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  • segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

    MÉTODOS DE “ENTERRAR OS MORTOS”, BREVES COMENTÁRIOS

    Li, recentemente, uma revista de curiosidades, noticiando que já há pessoas, planejando fórmulas de “embarcar, desta, para outra melhor”, sem deixar o mundo contaminado, em face da putrefação dos restos mortais. Para o método de se “enterrar os mortos”, ainda não há consenso sobre qual seria a alternativa mais, ecologicamente, correta, já que todas têm algum impacto ambiental: a cremação libera CO2 na atmosfera (1) e soluções, como transformar cinzas cadavéricas em diamante ou jogar no espaço, o que, obviamente, consomem muita energia. Alguns especialistas apontam o método freeze-dry, por enquanto disponível, apenas, na Suécia. A técnica consiste em congelar o corpo, junto com nitrogênio líquido, a uma temperatura de 96 graus negativos. Congelados, são colocados para vibrar em uma poderosa esteira e, em poucos minutos, tudo é estilhaçado, transformando-se em “pó”, na quantidade de 20 kg, a partir de um corpo de 70 kg. O “pó” é colocado em uma caixa de amido de batata ou de milho, e enterrado. Uma árvore é plantada em cima da caixa para aproveitar os nutrientes. Entre 6 meses e um ano, tudo desaparece. Parece até coisa de ficção científica.
    Para o biólogo Billy Campbell, fundador do primeiro cemitério verde dos EUA, o Ramsey Creek, em funcionamento desde 1996, “o enterro mais ‘verde’ é o que evita desperdício de recursos, não utiliza substâncias tóxicas e opta por materiais biodegradáveis, sem risco de extinção, e protege áreas ameaçadas”. (2) A empresa Eternal Reefs transforma as cinzas da cremação em uma placa que é colocada no fundo do mar e serve de base para corais. “Na Suíça, uma empresa transforma o produto da cremação em diamante. Para fazer a peça, são usados 500 gramas de cinzas e o preço varia, de 2.800 a 10.600 euros. (3) O processo crematório dispensa armazenamento de resíduos e não ocupa terrenos. “Uma pessoa com 70 quilos de massa se transforma em 1 ou 2 quilos de cinzas, enquanto, sob a terra, a decomposição pode durar até dois anos e deixar cerca de 13 quilos de ossos para a posteridade”, argumenta o geólogo Leziro Marques.(4)
    O problema dos cemitérios tradicionais (destino final de 80% dos brasileiros, por exemplo) é que, 75% deles, não respeitam determinações técnicas e acabam poluindo o ambiente com necrochorume (substância tóxica produzida pelo cadáver em decomposição). Para o geólogo e professor da Universidade São Judas Tadeu, Leziro Marques Silva, “um corpo de 70 quilos gera 30 quilos de necrochorume, por exemplo. “Os micro-organismos são levados pela água, para fora do cemitério, por quilômetros de distância, causando doenças como tétano, hepatite, febre tifoide e disenteria”. (5)
    De acordo com tese de pesquisa sobre o tema, a cada 70 anos, o planeta terá o número de enterrados na mesma quantidade de encarnados atuais, ou seja: daqui a sete décadas, terá 6 bilhões de cadáveres sepultados. Enquanto os profitentes do enterro tradicional (inumação) o defendem, por aguardarem o juízo final e a ressurreição do corpo físico, os que aprovam a cremação afirmam que o enterramento tem consequências sanitárias e econômicas, e, nesse raciocínio, explicam que os cemitérios estariam causando sérios danos ao meio ambiente e à qualidade de vida da população em geral. Laudos técnicos atestam que cemitérios contaminam a água potável que passa por eles e conduz sério risco de saúde humana às residências das proximidades, além das águas de nascentes, podendo, também, contaminar quem reside longe dos cemitérios.
    O planeta tem seus limites espaciais, o que equivale dizer que bilhões e bilhões de corpos enterrados vão encharcar o solo, invadir as águas com o necrochorume (líquido formado a partir da decomposição dos corpos que atacam a natureza, os quais provocariam doenças), disseminando doenças e outros riscos com os quais sanitaristas e pesquisadores têm se preocupado. "Ainda existe bastante solo no Brasil e admitimos, por isso, que não necessitamos copiar, apressadamente, costumes em pleno desacordo com a nossa feição espiritual”. (6)
    Kardec nada disse a respeito da cremação. Razão pela qual, o problema da incineração do corpo merece mais demorado estudo entre nós. Se, para uns, o processo crematório não repercute n’alma, para muitos outros, por trás de um cadáver, esconde-se a alma inquieta e sofrida, cuja cremação imediata dos restos mortais será pesadelo terrível e doloroso. Existem teses avessas à cremação, seja por motivo de ordem médico-legal; ou movida por razão de ordem afetiva; e, ainda, a impulsionada pela lógica de ordem religiosa, principalmente, porque a Igreja de Roma era contra o ato, e, até, negava o sacramento às pessoas cremadas. (7) Poderíamos, ainda, acrescentar mais uma objeção - talvez a mais séria: o desconhecimento das coisas do Espírito, que persiste, em grande parte, por medo infundido, preconceito arraigado e falta de informação.
    O assunto é complexo, principalmente, quando consideramos que, muitas vezes, "o Espírito não compreende a sua situação; não acredita estar morto, sente-se vivo. Esse estado perdura, por todo o tempo, enquanto existir um liame entre o corpo e o perispírito. (8) O perispírito, desligado do corpo, prova a sensação; mas, como esta não lhe chega através de um canal limitado, torna-se generalizado. Poderíamos dizer que as vibrações moleculares se fazem sentir em todo o seu ser, chegando, assim, ao seu sensorium commune (9), que é o próprio Espírito, mas, de uma forma diversa. Ressalta Kardec, "Nos primeiros momentos após a morte, a visão do Espírito é sempre turva e obscura, esclarecendo-se à medida que ele se liberta e podendo adquirir a mesma clareza que teve quando em vida, além da possibilidade de penetrar nos corpos opacos”. (10)
    Chico Xavier, ao ser questionado, no programa "Pinga Fogo", da extinta TV Tupi, de São Paulo, pelo jornalista Almir Guimarães, quanto à cremação de corpos que seria implantada no Brasil, à época, explicou: "Já ouvimos Emmanuel a esse respeito, e ele diz que a cremação é legítima para todos aqueles que a desejem, desde que haja um período de, pelo menos, 72 horas de expectação para a ocorrência em qualquer forno crematório, o que poderá se verificar com o depósito de despojos humanos em ambiente frio”. (11) Richard Simonetti, em seu livro, "Quem tem Medo da Morte", lamenta que "nos fornos crematórios de São Paulo, espera-se o prazo legal de 24 horas, inobstante o regulamento permitir que o cadáver permaneça na câmara frigorífica pelo tempo que a família desejar”. (12)
    Para os cadáveres, creio que o Espiritismo não recomenda nem condena a cremação ou o método freeze-dry. Mas, faz-se necessário exercer a piedade com os cadáveres, protelando, por mais tempo, a destinação das vísceras materiais (13), pois existem, sempre, muitas repercussões de sensibilidade entre o Espírito desencarnado e o corpo onde se esvaiu o "fluido vital", nas primeiras horas seqüentes ao desenlace, em vista dos fluidos orgânicos que, ainda, solicitam a alma para as sensações da existência material. A impressão da desencarnação é percebida, havendo possibilidades de surgir traumas psíquicos. Destarte, recomenda-se, aos adeptos da Doutrina Espírita, que desejam optar pelo processo crematório [ou método freeze-dry], prolongar a operação por um prazo, mínimo, de 72 horas após o desenlace.


