SITES E BLOGS

  • LEITORES
  • domingo, 14 de junho de 2009

    SERÁ QUE OS ESPÍRITAS SÃO PESSOAS MAIS "PREPARADAS" E PODERIAM INGRESSAR NA POLÍTICA PARTIDÁRIA PARA SECUNDAR MUDANÇAS SOCIAIS?...


    Após ler um certo artigo sobre a necessidade de o espírita ingressar na política", fui instado a contrapor os argumentos lidos que, na minha opinião, não se sustentavam numa análise rápida. Sabemos que nas proximidades dos debates para eleições políticas a discussão "esquenta" sobre o tema se o espírita deve ou não participar da política partidária. Não há a mínima necessidade de espíritas ingressarem forçosamente no campo da política partidária para as proposições de reformulações sociais através de novos conceitos de vida, de convivências e outras relações sociais que possam ser convertidos em hábitos consagrados pela massa para que ulteriormente sejam transformados em leis que regulem a vida em sociedade. Dizer que os espíritas, por serem "as pessoas mais preparadas" para secundar as mudanças sociais em favor de um mundo mais justo e fraterno e que não podem se omitir dessa tarefa é no mínimo presunção e vaidade aguçada ao limite do insuportável.
    Pela transformação de comportamento individual, lutando pelo ideal do bem , em nome do Evangelho, os espíritas não estão alheios à Política, enganam-se quem pensa o contrário. Os espiritas honestos, fieis à família, aos compromissos morais são integralmente cidadãos ativos, que exercem o direito e/ou obrigação (depende do ponto de vista) de votar , porém sem vínculos com as querelas e questiúnculas partidárias.
    Há três escrevemos um artigo no site http://jorgehessen.net (vide item 22/2006) lembrando que que não há representantes oficiais do Espiritismo em setor algum da política humana. O trabalhador da casa espírita, seja ele atuante em área mediúnica, doutrinária ou administrativa, sabe, perfeitamente, que centro espírita não é lugar de se fazer campanha política, em qualquer época, sobretudo próximo às eleições. O espírita, definitivamente, não pode confundir as coisas. Se estiver vinculado a alguma agremiação partidária, se deseja concorrer como candidato a cargo eletivo, que o faça bem longe das hostes espíritas, para que tudo que fizer ou disser, dentro da casa espírita, não venha a ter uma conotação de atitude de disfarçada intenção, visando a conquistar os votos de seus confrades.
    Há necessidade de distinguir a política terrena, da política do Cristo. Cada situação, na sua dimensão correta. Política partidária, aos políticos pertence, enquanto que religião é atividade para religiosos. O argumento de que os parlamentares se servem, com o pretexto de "defender" os postulados da Doutrina, ou aliciar prestígio Social para as hostes espíritas, ou, ainda, ser uma "luz" entre os legisladores, é argumento falacioso, inverossímil.
    A título de tolerância, muitas vezes fechamos os olhos para essas questões, mas a experiência demonstra que, às vezes, é conveniente até fechar um olho, porém, nunca os dois.
    Considerando que nosso mundo é a morada da opinião, é normal que tenhamos divergências sobre esse assunto. Inaceitável, porém, tendo em vista a própria orientação da Doutrina Espírita, o clima de imposições que se estabelece, não raro, envolvendo companheiros que confundem veemência com agressividade, ou defesa da verdade com hostilidade.
    Quando da criação da SOCIEDADE PARISIENSE DE ESTUDOS ESPÍRITAS, fundada em 1º de abril de 1858 O Estatuto aprovado no  Capítulo I- Objetivo e Formação da Sociedade, no seu art. 1 consigna - "A Sociedade tem por objeto o estudo etc"...e encerra este artigo: "As questões políticas, de controvérsia religiosa e de economia social nela são interditas. É inadmissível a utilização da tribuna espírita, como palanque de propaganda política.
    O Espiritismo não pactua com irrelevantes e transitórios interesses terrenos. Por isso, não pode alguém se escravizar à procura de favores de parlamentares, a ponto de, este, exercer infausta influência nos conceitos espíritas. Não tem cabimento, um líder de partido, no púlpito da casa espírita, palestrando e dirigindo o culto místico de uma fé. Por outro lado, também não tem o menor sentido, um espírita nas ruas e nos palanques, implorando votos, qual mendigo, com sofismas e simulação de modéstia, de pobreza, de humildade, de desprendimento, de tolerância, etc., com finalidade demagógica, exaltando suas próprias "virtudes" e suas "obras" beneficentes.
