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  • domingo, 14 de junho de 2009

    PALESTRANTES, IMITAÇÕES, MOMICES E COISAS MAIS...


    Certa vez, conversando com uma líder espírita, de Brasília, a referida irmã comentava sobre as momices (1) de certo orador que fora convidado para falar no Centro em que ela dirige. Dizia que o palestrante convidado imitava, grotescamente, com gestos, modos de expressão verbal e decorando trechos de conferências do tribuno Divaldo Franco, inclusive "incorporando" Bezerra (!) após a palestra (!?). Referiu-se, também, a outro palestrante que faz questão de expor e vender seus livros e CDs de palestras gravadas, cuja renda, supostamente, é para a "causa maior", e exige, vaidosamente, os aplausos do público. Meu Deus, que ridículo! Esses companheiros, com certeza, imaginam-se quais atores de televisão, quais personagens hollywoodianos, só faltando oferecer autógrafos para os seus fãs idólatras, que, também, existem, lamentavelmente! Nada mais triste!
    Um orador imitador não tem o menor senso de ridículo, pois, apodera-se da identidade alheia, sem o menor constrangimento, e essa é uma atitude obsessiva e/ou psicopatológica, porque lhe é autoplasmada. Ao imitar alguém, esquecem-se de que tal atitude não passa de uma farsa, e que, dessa forma, perdem a liberdade de pensar e de agir, buscando, sempre, a fonte de ligação para prosseguir no desempenho do papel assumido. Existem oradores que ficam horas e horas em frente ao espelho para treinarem os gestos ou entoação de voz do imitado, que é sempre Divaldo Franco. Como se não bastassem as momices e os bizarros fatos, não é raro observarmos oradores vaidosos, oferecendo-se para proferir palestras. Entram em contato com os que coordenam as escalas e se dispõem, "gentilmente", a serem designados para falar no Centro Espírita, quase sempre em uma data já, previamente, programada para outro orador. É uma desfaçatez da parte deles, quando em viagem, em trânsito pela cidade, apoderam-se do lugar de outro orador já escalado para comparecer ao Centro. Coordenadores que assim procedem demonstram indisciplina, falta de planejamento e, sobretudo, desrespeito àquele que já estava agendado, e os dirigentes, que acatam essa movimentação desordenada, provam que não têm competência para estarem à frente de tamanha responsabilidade, ou seja, a de manter o equilíbrio de um Centro Espírita. Tal fato só se justificaria se fosse um orador consagrado, de renome nacional.
    Aos palestrantes, candidatos ao estrelismo no movimento espírita, urge que não memorizem quaisquer textos de livros espíritas para, simplesmente, recitá-los, quais tagarelas ou papagaios, pois a expressão maquinal não agrada a quem ouve e, sobretudo, a Deus. É mister construir um mapa mental daquilo que pretendemos comunicar ao público. A nossa responsabilidade é para com o conteúdo doutrinário, para com o movimento espírita, para com a divulgação dos princípios espíritas, porém, para esse desiderato, cabe-nos a tarefa de construirmos um discurso próprio e original do Espiritismo, a fim de que aqueles que nos ouvem possam captar o verdadeiro sentido da Terceira Revelação.
    Não podemos ser meros divulgadores do Espiritismo. Precisamos, acima de tudo, ter a mensagem espírita como um dos instrumentos que podem ajudar o ser humano a ser mais fraterno e viver mais feliz.
    A comunicação da palestra espírita não está nos compêndios humanos. É algo pessoal. Destarte, temos a obrigação de jamais imitar quem quer que seja, sobretudo, os oradores que dão "Ibope", que superlotam o Centro. Precisamos imitar a nós mesmos, ou seja, a nossa organização mental, a nossa limitação, a nossa compreensão do tema, ou seja, ser quem somos, verdadeiramente, sem as máscaras de virtudes inexistentes, sem atitudes dissimuladas de docilidade, mas, coerentes e sensatos com o ideal Cristão. Por isso, creio que todo dirigente tem o dever de advertir os palestrantes imitadores, até porque é um despropósito a imitação.
    Isso mesmo! Imitar é horroroso, pois a imitação não consegue reproduzir o verdadeiro talento. Pode-se, até mesmo, imitar o estilo de um orador consagrado, mas nunca recriar a profundidade ou a beleza que caracterizam suas produções e que reaparecem de forma, perfeitamente, reconhecíveis através da legítima oratória. O expositor espírita não é um profissional da fé, que precisa teatralizar, ou usar recursos outros, para angariar fiéis. Sua tarefa é informar sobre este universo de novos conhecimentos que é o Espiritismo.
    É importante criarmos estilo próprio, simples, sem exageros, lembrando que uma palestra num Centro Espírita é mais uma conversa do que uma conferência. Recorrermos a linguagem simples e de bom gosto, lembrando que estamos, ali, a serviço do Cristo para explicar e fazer o público entender a mensagem do Espiritismo, não para exibir cultura. Sempre é possível explicar assuntos, mesmo complexos e profundos, em linguagem acessível a uma platéia heterogênea.