    Jorge Hessen
    Site http://jorgehessen.net
    Email jorgehessen@gmail.com






    Fontes:


    (1)    Feita de maneira correta, a queima dos corpos libera apenas água e gás carbônico em pequenas quantidades, já que os resíduos tóxicos ficam retidos em filtros de ar.
    (2)    Revista Superinteressante – 07/2009
    (3)    Revista Mundo Estranho – 05/2009
    (4)    Revista Mundo Estranho – 05/2009
    (5)    http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/lixo/conteudo_480673.shtml
    (6)    Com as modificações introduzidas pelo novo Ritual de Exéquias, é possível realizar os ritos exequiais inclusive no próprio crematório, evitando, porém, o escândalo ou o perigo de indiferentismo religioso..
    (7)    A Igreja romana, por ato do Santo Ofício, desde 1964, resolveu aceitar a cremação, passando a realizar os sacramentos aos cremados, permitindo as exéquias eclesiásticas. Aliás, em nota de rodapé de seu "Tratado" (vol. II. P. 534), o professor Justino Adriano registra o seguinte: "Jésus Hortal, comentando o novo Código de Direito Canônico diz que a disciplina da Igreja 'sobre a cremação de cadáveres, a que, por razões históricas, era totalmente contrária, foi modificada pela Instrução da Sagrada Congregação do Santo Ofício, de 5 de julho de 1963 (AAS 56, 1964, p. 882-
    (8)    Ensaio teórico sobre a sensação nos espíritos (cap. VI item IV, questão 257 Livro dos Espíritos).
    (9)    Expressão latina, significando a sede das sensações, da sensibilidade.
    (10)    Ensaio teórico sobre a sensação nos espíritos (cap. VI, item IV, questão 257 Livro dos Espíritos)
    (11)    As duas entrevistas históricas realizadas ao saudoso Francisco Cândido Xavier na extinta TV Tupi/SP canal 4, em 1971 e 1972, respectivamente, enfaixadas nos livros Pinga Fogo com Chico Xavier (Editora Edicel) e Plantão de Respostas - Pinga Fogo II (Ed. CEU)
    (12)    Simonetti, Richard.Quem tem Medo da Morte, SP: editora CEAC, 1987
    (13)    Depoimento de Chico Xavier in Revista de Espiritismo

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