Recentemente, em São Paulo, um jovem de 19 anos foi morto por sua própria mãe, provavelmente, por força de um ritual de magia negra. Quando foi presa, estava em crise psicótica (loucura? ou possessão?); falava sobre demônios e assuntos satânicos, e seis policiais foram necessários para dominar aquela senhora que pertencia a comunidades religiosas não convencionais da internet que adotam o sacrifício humano. Conforme investigação policial, ela teria dito que o filho tinha que ser morto por um "bem maior"(...!?...) Em os Atos dos Apóstolos, lemos o seguinte "e o homem que estava possesso do espírito mau pulou sobre eles com tanta violência, que tiveram de fugir daquela casa, sem roupas e cobertos de ferimentos."(1)
Considerando o trágico episódio, deliberei acessar um site que divulga essas práticas de magia negra. Observei que há advertências ameaçadoras do tipo: "não se meta em aventuras" - "os perigos espreitam..." - "tem que estar preparado(a), os riscos são muito grandes..." - "não faça nada sem ajuda de um mago".(!!!!) No site, sem colorido agradável, encontrei ainda o seguinte trecho: "existem em nós forças vivas não utilizadas, e muitas influências não controladas, que podem ser usadas em tudo. Forças, que podem ser usadas para vosso beneficio desde agora, e servir para vos conduzir nos caminhos do grande sucesso, nos campos afetivo, profissional e financeiro, além da resolução dos mais diversos problemas que se nos apresentam no dia a dia, contudo, devo chamar a atenção para as graves consequências, isto se não souber lidar com tais influências, que além de outras coisas nos podem levar à loucura e perdição total". Lendo essas advertências na Internet, senti-me vivendo os densos ares medievais, em que pese nossa pujante era cibernética.
Na ameaçadora home Page, tive que ler: "ainda hoje se realizam as famosas missas negras e os participantes, são em geral pessoas cultas e de formação superior. O satanismo tem cada vez mais iniciados, e tudo isso faz parte de um mundo que não é visto com bons olhos, porque ninguém acredita ..!mas...como são grandes e inúmeros os problemas resolvidos diariamente com a magia e solicitados pelas mais diversas classes sociais. Viva a magia, a feitiçaria e tudo o mais que rodeia o oculto." Regurgita o "mago" coordenador do macabro site. Ressalte-se que nas práticas kardecistas, conforme os ensinamentos dos Espíritos, não se fazem sacrifícios humanos, não se interrogam astros, adivinhos e magos para se informar de qualquer "revelação"; não se usam objetos, medalhas, talismãs, fórmulas sacramentais, e nem se escolhem lugares lúgubres e horários específicos para atrair ou afastar Espíritos.
Na sociedade medieval, temerosa dos poderes espirituais ocultos, a doença mental era encarada como resultado da presença demoníaca, da força maligna na sua plena ação. O louco era submetido a sessões de tortura física e psicológica; não havia compreensão e um sentimento de ódio e temor rondavam a relação entre os sãos e os doentes. O desconhecimento quase que completo, levou à busca de tratamentos dolorosos aos doentes. A trepanação - matriz das modernas lobotomias - consistia em abrir buracos nos crânios dos doentes de 2,5 a 5 cm de diâmetro, sem anestesia ou assepsia adequadas. Os "doutores" buscavam remover a pierre de folie (pedra da loucura) que acreditavam existir nos cérebros dos doentes. O que acontecia de fato é que eram feitas verdadeiras mutilações que exauriam as forças dos doentes e, por vezes, acabavam por deixar os pacientes privados de certos movimentos.
A partir do século XIX, com o nascimento da psicanálise e as importantes contribuições de Freud, a psiquiatria, como um dos braços da medicina, pôde avançar em alguns pontos no tratamento da loucura, mas não suficientemente. "Há desordens patológicas, que são meras conseqüências e contra as quais nada adiantam os tratamentos médicos, enquanto subsiste a causa originária. Dando a conhecer essa fonte, donde provém uma parte das misérias humanas, o Espiritismo indica o remédio a ser aplicado: atuar sobre o autor do mal que, sendo um ser inteligente (espírito), deve ser tratado por meio da inteligência." (2)
A psiquiatria tem estado atada pelos limites do cérebro, pelas barreiras do corpo material, fonte que, sabemos, não é a origem principal da doença, mas sim a manifestação de algo que é externo a ele. Vejamos agora no que o Espiritismo contribuiu para o entendimento dessa questão. Allan Kardec e os Espíritos da Codificação nos apresentaram um elemento primordial para o entendimento do ser humano na sua essência: o Espírito. O ser imortal; aquele que viveu e viverá inúmeras existências através das reencarnações. A loucura - ou a doença mental, como preferir - deve ser também encarada sob esse prisma, como reflexo de erros assumidos no passado. Como se manifesta de uma forma negativa, trazendo sofrimento, tanto para o doente, como para a família, há que se concluir que seja reflexo de uma falta anterior.
