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  • terça-feira, 21 de junho de 2016

    “O” HOMEM E “A” MULHER ANTE A QUESTÃO DE GÊNERO APÓS A MORTE (Jorge Hessen)



    Jorge Hessen


    O homem moderno é modelado dentro de uma cultura racista, patriarcal, misógina e homofóbica. O Evangelho é um convite perene à prática da fraternidade, do amor, da não-violência, especialmente diante dos dessemelhantes que compõem o universo minoritário de uma sociedade densamente machista. Não obstante seja avesso à ideia de grupos de "minorias" ou "maiorias" sociais, reconheço que os termos já estão consagrados pelo uso e ademais é inaceitável qualquer tipo de discriminação perante os “desiguais”. 

    A hercúlea luta contra o preconceito e a homofobia possui aspectos sádicos. Diversas vezes essa luta descomunal principia onde o ser humano deveria se sentir mais acolhido e resguardado: ou seja, o grupo familiar. Atualmente, nos EUA, por exemplo, há uma nova classe de moradores de rua (isso mesmo! Moradores de rua) que está crescendo em deplorável rapidez, formada por adolescentes homossexuais expulsos da família. Segundo cálculo do Centro de Progresso Americano, mais de 300 mil jovens tiveram de recorrer a abrigos públicos após serem mandados embora de casa (banidos) pelos próprios pais em face da sua orientação sexual. 

    Estudos realizados nos EUA indicam que a grande maioria desses jovens excluídos afastam-se de famílias conservadores e profundamente religiosas. Nesses contextos, compreender a homossexualidade como algo natural é intensamente mais difícil. Quase metade dos homossexuais norte-americanos afastam-se de casa pouco tempo depois de admitirem suas orientações sexuais perante a família – a maioria contra a própria vontade. [1] Ora, a homossexualidade é uma orientação sexual, assim como a heterossexualidade e bissexualidade (assexualidade pode ser considerada uma orientação também). São orientações naturais, não provindas de distúrbios ou quebras de personalidade, conforme assegura o Espirito Emmanuel em “Vida e Sexo”, no capítulo intitulado “homossexualidade”. 

    Recentemente , como se não bastasse o barbarismo cometido por Omar Mateen, um aliado do Estado Islâmico resultando na morte de 49 de pessoas, na boate Pulse, deixando outras 50 feridas, sabemos de muitas outras formas de aberrações praticadas contra homossexuais. Na verdade, o fundamentalismo religioso é a maior tragédia que existe no mundo. Não há como entender o ódio que culmina em atos de violência e tortura contra as pessoas em nome de Deus. 

    Após o episódio ocorrido na casa noturna Pulse em Orlando, Estados Unido, um pastor norte-americano disse que “não está triste por homossexuais terem sido mortos na boate. (...) a tragédia é que mais deles não tenham morrido. Eu gostaria que o governo os reunisse, colocasse todos contra uma parede, colocasse o pelotão de fuzilamento na frente deles e explodisse seus cérebros. ”[2] Outros grupos cristãos extremistas, como a Westboro Baptist Church, afirmaram que os frequentadores da Pulse estavam “no inferno” após os assassinatos. “A tragédia mesmo é que mais deles não tenham morrido. A tragédia é o Omar Mateen não ter terminado o trabalho – porque estas pessoas são predadores. Eles são abusadores. [3] 

    O assunto homossexualidade não foi pesquisado em profundidade pelo Codificador nas obras básicas. Em O Livro dos Espíritos, observamos, porém, que podemos reencarnar na categoria de homem, ou na condição de mulher. No mundo espiritual a questão do título de “ele” ou “ela” não faz muito sentido, porquanto os Espíritos não se tratam na condição de gênero. 

    Não há, portanto, reprodução de espíritos no além pelo processo de acasalamento sexual. Todavia, as genitálias existentes no corpo físico se justificam em razão das leis de manifestação biológica (carnal) objetivando adequar o processo reencarnatório pela reprodução biológica por meio da cópula sexual. 

    A prova masculina e ou feminina em múltiplas vidas, o predomínio em tal ou qual experiência estabelece que o Espírito conserve as características que nele ficou gravado, consequência da influência que o corpo físico transmite ao perispírito. Por conseguinte, o Espírito, em reencarnando, apresentará as particularidades do gênero que mais longamente viveu e apresentará na estrutura psicológica as inclinações afins a essas experiências pregressas. 

    Portanto, somos Espíritos de polaridade psicológica masculina ou feminina, consequência de contínuas reencarnações num ou noutro gênero. Tão-somente após sobrepujarmos nossas falhas anexas ao apego à matéria , ao sensualismo, ao egoísmo e ao orgulho é que os nossos atributos sexuais desaparecerão, automática e gradativamente, após a obtenção de “qualidades nobres inerentes à masculinidade e à feminilidade”. [4] 

    As provas diferentes que vivemos no corpo físico se distinguem pela transitoriedade. Tudo se transforma e, se bem acolhido como lição vantajosa, será agente de maior felicidade no futuro. O que importa realmente é o que fazemos de bom nas hostes da caridade em favor do semelhante e de nós próprios, como abrigamos e compreendemos as ações dos outros e não as nossas condições de gêneros. 

    Referências: 
    [1] Disponível em https://br.noticias.yahoo.com/40-dos-sem-teto-dos-eua-s%C3%A3o-adolescentes-133537214.html acessado em 15/06/2016 
    [2] Disponível em https://br.noticias.yahoo.com/pastor-norte-americano-diz-estar-chateado-por-081729018.html?nhp=1 acessado em 19/06/2016 
    [3] Idem 

    [4] Viera, Waldo e Xavier, Francisco Cândido. Evolução em Dois Mundos, ditado pelo espirito André Luiz, cap. XII, RJ: Ed. FEB, 1999