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  • domingo, 14 de junho de 2009

    MISTICISMOS QUE DESPENCAM A CREDIBILIDADE DO PROJETO ESPIRITA NO BRASIL


    Toda convicção religiosa é respeitável, entretanto, se buscamos a Doutrina Espírita, não podemos negar-lhe fidelidade. Por elevadas razões, é urgente preservar a incolumidade da Terceira Revelação. Até porque, ante as funções educativas das religiões, em geral, somente o Espiritismo nos auxilia o livre exame, com o sentimento livre de imposições dogmáticas, para que a fé encare a razão de frente.
    Tendo como fonte de consulta o You Tube, na Internet, encontra-se uma pergunta endereçada a Divaldo Franco: "Os espíritos de "pretos velhos" ou de "pretas velhas", que vêm orientar numa casa espírita, podem ser levados a sério? A explicação do tribuno baiano é simples e direta: - Não pode! Explica Divaldo: "Esse espírito pode ser muito bom, mas é muito ignorante. E a nossa tarefa é retirar a ignorância. Por que ele tem que ser um preto velho? O Bezerra de Menezes é velho, mas não é "branco velho". Notem, aí, uma discriminação. E se chegar um índio velho? Ah! - Eu sou um vermelho velho! Ou um japonês velho? - Eu sou um amarelo velho! "Portanto, há um atavismo." (1)
    "O espírito pode chegar e "incorporar", porque na Terra ele foi, esteve no corpo de um preto velho. Aí, ele se identifica: ‘eu sou um preto velho’. O doutrinador tem a obrigação de orientar esse espírito dizendo-lhe: - "Não meu irmão! Você foi um preto velho, mas não é mais, pois você agora não tem cor, você superou isso. Embora essa encarnação tenha sido muito útil para você, que pôde desenvolver a humildade, agora você é um espírito e espírito não tem cor. Você pode reassumir outras reencarnações. "Então, tire da sua mente essa condição de escravo." (2)
    "É que nós gostaríamos de continuar tendo escravos no além. Para os trabalhos não muito dignos. Dizemos: - Chamem o preto velho que ele resolve. Ah! Na Umbanda eles trabalham com as coisas "fortes", ou seja, as coisas que os mentores não fazem, eles, nos terreiros, fazem. Quer dizer que deixamos para eles a tarefa do lixo? Existe lixo no mundo espiritual, ou são as nossas paixões? Ele será sempre bem recebido, mas essa colocação de que é um preto velho, de escravo, e nós somos senhores, não tem lógica alguma. Não somos senhores nem dos nossos atos." (3)
    O irmão (preta ou preto velho) que venha, e dê o nome que tinha quando encarnado: Paulo, Joaquim, Inácio, Sebastião ou qualquer outro, Maria, Fátima etc. Esse atavismo é pieguismo e, se não o ajudarmos, o espírito vai continuar com aquela imantação de ex-escravo e não progride. "Acha que para progredir tem que nos fazer favores, porque somos branquelas." (4)
    Alguns confrades imaturos tentam comparar o fenômeno de psicofonia de Divaldo, quando "incorpora" o Espírito Bezerra de Menezes, às "incorporações" de um Preto Velho quando se manifesta, concluindo serem semelhantes. Nada mais risível! A comparação entre a psicofonia das entidades de ex-escravos, que ocorrem comumente, é ABSOLUTAMENTE diferente, tanto na forma quanto no conteúdo, da transcendente ligação psicofônica do venerando Bezerra através do médium Divaldo Franco.
    É bastante evidente que muitos ineptos defensores de manifestações continuadas de pretos velhos, nos Centros de orientação espírita, estão querendo forçar uma situação demasiadamente despropositada, sem senso lógico. Comparar a essência das irrepreensíveis mensagens advindas de Divaldo a de um médium comum, que anda, a torto e a direito, dando "passagens psicofônicas" a ex-escravos, velhinhos eivados de conteúdos pobres e, quase sempre, aparentemente úteis, é, no mínimo, compactuar com a ignorância. Aparentemente úteis, sim, pois esses grupos espíritas estão mantendo, sagazmente, os irmãos ex-negros em condições de humilhação (de infelizes escravos). Tais espíritos (pretos velhos, pretas velhas, caboclos e outros...) são idolatrados por tais confrades, supostamente espíritas, porque são submissos às suas paixões, etc., etc., e fazem sempre as suas vontades pueris.