Outro aspecto que temos de considerar é a loucura desencadeada por um processo obsessivo ou possessivo, que, também, tem por causa um ato anterior. Um histórico de disputas e relações não resolvidas envolvem vítima e algoz, agora, em papéis invertidos. O obsessor ou "possessor" acredita que sua má influência, como vingança ao ofensor encarnado, o livrará da dor que carrega, influência essa que pode, inclusive, levar o obsidiado ou possesso a um diagnóstico equivocado de deficiência mental.
Não cremos no poder irrestrito das forças dos espíritos maus em face de pacto de magia negra com os mesmos. Há, no entanto, pessoas (encarnadas) perversas, no limite da loucura, que simpatizam com os Espíritos inferiores (ignorantes) e pedem que eles pratiquem o mal, ficando, então, obrigados a servi-los, porque estes, também, precisam da "recompensa" pelo empenho no mal. Nisso, apenas, é que consiste o pacto. É como explicam os Benfeitores: "por exemplo - queres atormentar o teu vizinho e não sabes como fazê-lo; chamas então os Espíritos inferiores que, como tu, só querem o mal; e para te ajudar querem também que os sirva com seus maus desígnios. Mas disso não se segue que o teu vizinho não possa se livrar deles, por uma conjuração contrária ou pela sua própria vontade."(3)
Objetivamente falando, a possessão pode ser promovida, também, por um Espírito bom. "A possessão pode ser o feito de um bom Espírito que quer falar e, para fazer mais impressão sobre os seus ouvintes, toma emprestado o corpo de um encarnado, que este lhe cede voluntariamente tal como se empresta uma roupa. Isto se faz sem nenhuma perturbação ou incômodo e, durante este tempo, o Espírito se encontra em liberdade como num estado de emancipação e freqüentemente se conserva ao lado de seu substituto para o ouvir."(4)
No trágico caso que estamos analisando, podemos também inferir sobre um processo de subjugação profunda, lembrando que a possessão é sempre temporária e intermitente, porque um Espírito desencarnado não pode tomar, definitivamente, o lugar de um encarnado, pelo simples fato de que a união molecular do perispírito com o corpo só se opera no momento da concepção. No caso de posse momentânea do corpo do encarnado, o Espírito se serve dele como se seu fora: fala pela sua boca, vê pelos seus olhos, opera com seus braços, conforme faria se estivesse vivo. Não é como na mediunidade psicofônica, em que o Espírito encarnado fala, transmitindo o pensamento de um desencarnado; no caso da possessão é mesmo o espírito "possessor" quem fala e age. Servindo-se dos órgãos e dos membros da infeliz vítima, blasfema, injuria e maltrata os que a cercam; entrega-se a excentricidades e a atos que apresentam todos os caracteres da loucura furiosa, inclusive homicídio.
Cabe lembrar que o encarnado pode, também, por sua vontade, lançar uma carga de fluidos mórbidos sobre uma pessoa, e se esse magnetismo inferior encontrar sintonia em quem está sendo alvo dessa má intenção, os efeitos poderão ser maléficos. Um Espírito desencarnado também pode fazê-lo, com consequências iguais às do encarnado. Ora, os trabalhos feitos (despachos), "macumbas" ou magia negra nada mais são do que o movimento de baixo magnetismo, realizado por homens e Espíritos perversos.
