Jorge Hessen
jorgehessen@gmail.com
Em 1978, durante a reunião do “CFN”
Conselho Federativo Nacional (colégio cardinalício) da FEB, um representante da
FEEES- Federação espírita do estado de Espírito Santo defendeu a transformação
do” CFN” (colégio cardinalício)- numa Confederação Espírita Brasileira. Porém, Francisco Thiesen, então presidente da
FEB, ameaçou pronunciando que a FEB jamais transformaria o “CFN” (colégio cardinalício) numa Confederação
porque o “CFN” (colégio cardinalício) era um órgão de [“propriedade”] da FEB.
Entretanto, afirmou que os presidentes das federações estaduais eram livres
para se reunirem fora do “CFN” (colégio cardinalício) e criarem uma Confederação
Espírita Brasileira.
Como no Brasil tudo é peculiar,
os dirigentes das federações estaduais continuam achando “delicioso” se
submeterem ao autoritarismo febiano. Exceto o brioso Gelio Lacerda da Silva, ex-presidente da FEEES
- Federação espírita do Espírito Santo, que narra na obra “Conscientização
espírita”[1], “a direção da FEB na
pessoa do vice-presidente, Sr. Juvanir Borges de Souza, ao término da reunião do
Conselho Federativo Nacional “CFN” (colégio cardinalício), em Brasília, de
julho de 1980, me advertiu dizendo que a reforma estatuária da FEEES fechou as
portas a Roustaing e que, se não fosse mudado, a FEB cancelaria a adesão da FEEES ao “CFN” (colégio cardinalício)”.
Lacerda acrescenta que a “FEB vem
tomando atitudes arbitrárias e ameaçadoras dessa natureza, isso ao longo de sua
existência, sob o olhar dulcificado e complacente dos dirigentes das federativas
estaduais. Gelio afirma que com a FEB o movimento espírita vive sob regime de liberdade
vigiada". [2]
Mas Deus é justo. Para quem
não sabe, me apraz informar que o ex-prestigioso parque gráfico febiano,
localizado em São Cristóvão, Rio de Janeiro, faliu (encerrou suas atividades) por intervenção,
obra e graça da Providência divina.
Vivemos novos tempos. Creio
que a era virtual, das redes sociais e de outras plataformas da internet despedaçaram
a supremacia da FEB e das federações estaduais. Hoje em dia, nenhum estudioso
ou adepto do Espiritismo necessita dessas entidades antiquadas. Em verdade a
Doutrina dos Espíritos tem chegado a incomensurável número de adeptos, graças
ao novo paradigma da difusão das obras de Allan Kardec.
Prevemos uma era de união
espontânea, bom ânimo, coragem e sabedoria dos espíritas em torno das obras
codificadas por Kardec, e obviamente distantes da chibata da “uniformização”,
que é o farol da infausta “unificação” federada. Deste modo, temos observado
que afastados das “cúpulas federativas infalíveis” vige maior fraternidade
entre os espíritas. Hoje se acolhe e se convive com diversos modos diferentes
de abranger, interpretar e vivenciar o projeto da Terceira Revelação.
Como dizia Chico Xavier - “É
preciso fugir da tendência à "elitização" no seio do movimento
espírita. É necessário que os dirigentes espíritas, principalmente os ligados
aos órgãos federativos, compreendam e sintam que o Espiritismo veio para o povo
e com ele dialogar. É indispensável que estudemos a Doutrina Espírita junto com
as massas, que amemos a todos os companheiros, mas sobretudo, aos espíritas
mais humildes social e intelectualmente falando e deles nos aproximarmos com
real espírito de compreensão e fraternidade. Mais do que justo evitarmos isso,
a "elitização" no Espiritismo, isto é, a formação do "espírito
de cúpula", com evocação de infalibilidade, em nossas organizações. [3]
Ora sabemos que no “espírito
de cúpula” e “evocação de infalibilidade”, o primeiro decorre do segundo.
Considerar-se “infalível” e superior aos outros é o que caracteriza a prepotência. Chico aponta com coragem que estes problemas estão acontecendo nos
"órgãos federativos". Por que Chico fez tal confissão? Por causa
do distanciamento da “cúpula” dos espíritas deserdados. Pela excessiva
centralização hierárquica e destruição dos canais de diálogo da maioria das
federações com a comunidade pobre dos espíritas de periferia. “Sinceramente,
não conseguimos compreender o Espiritismo, sem Jesus e sem Kardec para todos,
com todos, e ao alcance de todos, a fim de que o projeto da Terceira Revelação
alcance os fins a que se propõe”. [4]
Referências bibliográficas:
[1]DA SILVA, Gelio Lacerda.
Conscientização espírita, 1ª. edição, SP: EME editora 1995
[2] Idem
[3]cf. Entrevista concedida ao
dr. Jarbas leone varanda e publicada no jornal uberabense o triângulo espírita,
de 20 de março de 1977, e publicada no livro intitulado encontro no tempo, org.
Hércio m. C. Arantes, editora Ide/SP/1979.
[4]Idem