo da nossa consciência desperta, na faixa evolutiva em que o conhecimento adquirido nos permite operar”. (3) Destarte, “a mente transmite ao carro físico, a que se ajusta durante a encarnação, todos os seus estados felizes ou infelizes.” (4) Notamos no neurocientista da Califórnia que a plenitude do Espírito (estado mental), embora possa ser influenciada pelo universo cerebral, mantém preponderância sobre a “massa cinzenta”. Não fosse assim, seria ele, Fallon, um fantoche do mundo encefálico.
    Para André Luiz, o cérebro é o ninho da mente. O cérebro é o veículo da inteligência no mundo carnal; por isso, muitos neurologistas fazem da personalidade um atributo do cérebro, porém sabemos que “a inteligência [individualidade] é um atributo essencial do Espírito”. (5) Kardec, explanando a questão 368, diz o seguinte: “pode-se comparar a ação que a matéria grosseira exerce sobre o Espírito a de um charco lodoso sobre um corpo nele mergulhado, ao qual tira a liberdade dos movimentos.” (6)
    Atualmente há diferença essencial entre a neurociência acadêmica e a neurociência Espírita. Enquanto a primeira entroniza no cérebro o quartel-general da personalidade, a segunda faz da estrutura encefálica apenas mais um dos vários órgãos de manifestação do Espírito. Em que pesem as limitações das capacidades do Espírito após a sua união com o corpo, por causa da densidade material, o corpo carnal não é mais que o invólucro do Espírito, e este, ao se unir ao corpo, conserva os atributos espirituais. Sem dúvida que o corpo físico é um obstáculo à livre manifestação das faculdades do Espírito, como um vidro opaco se opõe à livre refração da luz.
    Os órgãos são os instrumentos da manifestação das capacidades do Espírito. Essa manifestação está submissa ao desenvolvimento e ao grau de apuro dos atinentes órgãos. O Espírito tem sempre as aptidões que lhe são inerentes, e não são os órgãos que lhe dão as capacidades, mas são as faculdades que impelem o desenvolvimento dos órgãos. Deste modo, a distinção das aptidões entre os homens dimana do estágio do Espírito. As qualidades do reencarnado, que pode ser mais ou menos adiantado, constituem o princípio, mas obviamente “é necessário ter em conta a relativa influência da matéria, que pode limitar mais ou menos o exercício dessas faculdades.” (7)
    Sobre a questão do cérebro humano, o Espiritismo e a Neurociência devem se complementar, pois as leis do mundo espiritual e as leis do mundo físico são expressões de uma realidade comum. A Neurociência precisa do Espiritismo, tanto quanto o Espiritismo encontra apoio na Neurociência; isolados, no estudo do cérebro não chegarão a um resultado final e submergirão no labirinto de hipóteses arriscadas. Lembrando, contudo, que o Espiritismo marcha ao lado da ciência, mas não se detém onde a ciência tem seus limites.