Para libertar alguém que esteja sendo vítima desse mal, não é necessário o uso de qualquer objeto material, ou ritual, como acontece em terreiros. Porém, é importante um preparo moral e intelectual mínimo. O tema "magia negra" ainda não foi estudado de forma abundante pelos pesquisadores espíritas, isto é, pelos seguidores da Doutrina Espírita, codificada por Kardec. Há confrades que não acreditam na possibilidade da existência dos conjuros, ou trabalhos feitos, como é conhecida a Magia Negra. No entanto, um estudo cuidadoso da teoria de O Livro dos Espíritos, e de algumas citações feitas por Allan Kardec na Revista Espírita, mostram que essas manobras mediúnicas, com a finalidade de prejudicar o próximo, são perfeitamente possíveis. Como citei acima, na questão 549, Kardec pergunta - Há alguma coisa de verdadeiro nos pactos com os maus Espíritos? Na resposta, o Espírito de Verdade demonstra, de maneira muito clara, que é possível uma criatura evocar maus Espíritos para ajudá-la a causar mal a outra pessoa. A resposta esclarece, ainda, que esse ato pode ser realizado por uma sequência de procedimentos conhecidos como conjuração. Vai mais adiante, dizendo que a pessoa atingida pelo malefício poderá se livrar dele, por uma vontade poderosa ou por uma conjuração contrária àquela que foi usada, com maus propósitos, para prejudicá-la. Um desconjuro, que nos terreiros se chama: "desmanche".
Aquilo que pode fazer um espírito encarnado, dardejando seu próprio fluido sobre uma pessoa, um desencarnado pode, igualmente, fazer, desde que tenha o mesmo fluido. Desse modo, pode magnetizar e, dependendo de ser bom ou mau o fluido emitido, sua ação será benéfica ou malfazeja".(5)
Na pergunta 551, Kardec indaga se alguém poderia fazer mal ao seu próximo, com auxílio de um Espírito mau que lhe fosse devotado. A resposta é clara: "Não, Deus não o permitiria." (6)Aprofundando a questão, vejamos: Na questão 557, Os Espíritos explicam: "Deus não ouve uma maldição injusta".(7) Isso pode significar que permite uma maldição justa, ou seja, quando o homem de alguma forma, ou por alguma razão, mereça aquele mal. A assertiva 552, de O Livro dos Espíritos, permite-nos compreender que: "...algumas pessoas têm um poder magnético muito grande, do qual podem fazer mau uso, se seu próprio Espírito for mau. Nesse caso, poderão ser secundadas por maus Espíritos".(8) Numa situação inversa ao que utilizamos nos centros espíritas, pessoas de mentalidade doentia, cheias de maus pensamentos, dotadas de grande poder magnético, com más intenções, secundadas por maus Espíritos, podem arremessar cargas fluídicas negativas sobre aqueles a quem querem prejudicar.
Os maus Espíritos pululam ao redor da Terra, em consequência da inferioridade moral de seus habitantes. Sua ação malfazeja faz parte dos flagelos, aos quais a Humanidade está exposta neste mundo. O Espiritismo considera a gênese do fenômeno da possessão uma faculdade mediúnica desgovernada e trata esse tipo de manifestação através do diálogo com o Espírito possessor, buscando compreender suas razões para esclarecê-lo e libertá-lo da sua própria ignorância e confusão mental. Nas reuniões de Magia Negra os objetos materiais e os rituais são utilizados para fortalecer a fé nos maus propósitos projetados àqueles contra os quais se deseja prejudicar. A assistência espiritual é de Espíritos inferiores, que se identificam com seres encarnados, também, de qualidades morais inferiores, desejosos por afligir e enfermar o próximo ou, ainda, ver realizados os interesses de ordem material. Se as criaturas visadas estiverem sintonizadas em faixas de equivalência vibratória, não tenhamos dúvidas de que serão atingidas por elas. É bem verdade que os bons Espíritos nos protegem destes malefícios, mas temos que ter merecimento para isso. É a sintonia. Alguém duvida disso?
