Em 2008 a China foi penitenciada
por uma série de catástrofes naturais e agitada pelos violentos protestos no
Tibete (rincão do Dalai Lama). Depois, ocorreu catastrófico terremoto de 7,9 graus na escala
Richter, em Sichuan. Alguns explicaram tais
acontecimentos com base na astrologia
chinesa, um sistema tradicional desenvolvido há milhares de anos. Segundo essa
crença, 2008 foi o Ano do Rato. O povo chinês crê, fervorosamente, na
astrologia dos animais. Difunde-se que o cavalo entra em choque com o rato.
Isso é uma coisa muito comum, bastante conhecida do povo chinês. Portanto, se
alguém nasce no Ano do Cavalo, por causa desse conflito, o Ano do Rato será
muito turbulento para esse alguém. Acredita-se, ainda, que existe remédio para
isso, bastando que as pessoas carreguem consigo um pingente de boi para
amenizar os problemas, uma vez que o boi é visto como um amigo do rato. (!...)
Não vamos censurar as
práticas das culturas estranhas às nossas, pois que devemos, obviamente,
respeitá-las, mas cabe-nos reflexões necessárias, sob a bandeira Espírita, a questão
da Astrologia. Nosso ponto de partida é o lembrete do Espírito Emmanuel: "As antigas assertivas astrológicas têm
sua razão de ser. O campo magnético e as conjunções dos planetas influenciam no
complexo celular do homem físico, em sua formação orgânica e em seu nascimento
na Terra; porém, a existência planetária é sinônimo de luta. Se as influências
astrais não favorecem a determinadas criaturas, urge que estas lutem contra os
elementos perturbadores, porque, acima de todas as verdades astrológicas, temos
o Evangelho, e o Evangelho nos ensina que cada qual receberá por suas obras,
achando-se cada homem sob as influências que merece."(1)
A Astrologia é, na sua
origem, um sistema de pensamento e de crenças usado para explicar
acontecimentos comuns e comportamentos humanos. Influenciava o homem, assim
como os deuses ou as forças sobrenaturais, na ordenação do Mundo e do Universo.
A respeito dessa crença, sabemos não ter qualquer base científica, nada havendo
em relação aos próprios astros: sua massa, tamanho, distância, intensidade
magnética ou eletromagnética, movimento, gravidade etc. A Astrologia é baseada,
exclusivamente, em figuras imaginadas e mitológicas que envolvem o nome de
alguns objetos celestes, que os astrólogos escolhem a bel-prazer, sem qualquer
critério ou fundamento lógico. Senão, vejamos: as constelações, por exemplo,
resultam do desenho que o agrupamento de estrelas forma no céu, como: Leão,
Virgem, etc., mas, se nos fosse possível uma significativa aproximação com
essas constelações, não mais seria a mesma a forma desses grupos estelares, e
uma nova configuração se nos desenharia à vista.
Como se não bastasse,
há a questão da precessão dos equinócios, que ocasiona outra mudança: a que se
opera na posição dos signos do zodíaco. No percurso de translação da Terra, ao
redor do Sol, em um ano, ela se encontra, a cada mês, diante de uma
constelação. Estas são em número de doze, a saber: o Carneiro, o Touro, os
Gêmeos, o Câncer, o Leão, a Virgem, a Balança, o Escorpião, o Sagitário, o
Capricórnio, o Aquário, os Peixes. São chamadas constelações zodiacais, ou
signos do zodíaco, e formam um círculo no plano do equador terrestre. Conforme
o mês do nascimento de um indivíduo, dizia-se que ele nascera sob tal ou tal
signo; daí os prognósticos da Astrologia. Porém, em virtude da precessão dos
equinócios, os meses já não correspondem às mesmas constelações. Um indivíduo
que nasça no mês de julho já não está no signo de Leão, porém no de Câncer. Cai
por terra, assim, a ideia supersticiosa da influência dos signos.!" (2)
A propósito, Kardec
ainda explica que a "-Astrologia se apoiava na posição e no movimento dos
astros, que ela estudara; mas, na ignorância das verdadeiras leis que regem o
mecanismo do Universo, os astros eram, para o vulgo, seres misteriosos, que a
superstição atribuía uma influência moral e um sentido revelador. Quando
Galileu, Newton e Kepler tornaram conhecidas essas leis, quando o telescópio
rasgou o véu e mergulhou nas profundezas do espaço um olhar que algumas
criaturas acharam indiscreto, os planetas apareceram como simples mundos
semelhantes ao nosso e todo o castelo do maravilhoso desmoronou." (3)
Portanto, para os
espíritas, a Astrologia não tem qualquer fundamento lógico quanto à influência
dos astros sobre o destino dos homens. No que pese o acatamento respeitoso que
merecem os estudos astrológicos, sabemos, no entanto, que, dentro do nosso
zimbório celestial e da conjunção dos astros, quem nasce sob esta ou aquela
ação magnética por eles emanada, pode até sofrer certas influências
psicofísicas e comportamentais, mas sem que isso modifique o seu destino, que é
traçado pelas nossas ações e reações do pretérito. Isso, porque, alguém que
nascesse fortuitamente dentro de uma conjunção astrológica favorável, estaria
ludibriando as Leis de Deus. André Luiz nos acalenta, sobre essa questão, da
seguinte forma: "Jamais impressionar-se com prognósticos astrológicos
desfavoráveis, na certeza de que, se as influências inclinam, a nossa vontade é
força determinante." (4) O Mestre de Lyon questiona os Benfeitores se
"- Há pessoas que uma fatalidade parece perseguir independentemente de sua
maneira de agir; a infelicidade não está no seu destino?" Os Espíritos
ensinam-lhe que "- Pode ser que sejam provas que elas devem suportar e que
escolheram. Mas, ainda uma vez, levais à conta do destino o que não é, o mais frequentemente,
senão a consequência de vossa própria falta. Nos males que te afligem,
esforça-te para que a tua consciência seja pura, e serás consolado em
parte." (5)
Admitir que o indivíduo
pudesse ser brando ou violento, ter vocação para o estudo ou odiar livros, ser
trabalhador ou preguiçoso, por influência astrológica, é algo muitíssimo
estranho. Poderia ter sido um criminoso, um desequilibrado qualquer, na
encarnação anterior... Por uma injunção casual, renasce agora, dentro de um bom
aspecto planetário, para gozar, então, de uma felicidade que o justo não tem?!
