Congressos espíritas - “ISCAS” para vendas de apetrechos “doutrinários” (Jorge Hessen)
Jorge Hessen
jorgehessen@gmail.com
Brasília/DF
O “movimento espírita” contemporâneo é análogo à expressão “samba do crioulo doido”, criado pelo jornalista Sérgio Porto (Stanislaw Ponte Preta). Cada grupo, cada instituição, cada emissário federativo “oficial”, cada pregador, vai improvisando um singular "espiritismo à moda da casa”. Em face disso, as lideranças oficiais do “movimento espírita” sofisticam conteúdos, arquitetam novidades e adornam conceitos que deveriam ser simples.
É inexplicável o “silêncio de múmia” das lideranças federativas perante as grotescas adulterações de A Gênese, no século XIX (presentemente reveladas e comprovadas). O que observamos no “movimento espírita” recente, é a reedição do desvio do projeto inicial, de 1857. Os eternos donos do “movimento espírita oficial” perderam o foco do Projeto Espírita Codificado por Allan Kardec e submergiram nos túmulos do ultramontanismo doutrinário, introduzindo um monte de coerções, crendices e ilusões teosóficas, esotéricas e roustanistas.
O resultado não poderia ser outro - senão - a desunião doutrinária entre os espíritas no Brasil.
Tudo isso são sequelas das proezas igrejeiras advindos dos ancestrais dirigentes oficiais da cúria febeana, com suas eternas recaídas de espírito de cúpula e infalibilidade. Desta forma, as constrangidas federativas cooperam para o sobrecarregado misticismo, especialmente ao recusarem espaço para os obrigatórios estudos comparativos entre A Gênese ORIGINAL e a febeana, até porque o autodenominado “órgão máximo” do movimento espírita brasileiro bateu o martelo sentenciando que a 5ª. edição mutilada de A Gênese é a definitiva.
Nessa postura autoritária tal “órgão máximo” do movimento espírita brasileiro atravanca o curso natural das pesquisas, da compreensão, da racionalidade kardeciana, a fim de que o movimento espírita livre prospere nos estudos e lições legítimos de Allan Kardec, que há 150 anos foram criminosamente lançados no lixo da História pelo lunático Leymarie.
Mudando um pouquinho de enfoque, informamos que está previsto para 2019 nas terras candangas, mais um soberbo congresso “espírita” destinado aos apatacados.
Tais eventos sempre foram excludentes , a rigor são folias religiosas, onde os oradores convidados (sempre são as mesmas figurinhas carimbadas que dão IBOPE) se ostentam para espectadores devotos, em meio a um espetáculo mercantil onde se comercializa de tudo, cd’s , dvd’s, livros “psicografados”, camisetas impressas, quejandos dentre outros caraminguás diversos, stands sortidos (tipo Tem de Tudo), praças de alimentação etc. Tudo arranjado para deleitar à turba estrábica e ao mesmo tempo impedir que ideias adversas ao “poder oficial dominante” possam ser declarados.
A mensagem espírita é veiculada através de palestrantes idolatrados por carregarem na bagagem da presunção seus discursos mansos que sempre resvalam no sapecado lugar comum. Discursadores que se creem atores globais sob reluzentes holofotes místicos das paródias populares, tudo sob o beneplácito dos organizadores, dotados de nenhum estofo doutrinário.
Observa-se alguns pregadores, que se tornaram profissionais da tribuna espírita, com a finalidade de amealharem direta ou indiretamente os recursos financeiros oriundos das “palestras-chamarizes” como “ISCAS” para comercialização de CD’S, DVD’S e LIVROS que são vendidos para o público presente ou alienados para instituições interessadas.
Seria possível que Allan Kardec sonhasse com esse modelo atual de “movimento espírita” à moda brasileira? Estamos certos que NÃO!!!! O Espiritismo sonhado por Kardec era o mesmo Espiritismo que Chico Xavier exemplificou por mais de setenta anos, ou seja, o Espiritismo do Centro Espírita simples, muitas vezes iluminado à luz de lampião; da visitação aos desprovidos de bens materiais, da distribuição do pão, da "sopa fraterna", da água fluidificada, do Evangelho no Lar etc.
A rigor, a Doutrina Espírita é o convite à liberdade de pensamento, tem movimento próprio, por isso, urge deixar fluir naturalmente, seguindo-lhe a direção que repousa, invariavelmente, nas mãos do Cristo. Sim! E o grande desafio da Doutrina dos Espíritos deve ser o crescimento da qualidade, sem perder de vista a simplicidade que a caracteriza como Nova Revelação.