Jorge Hessen
E-Mail: jorgehessen@gmail.com
Site: http://jorgehessen.net
FONTES:
(1) Atos 19: 16
(2) Kardec , Allan. A Gênese, Rio de Janeiro: Ed FEB 2001, capítulo XIV, itens 47 e 48
(3) _____, Allan. O Livro dos Espíritos, RJ: Ed. FEB, 1999, questão 549
(4) _____, Allan. A Gênese, Rio de Janeiro: Ed FEB 2001, capítulo XIV, item 48
(5) _____, Allan. "Estudos sobre os possessos de Morzine", in Revista Espírita, São Paulo: Edicel, dezembro de 1862; Janeiro, Fevereiro, Abril., Maio. 1863
(6) _____, Allan. O Livro dos Espíritos, RJ: Ed. FEB, 1999, questão 551
(7) idem questão 557
(8) idem questão 552
Considerando o trágico episódio, deliberei acessar um site que divulga essas práticas de magia negra. Observei que há advertências ameaçadoras do tipo: "não se meta em aventuras" - "os perigos espreitam..." - "tem que estar preparado(a), os riscos são muito grandes..." - "não faça nada sem ajuda de um mago".(!!!!) No site, sem colorido agradável, encontrei ainda o seguinte trecho: "existem em nós forças vivas não utilizadas, e muitas influências não controladas, que podem ser usadas em tudo. Forças, que podem ser usadas para vosso beneficio desde agora, e servir para vos conduzir nos caminhos do grande sucesso, nos campos afetivo, profissional e financeiro, além da resolução dos mais diversos problemas que se nos apresentam no dia a dia, contudo, devo chamar a atenção para as graves consequências, isto se não souber lidar com tais influências, que além de outras coisas nos podem levar à loucura e perdição total". Lendo essas advertências na Internet, senti-me vivendo os densos ares medievais, em que pese nossa pujante era cibernética.
Na ameaçadora home Page, tive que ler: "ainda hoje se realizam as famosas missas negras e os participantes, são em geral pessoas cultas e de formação superior. O satanismo tem cada vez mais iniciados, e tudo isso faz parte de um mundo que não é visto com bons olhos, porque ninguém acredita ..!mas...como são grandes e inúmeros os problemas resolvidos diariamente com a magia e solicitados pelas mais diversas classes sociais. Viva a magia, a feitiçaria e tudo o mais que rodeia o oculto." Regurgita o "mago" coordenador do macabro site. Ressalte-se que nas práticas kardecistas, conforme os ensinamentos dos Espíritos, não se fazem sacrifícios humanos, não se interrogam astros, adivinhos e magos para se informar de qualquer "revelação"; não se usam objetos, medalhas, talismãs, fórmulas sacramentais, e nem se escolhem lugares lúgubres e horários específicos para atrair ou afastar Espíritos.
Na sociedade medieval, temerosa dos poderes espirituais ocultos, a doença mental era encarada como resultado da presença demoníaca, da força maligna na sua plena ação. O louco era submetido a sessões de tortura física e psicológica; não havia compreensão e um sentimento de ódio e temor rondavam a relação entre os sãos e os doentes. O desconhecimento quase que completo, levou à busca de tratamentos dolorosos aos doentes. A trepanação - matriz das modernas lobotomias - consistia em abrir buracos nos crânios dos doentes de 2,5 a 5 cm de diâmetro, sem anestesia ou assepsia adequadas. Os "doutores" buscavam remover a pierre de folie (pedra da loucura) que acreditavam existir nos cérebros dos doentes. O que acontecia de fato é que eram feitas verdadeiras mutilações que exauriam as forças dos doentes e, por vezes, acabavam por deixar os pacientes privados de certos movimentos.
A partir do século XIX, com o nascimento da psicanálise e as importantes contribuições de Freud, a psiquiatria, como um dos braços da medicina, pôde avançar em alguns pontos no tratamento da loucura, mas não suficientemente. "Há desordens patológicas, que são meras conseqüências e contra as quais nada adiantam os tratamentos médicos, enquanto subsiste a causa originária. Dando a conhecer essa fonte, donde provém uma parte das misérias humanas, o Espiritismo indica o remédio a ser aplicado: atuar sobre o autor do mal que, sendo um ser inteligente (espírito), deve ser tratado por meio da inteligência." (2)
A psiquiatria tem estado atada pelos limites do cérebro, pelas barreiras do corpo material, fonte que, sabemos, não é a origem principal da doença, mas sim a manifestação de algo que é externo a ele. Vejamos agora no que o Espiritismo contribuiu para o entendimento dessa questão. Allan Kardec e os Espíritos da Codificação nos apresentaram um elemento primordial para o entendimento do ser humano na sua essência: o Espírito. O ser imortal; aquele que viveu e viverá inúmeras existências através das reencarnações. A loucura - ou a doença mental, como preferir - deve ser também encarada sob esse prisma, como reflexo de erros assumidos no passado. Como se manifesta de uma forma negativa, trazendo sofrimento, tanto para o doente, como para a família, há que se concluir que seja reflexo de uma falta anterior.
