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  • sábado, 12 de dezembro de 2009

    O ESTADO DE COMA ANTE OS CONCEITOS ESPÍRITAS

    A palavra “coma” advém do termo grego koma, que significa "estado de dormir", mas estar em coma não é o mesmo que estar dormindo. Alguns pacientes em estado comatoso podem sair do problema depois de algum tempo. Porém, há uma grande diferença entre estar em coma e estar em estado vegetativo. Este último é um tipo de coma em que o paciente, quando desperto ou quando dorme, não reage aos estímulos. Há vários conceitos e muitas incertezas sobre esses estados de inconsciência. Sabe-se, porém, que as taxas de sobrevivência ao coma são de, até, 50%, e pouco menos de 10% saem do coma e conseguem uma recuperação completa.
    Os pesquisadores acreditam que a consciência depende da constante transmissão de sinais químicos do tronco cerebral e tálamo para o cérebro. Essas áreas estão conectadas por caminhos neurais chamados Substância Reticular Ativada. Qualquer interrupção nessas mensagens pode colocar a pessoa em um estado alterado de consciência.
    Em dezembro de 1999, uma enfermeira estava arrumando os lençóis da cama quando a paciente White Bull, repentinamente, sentou-se e exclamou: "Não faça isso!", fato, esse, que foi uma grande surpresa para a família. Bull ficou em coma por 16 anos e os médicos haviam dito aos familiares que ela jamais voltaria ao estado de consciência.  Outra ocorrência surpreendente aconteceu, há cinco anos, com o bombeiro Donald Herbert. Ele teve queimaduras graves, em 1995, quando o teto de um prédio em chamas desabou sobre seu corpo. Herbert ficou em coma por 10 anos e, quando os médicos lhe prescreveram drogas, normalmente usadas para tratar mal de Parkinson, depressão e problemas de déficit de atenção, Donald acordou e falou com sua família por 14 horas sem parar.
    Em um noticiário recente, temos informação sobre o caso Rom Houben, que foi vítima de um acidente de carro, em 1983, aos 20 anos, e diagnosticado o estado vegetativo do paciente. Um especialista, porém, usando um tomógrafo, que não estava disponível nos anos 80, afirma ter descoberto que Rom sofria de um tipo de enclausuramento psíquico  ou "síndrome de prisão", em que a pessoa não consegue falar ou se mover, todavia  pode pensar. O médico, então, disponibilizou um equipamento e o paciente começou a se comunicar, ajudado por uma terapeuta. (1) Com o dedo esticado, Rom digita, com surpreendente rapidez, em um computador de tela sensível ao toque, relatando sobre como se sentia "sozinho, solitário e frustrado", nos 23 anos em que ficou preso a um corpo paralisado. Para os descrentes, as respostas de Houben parecem artificiais para alguém com danos tão profundos e que passou décadas sem se comunicar. Porém, a equipe médica, que cuida de Houben, atesta que realizou testes especiais para comprovar que a comunicação do paciente, de fato, está ocorrendo.
    O corpo físico de uma pessoa em coma não é capaz de perceber os estímulos internos e externos e de reagir, fisicamente, a esses estímulos apreendidos. Mas, espiritualmente, o indivíduo é capaz de perceber o que acontece em seu redor. Em verdade, quando o corpo entra em um estado neurofisiológico alterado ("estados alterados de consciência"), como o sono físico, o sonambulismo, o êxtase, o coma, etc., o perispírito tem possibilidade de expandir-se, e o Espírito se liberta, parcialmente, do corpo em repouso, embora ainda ligado, a esse, por um "laço" fluídico, sem o qual desencarnaria.
    A Doutrina Espírita explica que o homem é constituído de três partes: o corpo físico, que possui automatismos biológicos dirigidos pela mente; o Espírito, centro da inteligência, indestrutível, que sobrevive à morte do corpo, libertando-se e retornando à vida espiritual, para voltar à vida material em uma nova reencarnação; e, finalmente, o perispírito, laço de união entre o Espírito e a matéria, corpo fluídico semi-material (energético) que "reveste" o Espírito e permite a ligação, deste, com o corpo.
    Na Codificação, não encontramos farta referência sobre o coma, propriamente dito. Contudo, podemos compreender o que se passa com o Espírito no estado comatoso, refletindo as lições dos Benfeitores Espirituais, consoante explica O Livro dos Espíritos sobre “estado de letargia e morte aparente.” (2) Para Kardec, “a letargia e a catalepsia têm o mesmo princípio, que é a perda momentânea da sensibilidade e do movimento (...)”. Portanto, se no sono e na letargia a alma não fica presa ao corpo, a fortiori não ficará presa no coma, até porque “(...) o Espírito jamais fica inativo” (3)
    No entanto, há pacientes, em estado de coma, que muitas vezes ficam presentes no local onde seus corpos ficam paralisados, presenciando o que ocorre ao seu redor ou em qualquer lugar, à semelhança do que confirma o caso Rom Houben. Se familiares, amigos ou médicos conversarem com o paciente, podem ter a certeza de que ele terá condições de ouvir e ver, sem, contudo, ter a capacidade de dar a resposta “física”. Pode, até, surgir, normalmente, em sonhos, pois quem está aprisionado na cama é o corpo e não o Espírito. Portanto, o Espírito não fica preso o tempo todo ao corpo doente, pois, neste, só funciona a vida vegetativa e, nesse estado, o corpo só precisa do Espírito para mantê-lo vivo; o Espírito, somente “preso ao corpo” ficaria inativo, sem condições instrumentais para evoluir. Por isso, sabemos que, no coma, o Espírito poderá estar em outras dimensões, sem estar adstrito ao corpo, em situação semelhante ao de uma pessoa dormindo.
    A miopia médica, para as questões espirituais, tem atrasado os avanços necessários para o tratamento integral do ser humano. A causa para alguém passar muito tempo em estado de coma, embora com profunda consciência na intimidade do ser, e compreendendo a Lei Divina como perfeita, é certo que essa experiência deva servir de resgate de débitos morais contraídos em outras vidas, ante a justiça do princípio da reencarnação.


    Jorge Hessen
    http://jorgehessen.net
    jorgehessen@gmail.com


    Fontes:
    (1)    Linda Wouters é a terapeuta e afirmou à Associated Press que pode senti-lo guiar sua mão com uma pressão sutil vinda de seus dedos, e que inclusive percebe sua negativa quando digita uma letra errada
    (2)    Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2001, questões 422/424
    (3)     idem, questão 401.

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