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  • domingo, 13 de dezembro de 2009

    FANTOCHES DA ILUSÃO, BOM SENSO OU SOMOS “DONOS DA VERDADE”?

    Infelizmente, os Centros Espíritas estão repletos de modismos e práticas vazias de sentido, oriundos da falta de conhecimento das recomendações básicas do Espiritismo. Muitas Instituições Espíritas mantêm práticas e/ou discussões estéreis em torno de temas como: crianças índigo; Chico é ou não é Kardec? Ubaldismos, ramatisismos, apometria, cromoterapias, e tantos outros enfadonhos "ismos" e "pias", empurrados goela abaixo no corpo doutrinário. Há médiuns que confiam, cegamente, nos efeitos das pomadas "cura tudo", como se essa enganosa prática lhes fosse trazer algum benefício. Por relevantes razões, devemos estar atentos às impertinências desses visionários, propagadores de placebos “bentos”. Outros, pela apometria, creem revolucionar o universo da "cura espiritual", mas, a bem da verdade, a cura das obsessões não se consegue por um simples toque de mágica apométrica, como fazem os ilusionistas com uma varinha de condão. Desobsessão não ocorre de um momento para outro, pois, quase sempre, é um tratamento que depende de um longo prazo. Portanto, não tão rápida como sói acreditar alguns incautos apometristas de plantão.
    O legítimo Centro Espírita não promete a cura para quem o procura. A Doutrina Espírita afirma que a “cura” de uma influência espiritual (obsessão) ou doença física depende de uma série de fatores, entre os quais a modificação moral do enfermo, sua necessidade de disciplina mental, seus problemas relacionados com encarnações anteriores e, sobretudo, se há ou não a concessão divina para a solução da dificuldade.
    O sofrimento é, sempre, a conseqüência de atos que contrariam as Leis de Deus. É o período necessário para que o Espírito, encarnado ou desencarnado, reflita sobre sua natureza íntima e decida por onde e quando reparar as faltas cometidas, pois Nosso Eterno Pai respeita a nossa singularidade. Já o sofrimento compulsório é uma imposição do Divino Criador, quando o Espírito, deliberadamente, persiste no erro ou insiste no mal, e Ele é o Único que sabe como agir, para o bem do filho rebelde, e até quando deva, ele, sofrer.
    O Centro Espírita é um pronto-socorro aos necessitados de amparo e esclarecimento, seja através da evangelização, das orações, dos tratamentos espirituais, ou seja, pelas orientações morais e materiais. A Casa Espírita oferece as bênçãos do passe, que é um método, tradicionalmente, eficaz para transmitir fluidos magnéticos e espirituais, pelas mãos dos médiuns sobre a fronte daqueles que se encontram - moral e fisicamente - descompensados, fortalecendo-lhes o corpo físico e o tecido espiritual, ou seja, o perispírito. É evidente que o passe não poderá, em tempo algum, ser aplicado com movimentos bruscos, utilizando-se de objetos, de baforadas de cigarro ou charuto, de estalos de dedos, cânticos estranhos, toque direto no corpo do paciente, e, muito menos, ainda, estando incorporado e, psicofonicamente, verbalizando “aconselhamentos” para o receptor. Isso não é prática recomendável pelos Orientadores Espirituais.
    Há confrades que insistem em usar trajes especiais no Centro. Cabe alertá-los de que o Espiritismo não adota paramentos especiais para exercê-lo e o que dignifica o trabalhador espírita é a pureza de intenções. A Doutrina Espírita não adota enfeites, amuletos, colares, roupas brancas (“significando o bem”) ou roupas pretas ou vermelhas (“significando o mal”).  Os trabalhadores cônscios da realidade Espírita trajam roupas normais, de forma simples, até porque, a discrição deve fazer parte dos que trabalham para o Cristo.