Outro aspecto que temos de considerar é a loucura desencadeada por um processo obsessivo ou possessivo, que, também, tem por causa um ato anterior. Um histórico de disputas e relações não resolvidas envolvem vítima e algoz, agora, em papéis invertidos. O obsessor ou "possessor" acredita que sua má influência, como vingança ao ofensor encarnado, o livrará da dor que carrega, influência essa que pode, inclusive, levar o obsidiado ou possesso a um diagnóstico equivocado de deficiência mental.
Não cremos no poder irrestrito das forças dos espíritos maus em face de pacto de magia negra com os mesmos. Há, no entanto, pessoas (encarnadas) perversas, no limite da loucura, que simpatizam com os Espíritos inferiores (ignorantes) e pedem que eles pratiquem o mal, ficando, então, obrigados a servi-los, porque estes, também, precisam da "recompensa" pelo empenho no mal. Nisso, apenas, é que consiste o pacto. É como explicam os Benfeitores: "por exemplo - queres atormentar o teu vizinho e não sabes como fazê-lo; chamas então os Espíritos inferiores que, como tu, só querem o mal; e para te ajudar querem também que os sirva com seus maus desígnios. Mas disso não se segue que o teu vizinho não possa se livrar deles, por uma conjuração contrária ou pela sua própria vontade."(3)
Objetivamente falando, a possessão pode ser promovida, também, por um Espírito bom. "A possessão pode ser o feito de um bom Espírito que quer falar e, para fazer mais impressão sobre os seus ouvintes, toma emprestado o corpo de um encarnado, que este lhe cede voluntariamente tal como se empresta uma roupa. Isto se faz sem nenhuma perturbação ou incômodo e, durante este tempo, o Espírito se encontra em liberdade como num estado de emancipação e freqüentemente se conserva ao lado de seu substituto para o ouvir."(4)
No trágico caso que estamos analisando, podemos também inferir sobre um processo de subjugação profunda, lembrando que a possessão é sempre temporária e intermitente, porque um Espírito desencarnado não pode tomar, definitivamente, o lugar de um encarnado, pelo simples fato de que a união molecular do perispírito com o corpo só se opera no momento da concepção. No caso de posse momentânea do corpo do encarnado, o Espírito se serve dele como se seu fora: fala pela sua boca, vê pelos seus olhos, opera com seus braços, conforme faria se estivesse vivo. Não é como na mediunidade psicofônica, em que o Espírito encarnado fala, transmitindo o pensamento de um desencarnado; no caso da possessão é mesmo o espírito "possessor" quem fala e age. Servindo-se dos órgãos e dos membros da infeliz vítima, blasfema, injuria e maltrata os que a cercam; entrega-se a excentricidades e a atos que apresentam todos os caracteres da loucura furiosa, inclusive homicídio.
Cabe lembrar que o encarnado pode, também, por sua vontade, lançar uma carga de fluidos mórbidos sobre uma pessoa, e se esse magnetismo inferior encontrar sintonia em quem está sendo alvo dessa má intenção, os efeitos poderão ser maléficos. Um Espírito desencarnado também pode fazê-lo, com consequências iguais às do encarnado. Ora, os trabalhos feitos (despachos), "macumbas" ou magia negra nada mais são do que o movimento de baixo magnetismo, realizado por homens e Espíritos perversos.