    O orador deve acolher, com respeito e humildade, toda crítica, procurando avaliar, cuidadosamente, o seu trabalho e, assim, melhorar, cada vez mais, a tarefa que lhe cabe. Deve reagir, com todas as suas energias, contra os elogios descabidos, para que a vaidade não lhe venha toldar o próprio campo de ação, e mais, ainda, nunca deve julgar-se imprescindível ou privilegiado, criando exigências ou solicitando considerações especiais. Sobre isso, qualquer semelhança, para quem já viu esse filme em Brasília, será mera coincidência?
    Existe orador que abusa em contar casos engraçados para fazer público rir durante toda a palestra. Usa a tribuna como se fosse um palco de teatro para humoristas. Ora, se o orador tem o dom da hilaridade que vá para o teatro e exerça a profissão de ator. É muito mais digno.
    Eis alguns pecados capitais de uma palestra espírita: a artificialidade; o não ordenamento do raciocínio, com começo meio e fim do tema proposto; a desconsideração das características da platéia e falar como se todos os ouvintes fossem iguais; a falta de conteúdo e preparo; a defesa de idéias que vão "de encontro" ao interesse do ouvinte e, PRINCIPALMENTE, IMITAR OUTROS ORADORES. Cremos que, por pior que seja o orador, em sendo ele mesmo, terá chances de sucesso. Se imitar alguém, por melhor que seja a imitação, não terá credibilidade, ou vira circo.
    "Os expositores da boa palavra podem ser comparados a técnicos eletricistas, desligando tomadas mentais, através dos princípios libertadores que distribuem na esfera do pensamento". (1) Sendo o Espiritismo a revivescência do Cristianismo, em sua essência e pureza, aqueles que se dispõem a divulgá-lo, pela palavra edificante, à semelhança dos discípulos do Cristo, devem equipar-se de todos os recursos que puderem dispor na atualidade, para bem representarem essa Doutrina Consoladora, junto aos que anseiam por orientação, para a necessária iluminação interior. O orador deve Ter Conduta Respeitável, lembrando que "Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que faz para dominar suas más inclinações". (2)
    Assim, o expositor espírita não pretenderá ser "santo", mas, alguém, sinceramente, empenhado em edificar-se moralmente, a cada dia mais, lembrando, sempre, que, para o público ouvinte, ele representa o Espiritismo e o Movimento Espírita.
    Há, sem dúvida, nas tribunas espíritas, alguns acertos. Porém, ficamos muito preocupados com os desacertos e as distorções detectadas nas palestras que, também, tivemos a oportunidade de assistir, ou dos fatos que nos foram contados. Há, realmente, em torno desse tema, um quadro preocupante.
    "Todos os espíritas sinceros, estudiosos e afeiçoados ao bem, encontram-se convocados para o ministério do auxílio, através da difusão dos postulados espíritas, que, propiciando perfeito entendimento das lições evangélicas, representam a medicação oportuna e urgente para a massa desesperada, o homem aturdido..." (3) Em verdade, na palestra espírita pode estar a entrada, ampla e promissora, para o entendimento da Doutrina Espírita, ou a saída, extremamente lamentável, para caminhos distantes desse conhecimento que liberta. O orador espírita é uma peça importante na propaganda e na Difusão do Espiritismo, devendo ser encarada com extrema responsabilidade e praticada com esmerada bagagem moral e cultural, sem prejuízo da indispensável experiência.
    Quando alguém se propõe a ouvir um orador Espírita, o faz no pressuposto de que ele sabe o que está falando e lhe oferece, silenciosamente, um voto de credibilidade, capaz de mudar, metodicamente, idéias ou conceitos errôneos que nele estavam arraigados, podendo transformar, até mesmo, toda uma vida! Portanto, não é um compromisso qualquer, sem maiores conseqüências, até porque, quem assume essa tarefa deixa de ser, apenas, um orador para, transmudar-se em autêntico preceptor da matéria Doutrinária, falando de temas Evangélicos e Sociais profundos e com extrema responsabilidade.
    Lembra André Luiz que "devemos palestrar com naturalidade, governando as próprias emoções, sem azedume, sem nervosismo e sem momices, posto que a palavra revela o equilíbrio. Devemos, portanto calar qualquer propósito de destaque, silenciando exibições de conhecimentos. O orador é responsável pelas imagens mentais que plasme nas mentes que o ouvem."(5)


    Jorge Hessen
    E-Mail: jorgehessen@gmail.com
    Site: http://jorgehessen.net
    FONTES:
    (1) momices significa: Caretas, trejeitos; gesticulação grotesca ou ridícula.
    (2)Xavier , Francisco Cândido. Nos Domínios da Mediunidade, Ditado pelo Espírito André Luiz , Rio de Janeiro: Ed. Feb, 2003.
    (3)Kardec, Allan. "O Evangelho Segundo o Espiritismo", Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2001, cap. XVII - item 4.
    (4)Franco, Divaldo Pereira, Reflexões Espíritas, ditada pelo Espírito Vianna de Carvalho, Salvador: Ed. Leal, 1992.
    (5)Vieira, Waldo. Conduta Espírita, ditado pelo Espírito André Luiz, RJ: Ed. FEB, 1998, acp 14.

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