    Há médiuns que se ajoelham diante de imagens sagradas e de determinadas pessoas; mantêm-se genuflexos e beijam a mão dos responsáveis pela Casa Espírita, como forma de reverenciá-los; benzem-se; sentam-se no chão; fazem sinais cabalísticos; e outros, por incrível que pareça, proferem palavras esquisitas (mantras) para evocar os Espíritos. Casa Espírita séria não comporta imagens de Santos ou personalidades do movimento espírita; amuletos de sorte; figuras que afastam ou atraem maus Espíritos; incensos, preces cantadas, velas e outros quejandos alienantes. Como se não bastasse, há, ainda, palestrantes que promovem, das tribunas, verdadeiros shows da própria imagem, mise-en-scène, essa, protagonizada pelos ilustres oradores, que não abrem mão da ridícula imposição do “Dr.” antes do nome.  Há Instituições Espíritas que cobram taxas para o ingresso nos congressos, simpósios, seminários, tendo, como meta, o fomento de querelas doutrinárias.
    A questão é: como evitar esses disparates? Como agir, com tolerância cristã, ante os Centros mal orientados, com dirigentes perturbados, com médiuns obsidiados, com oradores “show-men”? Enfim, como agir, diante dos espíritas cegos, que querem guiar outros cegos?
    Para os líderes “mornos bonzinhos”, é interessante a prática do "lavo as maõs" do "laissez faire", "laissez aller", "laissez passer". Porém, os Benfeitores espirituais dizem o contrário e nos advertem que cabe, a nós, a obrigação intransferível de defender os ensinamentos de Allan Kardec, seja, OBVIAMENTE, pelo exemplo diário do amor fraterno, seja pela coragem do debate elevado.
    A Casa Espírita que se orienta pelos ensinamentos dos Espíritos superiores não realiza práticas bizarras, pois elas nada têm a ver com a Doutrina codificada por Allan Kardec. O Espiritismo ensina, tão somente, a moralização do indivíduo, e o Projeto Espírita é desprovido de aparatos exteriores. Suas propostas terapêuticas, como as de Jesus, fundamentam-se na instrução moral e na reposição de energias e fluidos espirituais, seja pela fluidificação da água, seja pela imposição das mãos através do passe, mas sempre e, fundamentalmente, pelos pensamentos elevados.
    Os Centros que praticam as terapias ou rituais aqui denunciados, têm liberdade para fazê-lo, porém, não deveriam nominar-se "Espíritas". O bom senso sussurra para que os seus estatutos sejam alterados, IMEDIATAMENTE.  Até porque, é por causa das Casas Espíritas mal dirigidas que existe uma confusão muito grande a respeito do que seja Doutrina Espírita ou Espiritismo. Os que estão fora do movimento, e não conhecem a Doutrina Espírita, creem que “o espiritismo é coisa do diabo”; que “comunicação com os mortos é pecado”; que “espírita não acredita em Deus, muito menos em Jesus Cristo”; que “espírita não ora”; que “espírita faz macumba, sacrifica animais, tem rituais”; que “os espíritas são lunáticos, loucos e desequilibrados”; e, ainda, afirmam que “se alguém entrar nessa "coisa" de Espiritismo, jamais poderá sair”. Isso, porque, essas pessoas não sabem que as palavras, "espírita e espiritismo", foram criadas em 1857, na França, pelo Codificador da Doutrina Espírita, Allan Kardec.
    Sabemos que, para alguns confrades “mornos bonzinhos” (!?), o tema que abordamos, aqui, ressona como algo obscuro, subjetivo, mas vale lembrar-lhes que qualquer escritor sensato não se coloca como imprescindível, e muitíssimo menos, ainda, tenta impor sua idéia, e nem, tampouco, considera seu ponto de vista o mais acertado, devendo ser aceito por todos, esperando adesões sem questionamentos. Chega a ser primário demais estarmos, aqui, afirmando, para os leitores, que não somos donos da verdade. Que a nossa opinião é, apenas, um ponto de vista pessoal, fruto de diuturno estudo das obras basilares e resultante de observação pessoal dos fatos, o que, obviamente, difere da experiência dos outros, que - sabemos - não pode ser desconsiderada no contexto. Se alguém insiste nas práticas inócuas, aqui descritas, com certeza, não está bem informado sobre o que seja Espiritismo.
    Os Códigos Evangélicos nos impõem a obrigatória fraternidade para com os adeptos equivocados, o que não equivale dizer que devamos nos omitir quanto à oportuna admoestação, para que a Casa Espírita não se transforme em academia de fantoches dos distúrbios psíquicos.


    Jorge Hessen
    http://jorgehessen.net
    jorgehessen@gmail.com

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