    Esses defensores da umbandização do Espiritismo não podem forçar uma situação que não há como se estabelecer comparações. O extraordinário "branco-velho", Bezerra de Menezes, dispensa comparações estapafúrdias sobre suas mensagens, que são verdadeiros tesouros de sublimação, pois ele, o Kardec brasileiro é, na essência, o maior BALUARTE DO ESPIRITISMO NO BRASIL.
    É urgente romper a malha dessa teia do misticismo inoportuno que arranha a imagem do Projeto Espírita no Brasil. O Centro Espírita não é reduto de escravos (senzala) em que espíritos ataviados utilizam os "cavalos" (5) e indicam, aos choraminguentos e eternos pedintes, o caminho das facilidades materiais na volúpia de suas próprias conveniências pessoais. O carimbo da umbandização tem marcado fundo a misticidade dos cegos da razão. Mais do que a ignorância dos iletrados, com seu cortejo trágico de endemias morais devastadoras, o mediunismo inoperante e improdutivo depauperou a inteligência popular, com seu cortejo de exacerbadas mistificações.
    Portanto, por falta de base doutrinária, observamos, com apreensão, nosso ambiente espírita repleto de idolatria mediúnica, misticismo inócuo e, o que é pior, aparecimento de uma classe defensora da retórica vazia do "não-me-toques", do "nem tanto o mar, nem tanto a terra", de supostos missionários e estufados de vaidade e arrogância, que esbravejam contra os defensores da pulcritude doutrinária em nome de suas vaidades travestidas de falsa humildade.
    Essa tendência mística popular, carregada de superstições seculares, favorece a proliferação de defensores da enxertia mediúnica e do ecletismo, com argumentos de expoentes arautos da liberdade, em cuja filosofia do "tudo é permitido em nome do bom senso", caricaturam a mansuetude, se se deparam com os seus contraditores.
    Toda essa carga morta de defensores da "liberdade", do "tudo pode", esmaga o movimento doutrinário e abre as suas portas para a infestação do sincretismo religioso afro-brasileiro, em que os deuses, ignorantes e ingênuos da selva africana, e das nossas selvas, superam e absorvem os antigos e cansados deuses cristãos dos altares mundanos das igrejas de pedra, obstando o desenvolvimento da legítima e sensata Cultura Espírita.
    A domesticação idolátrica e persistente das entidades dos terreiros nos Centros Espíritas mal conduzidos, ameaça descaracterizar todo o conteúdo doutrinário, legado por Allan Kardec, sobretudo, se se transformar em prática que não temos exemplares no trajeto mediúnico do mais famoso médium da História Espírita, o mestre Chico Xavier.
    Temos que evitar esse incontrolável pendor às formações mistificadoras, tendente a um tipo de alienação, quase que psicopatológica, que o Espiritismo sempre combateu, desde a promulgação da fé racional, contra a fé cega, fanática e incoerente, por ser submissa ao misticismo danoso à fé raciocinada.
    Em suma, ou busquemos um comportamento doutrinário em bases firmes, sem misticismos, e crendices outras, ou o Espiritismo acaba de vez no Brasil. Tem mais, se não preservarmos as estruturas básicas das propostas Espíritas, não conseguiremos vislumbrar a continuação do projeto da Terceira Revelação nestas terras das aventuras mediúnicas, pois cremos que a espiritualidade esteja atenta para, no momento exato, transferir o projeto (a nível coletivo) para um país onde a população seja menos mística, tenha uma fé mais inteligente e moral mais elevada.
    Das duas, uma: Ou a Doutrina Espírita alcança sua meta como princípio transformador e formador de nova consciência cristã, ou perderá, totalmente, o sentido essencial de uma Nova Revelação.


    Jorge Hessen
    E-Mail: jorgehessen@gmail.com
    Site: http://jorgehessen.net

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