Isto seria uma aberração nos Estatutos da Lei de Deus. Os astros não governam
nossa vida. Somente quem está sempre aberto a aquiescer ilusões sobre os
mistérios do destino humano, acredita nisso. Há pessoas tão criativas, que até leem
o futuro dos outros na borra do café e, lógico, que muitos ganham dinheiro,
apostando na ingenuidade humana, não há a menor dúvida.
Sabemos que há muitos
psiquiatras, psicanalistas, psicólogos, astrólogos, esotéricos e aproveitadores
de toda sorte, que enriquecem a custa da infelicidade alheia, da depressão do
próximo. Existe todo tipo de comprimidos: pílulas para dor de dente, dor
cabeça, para emagrecimento, para distúrbios do sono (benzodiazepínicos),
calmantes (ansiolíticos), excitantes, etc. Faz-se propaganda dos comprimidos
como se eles pudessem resolver tudo. Em verdade, quando não entendemos o
verdadeiro amor, ficamos procurando, nos labirintos da ilusão, uma fórmula
mágica para a felicidade. O Mundo exige que as pessoas estejam,
permanentemente, alegres e, por isso, ele se tornou o paraíso das drogas e do
Prozac ou, ainda, das ilusões dos horóscopos.
Repetimos: a influência
dos astros existe, somente, no complexo celular do homem físico, ou seja, não
existe influência no caráter ou no destino do homem, mas somente no físico.
Quanto a essa influência, ninguém poderá negar. Se fizermos uma pesquisa,
fatalmente, iremos comprovar que nas noites de Lua cheia, ocorre um maior
número de partos nos animais, aí também incluímos o homem (animal racional). A
influência da lua nas marés é outro exemplo que citamos. Os astros, pelas
energias que emitem, inegavelmente, exercem influência uns sobre outros. Na
Terra, via de consequência, determinados fenômenos naturais e determinadas
matérias absorvem, igualmente, as tais radiações de energia. A nossa maneira de
ser, o nosso caráter e o nosso destino são frutos de nossas aquisições ou ações
pretéritas, ou seja, recebemos influências de nós mesmos ou, no máximo, de um
ser humano para outro, mas, jamais, dos astros.
Ratificando este texto,
no livro A Gênese, capítulo 7, Allan Kardec destaca a impropriedade da
Astrologia, abordando fatos científicos, (6) mas a pá de cal sobre o assunto
está na questão 867, (7) de O Livro dos Espíritos. Pergunta o Codificador:
"-Donde vem a expressão: Nascer sob uma boa estrela?" Respondem os
espíritos mentores, incisivamente: "- Antiga superstição, que prendia às
estrelas os destinos dos homens. Alegoria que algumas pessoas fazem a tolice de
tomar ao pé da letra."
O que propomos, nestes
arrazoados, passa longe de deliberado reproche aos que acreditam em Astrologia,
pois é nosso dever cristão que nos respeitemos, uns aos outros e, se hoje já
encontramos a luz da Terceira Revelação, muitos a encontrarão, também, no amanhã.
Jorge Hessen
Referências
bibliográficas:
1 Xavier, Francisco
Cândido. O Consolador, Ditado pelo Espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed. FEB,
2001 questão n.º 140
2 Kardec, Allan. A
Gênese. Rio de Janeiro: FEB, 1991
3 Idem
4 Vieira, Waldo.
Conduta Espírita, 21ª edição, Ditado pelo Espírito André Luiz, Rio de Janeiro:
Ed. FEB, 2001, capítulo intitulado "PERANTE AS REVELAÇÕES DO PASSADO E DO
FUTURO"
5 Kardec, Allan. O
Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: FEB, 1991, questão 852
6 Kardec, Allan. A
Gênese. Rio de Janeiro: FEB, 1991, capítulo 7
7 Kardec, Allan. O
Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: FEB, 1991, questão 867
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