    Inaceitável é a ciência materialista insistir em algemar o espírito no cérebro, como se ele fosse um cativo, para ser fartamente dissecado, a fim de ser comprovado que o cérebro é o agente integral da personalidade. Ora, em verdade o espírito continuamente tem se mantido incólume em relação a esse reducionismo materialista. No século XIX, Kardec, conhecedor das teses de Franz Josef Gall, médico alemão, teórico da frenologia (8), indagou aos Espíritos o seguinte: “da influência dos órgãos se pode inferir a existência de uma relação entre o desenvolvimento dos do cérebro e o das faculdades morais e intelectuais?” A resposta dos Mentores Espirituais é fulgente: “Não confundais o efeito com a causa. O Espírito dispõe sempre das faculdades que lhe são próprias. Ora, não são os órgãos que dão as faculdades, e sim estas que impulsionam o desenvolvimento dos órgãos.”. (9)
    Das relações existentes entre o desenvolvimento do cérebro e a manifestação de certas faculdades, concluíram alguns estudiosos materialistas que os órgãos do cérebro são a própria fonte das faculdades, ideia que tende para a negação do princípio inteligente estranho à matéria. Consequentemente, faz do homem uma máquina sem livre arbítrio e sem responsabilidade por seus atos, pois sempre poderia atribuir os seus erros à sua organização e seria injustiça puni-lo por faltas que não teriam dependido dele. Ficamos, com razão, abalados pelas consequências de semelhante teoria. Até porque, “a psicologia e a psiquiatria, entre os homens, conhecem tanto do Espírito, quanto um botânico, restrito ao movimento em acanhado círculo de observação do solo, que tentasse julgar um continente vasto e inexplorado, por alguns talos de erva, crescidos ao alcance de suas mãos.”. (10)
    A Doutrina Espírita esclarece que “os órgãos têm uma influência muito grande sobre a manifestação das faculdades [espirituais]; porém, não as produzem – eis a diferença. Um bom músico com um instrumento ruim não fará boa música, mas isso não o impedirá de ser um bom músico.”. (11) O espírito age sobre a matéria e a matéria reage sobre o espírito numa certa medida, e o espírito pode se encontrar, momentaneamente, impressionado pela alteração dos órgãos pelos quais se manifesta e recebe suas impressões materiais”. (12)
    Há outra questão a ser considerada a respeito das influências captáveis pelo cérebro humano. Tais impressões podem advir de outras mentes de “encarnados e desencarnados que povoam o Planeta, na condição de habitantes dum imenso palácio de vários andares, em posições diversas, produzindo pensamentos múltiplos que se combinam, que se repelem ou que se neutralizam. Correspondem-se as ideias segundo o tipo em que se expressam, projetando raios de força que alimentam ou deprimem, sublimam ou arruínam, integram ou desintegram, arrojados sutilmente do campo das causas para a região dos efeitos. (13)
    Avaliando essas variáveis, é certo que o Espiritismo e a Neurociência, no futuro, poderão se entender não se contradizendo, todavia unidas, marchando conectadas, procurando todos os expedientes disponíveis no sentido de compreender mais profundamente o homem. Caso contrário, a Neurociência flutuará em um mar de equívocos, enquanto conceber que o Espirito está amarrado, unicamente, no universo  cerebral. Carece, pois, os estudiosos distinguirem as causas físicas das causas espirituais nos fenômenos psicológicos, a fim de poder melhor explicar o enigma da função do cérebro humano.


    Referências Bibliográficas:
    (1) Na época, James Fallon também estava envolvido em um estudo de Alzheimer e havia feito exames de seu próprio cérebro e de familiares.
    (2) É um tipo de criminoso de perfil psicopatológico que comete crimes com uma certa frequência, geralmente seguindo um modus operandi.  Muitos dos que foram capturados aparentavam ser cidadãos respeitáveis - atraentes, bem sucedidos, membros ativos da comunidade. Geralmente os serial killers demonstram três comportamentos durante a infância, conhecidos como a Tríade MacDonald (Urinam na cama -Enurese noturna, Obsessão por incêndios -Piromania, Crueldade para com os animais).
    (3) Xavier, Francisco Cândido. Pensamento e Vida, ditado pelo espírito Emmanuel, RJ: Ed FEB, 4ª edição, 1975.
    (4) _______, Francisco Cândido e Vieira Waldo. Evolução em Dois Mundos, Ditado pelo Espírito André Luiz, RJ: Ed. FEB 2003
    (5) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Questão 24, Ed. FEB, 1999
    (6) Idem questão 368
    (7) Idem  questões de 367 
    (8) Princípio  que alega  cada função mental a uma zona do cérebro, sustentando que a própria forma do crânio indica o estado das diferentes faculdades mentais.
    (9) _______, Allan. O Livro dos Espíritos, questão 370, Rio de Janeiro: Ed FEB, 1999-
    (10) Xavier, Francisco Cândido. Roteiro, ditado pelo Espírito Emmanuel, cap.  25 - Ante a vida mental, RJ: Ed. FEB, 1972
    (11) ______, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2001, questão 372
    (12) Idem questão 375
    (13) ______, Francisco Cândido. Roteiro, ditado pelo Espírito Emmanuel, cap.  25 - Ante a vida mental, RJ: Ed. FEB, 1972