    Pode essa advertência se caracterizar num açoite no dorso dos sutis cânticos da sereia, que arrastam alguns desatentos líderes para a militância político-partidária, porém, é um alerta oportuno. OPORTUNÍSSIMO, EU DIRIA!!!
    Bom seria se esses "espíritas" (!?), que mendigam votos, optassem por outro credo, para que seja assegurada a não-contaminação desse politiquismo em nossas hostes, até porque, "A RIGOR, NÃO HÁ REPRESENTANTES OFICIAIS DO ESPIRITISMO EM SETOR ALGUM DA POLÍTICA HUMANA".¹
    Nada obsta, repelir as atitudes extremas. Não podemos abrir mão da vigilância exigida pela pureza dos postulados espíritas e não hesitemos, quando a situação se impõe, no alerta sobre a fidelidade que devemos a Jesus e a Kardec. É importante lembrarmos que, nas pequeninas concessões, vamos descaracterizando o projeto da Terceira Revelação.
    Urge que façamos uma profunda distinção entre Espiritismo e Política. Somos políticos desde que nascemos e vivemos em sociedade, sim, e daí? A Doutrina Espírita não poderá, jamais, ser veículo de especulação das ambições pessoais, nesse campo. Se o mundo gira em função de políticas econômicas, administrativas e sociais, não há como tolerar militância política dentro da religião. Não se sustentam as teses simplistas de que só com a nossa participação efetiva nos processos políticos ao nosso alcance, ajudaremos a melhorar o mundo.
    Recordemos que Jesus cogitou muito da melhora da criatura em si. Não nos consta que Ele tivesse aberto qualquer processo político partidário contra o poder constituído à época. Nossa conduta apolítica não deve ser encarada como conformismo. Pelo contrário, essa atitude é sinônimo de paciência operosa, que trabalha sempre para melhorar as situações e cooperar com aqueles que recebem a responsabilidade da administração de nossos interesses públicos. "Em nada nos adianta dilapidar o trabalho de um homem público, quando nosso dever é prestigiá-lo e respeitá-lo tanto quanto possível e também colaborar com ele, para que a missão dele seja cumprida. Porque é sempre muito fácil subverter as situações e estabelecer críticas violentas, ou não, em torno das pessoas. (...) Não que estejamos batendo palmas para esse ou aquele, mas porque devemos reverenciar o princípio da autoridade".²
    Estamos investidos de compromisso mais imediato, ao invés de mergulharmos no mundo da política saturada, por equívocos lamentáveis. Por isso, não devemos buscar uma posição de destaque, para nós mesmos, nas administrações transitórias da Terra. Se formos convocados pelas circunstâncias, devemos aceitá-la, não por honra da Doutrina que professamos, mas como experiência complexa, onde todo sucesso é sempre muito difícil. "O espiritista sincero deve compreender que a iluminação de uma consciência é como se fora a iluminação de um mundo, salientando-se que a tarefa do Evangelho, junto das almas encarnadas na Terra, é a mais importante de todas, visto constituir uma realização definitiva e real. A missão da doutrina é consolar e instruir, em Jesus, para que todos mobilizem as suas possibilidades divinas no caminho da vida. Trocá-la por um lugar no banquete dos Estados é inverter o valor dos ensinos, porque todas as organizações humanas são passageiras em face da necessidade de renovação de todas as fórmulas do homem na lei do progresso universal."³
    O Espiritismo traz-nos uma nova ordem religiosa, que precisa ser preservada. Nela, o Cristo desponta como excelso e generoso condutor de corações e o Evangelho brilha como o Sol na sua grandeza mágica. Uma doutrina que cresceu assustadoramente nos últimos lustros, em suas hostes surgiram bons líderes ao mesmo tempo em que, também, apareceram imprudentes inovadores, pregando essas idéias de militância política.
    Se abraçamos o Espiritismo, por ideal cristão, não podemos negar-lhe fidelidade. O legado da tolerância não se consubstancia na omissão da advertência verbal diante das enxertias conceituais e práticas anômalas, que alguns companheiros intentam impor no seio do Movimento Espírita. Mantenhamos o espírito de paz, preservando os objetivos abraçados e, se houver necessidade de selar nosso compromisso com testemunho, não titubeemos e não nos omitamos, jamais.

    Jorge Hessen
    E-Mail: jorgehessen@gmail.com
    Site: http://jorgehessen.net
    FONTES:
    1- VIEIRA, Valdo. Conduta Espírita, Ditado pelo Espírito André Luiz, Rio de janeiro: FEB, 2001, Cap. 10.
    2- Xavier, Francisco Cândido. Entender Conversando, ditada pelo Espírito Emmanuel, São Paulo: Ed. IDE, 3 ª edição, 1984.
    3- Xavier, Francisco Cândido. O Consolador, ditado pelo Espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1984, pergunta 60.