Para libertar alguém que esteja sendo vítima desse mal, não é necessário o uso de qualquer objeto material, ou ritual, como acontece em terreiros. Porém, é importante um preparo moral e intelectual mínimo. O tema "magia negra" ainda não foi estudado de forma abundante pelos pesquisadores espíritas, isto é, pelos seguidores da Doutrina Espírita, codificada por Kardec. Há confrades que não acreditam na possibilidade da existência dos conjuros, ou trabalhos feitos, como é conhecida a Magia Negra. No entanto, um estudo cuidadoso da teoria de O Livro dos Espíritos, e de algumas citações feitas por Allan Kardec na Revista Espírita, mostram que essas manobras mediúnicas, com a finalidade de prejudicar o próximo, são perfeitamente possíveis. Como citei acima, na questão 549, Kardec pergunta - Há alguma coisa de verdadeiro nos pactos com os maus Espíritos? Na resposta, o Espírito de Verdade demonstra, de maneira muito clara, que é possível uma criatura evocar maus Espíritos para ajudá-la a causar mal a outra pessoa. A resposta esclarece, ainda, que esse ato pode ser realizado por uma sequência de procedimentos conhecidos como conjuração. Vai mais adiante, dizendo que a pessoa atingida pelo malefício poderá se livrar dele, por uma vontade poderosa ou por uma conjuração contrária àquela que foi usada, com maus propósitos, para prejudicá-la. Um desconjuro, que nos terreiros se chama: "desmanche".
Aquilo que pode fazer um espírito encarnado, dardejando seu próprio fluido sobre uma pessoa, um desencarnado pode, igualmente, fazer, desde que tenha o mesmo fluido. Desse modo, pode magnetizar e, dependendo de ser bom ou mau o fluido emitido, sua ação será benéfica ou malfazeja".(5)
Na pergunta 551, Kardec indaga se alguém poderia fazer mal ao seu próximo, com auxílio de um Espírito mau que lhe fosse devotado. A resposta é clara: "Não, Deus não o permitiria." (6)Aprofundando a questão, vejamos: Na questão 557, Os Espíritos explicam: "Deus não ouve uma maldição injusta".(7) Isso pode significar que permite uma maldição justa, ou seja, quando o homem de alguma forma, ou por alguma razão, mereça aquele mal. A assertiva 552, de O Livro dos Espíritos, permite-nos compreender que: "...algumas pessoas têm um poder magnético muito grande, do qual podem fazer mau uso, se seu próprio Espírito for mau. Nesse caso, poderão ser secundadas por maus Espíritos".(8) Numa situação inversa ao que utilizamos nos centros espíritas, pessoas de mentalidade doentia, cheias de maus pensamentos, dotadas de grande poder magnético, com más intenções, secundadas por maus Espíritos, podem arremessar cargas fluídicas negativas sobre aqueles a quem querem prejudicar.
Os maus Espíritos pululam ao redor da Terra, em consequência da inferioridade moral de seus habitantes. Sua ação malfazeja faz parte dos flagelos, aos quais a Humanidade está exposta neste mundo. O Espiritismo considera a gênese do fenômeno da possessão uma faculdade mediúnica desgovernada e trata esse tipo de manifestação através do diálogo com o Espírito possessor, buscando compreender suas razões para esclarecê-lo e libertá-lo da sua própria ignorância e confusão mental. Nas reuniões de Magia Negra os objetos materiais e os rituais são utilizados para fortalecer a fé nos maus propósitos projetados àqueles contra os quais se deseja prejudicar. A assistência espiritual é de Espíritos inferiores, que se identificam com seres encarnados, também, de qualidades morais inferiores, desejosos por afligir e enfermar o próximo ou, ainda, ver realizados os interesses de ordem material. Se as criaturas visadas estiverem sintonizadas em faixas de equivalência vibratória, não tenhamos dúvidas de que serão atingidas por elas. É bem verdade que os bons Espíritos nos protegem destes malefícios, mas temos que ter merecimento para isso. É a sintonia. Alguém duvida disso?
Jorge Hessen
E-Mail: jorgehessen@gmail.com
Site: http://jorgehessen.net
FONTES:
(1) Atos 19: 16
(2) Kardec , Allan. A Gênese, Rio de Janeiro: Ed FEB 2001, capítulo XIV, itens 47 e 48
(3) _____, Allan. O Livro dos Espíritos, RJ: Ed. FEB, 1999, questão 549
(4) _____, Allan. A Gênese, Rio de Janeiro: Ed FEB 2001, capítulo XIV, item 48
(5) _____, Allan. "Estudos sobre os possessos de Morzine", in Revista Espírita, São Paulo: Edicel, dezembro de 1862; Janeiro, Fevereiro, Abril., Maio. 1863
(6) _____, Allan. O Livro dos Espíritos, RJ: Ed. FEB, 1999, questão 551
(7) idem questão 557
(8) idem questão 552
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