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  • segunda-feira, 28 de junho de 2010

    ITATIRA - SURTO MEDIÚNICO COLETIVO OU HISTERIA GENERALIZADA?

    Alguns estudantes, (a maioria meninas), viveram instantes de pânico ao entrarem em transe na Escola de Ensino Fundamental do Distrito de Cachoeira, no Município de Itatira, no estado do Ceará. O episódio está deixando as autoridades da localidade sem uma explicação.
    Durante o transe psíquico as jovens sentem dores musculares, de cabeça, asfixia no sistema respiratório, palidez, calafrio, dificuldades para caminhar, náusea, paralisia muscular, aumento nos batimentos do coração, pressão alta, desmaio, inquietação e medo de morrer. Após crise, os alunos se recuperam e voltam a conversar normalmente, como se nada tivesse acontecido.
    Na tentativa de conter o avanço do fenômeno, um líder religioso foi convidado para orar na própria escola. Mas, no momento da preleção, o que se viu foi à repetição dos transes por diversas vezes.  O religioso justificou a ineficácia de sua presença dizendo que a sua Igreja é prudente nesses casos. Para ele é preciso analisar mais detalhadamente o fato. A Igreja só emite opinião depois de um estudo “aprofundado”. Um representante de outro credo religioso afirmou que pode ser uma força espiritual que está agindo dentro da escola, já que da unidade educacional três jovens morreram em acidentes. "Talvez eles estejam vagando precisando de reza”, opinou.
     Uma das estudantes relatou que, na crise, é tudo muito rápido, começa com um calafrio, depois as mãos ficam trêmulas, os batimentos do coração ficam acelerados, dá sede, um sufocamento toma conta do tórax, as pernas não seguram o corpo e aos poucos vem o desmaio. “Quando volto ao normal, não dá para relembrar de nada", afirmou.
    Estamos diante de um fenômeno mediúnico coletivo ou um surto de histeria psicótica?  O médico do hospital que atendeu as jovens disse que elas chegaram apresentando histeria, gritando, debatendo-se e com comportamento agressivo. Afirmou que a histeria coletiva tem uma explicação científica. Esses fenômenos acontecem em contextos em que há muita tensão, sofrimento não-verbalizado, argumentou.
    O fenômeno é uma histeria coletiva disse o clérigo. "De repente, uma aluna surtou e isso contagiou as demais garotas". Pasmem(!) O sacerdote afirmou que os fenômenos de Itatira são totalmente humanos e classificados pela parapsicologia “oscarquevediana” de "psicorragia" ou "hemorragia psíquica.(!!??...)
    Obviamente analisaremos o drama dos alunos sob a ótica espírita. A mediunidade é uma faculdade humana e pode eclodir a qualquer momento. No caso de Itatira,  alguns alunos dizem ver o espírito de um aluno desencarnado, chegando a descrevê-lo,  vestido com calças de canga azul e uma camisa.  Quando o “morto” aparece, os alunos, (principalmente as meninas), começam a tremer, a contorcer-se, entram em transe e a partir daí o pavor toma conta delas e desmaiam.
     O assunto nos remete ao mês de março do ano de 1857, quando na comuna de Morzine, situada na Alta Sabóia, leste da França,  com aproximadamente 2.500 habitantes, encontrava-se, segundo os noticiários da época, sob a influência de uma desconhecida epidemia psíquica. As autoridades francesas designaram o pesquisador Constant, para que investigasse o fato.  
    Após analisar os fenômenos, Constant elaborou um relatório em cujos tópicos curiosos destacamos: “de repente sobrevêm sobre as pessoas bocejos, espreguiçamentos, tremores, pequenos solavancos nos braços; pouco a pouco, em curto espaço de tempo, como por efeito de descargas sucessivas; batem nos móveis com força e vivacidade, começam a falar, ou antes a vociferar; no transe as moças têm uma força desproporcional à idade, pois são precisos três ou quatro homens para conter, durante a mesma, meninas de dez anos; deram respostas exatas a perguntas feitas em línguas por elas desconhecidas; após a crise, as meninas não têm qualquer lembrança do que disseram ou fizeram”.
    Com esse farto material, sob a ótica espírita, não hesitaríamos em identificar claras evidências de um legítimo enredo obsessivo; no entanto, assim concluiu o pesquisador: “parece ser uma possessão demoníaca, crise histero-demoniomania coletiva. Tratar-se-ia, segundo o diagnóstico proposto, de uma intrigante histeria coletiva, agravada pela fixação na figura demoníaca.(!!??...)
    Em decorrência do relatório do senhor Constant recorreu-se aos tradicionais procedimentos de expulsão demoníaca, a cargo das autoridades religiosas. Tentaram um exorcismo coletivo na igreja local, todavia, as jovens entraram em crise ostensiva simultaneamente, derrubando e quebrando o mobiliário do templo, lançando-se ao chão entre homens e crianças que, em vão, tentavam contê-las. Posteriormente, tentou-se o exorcismo a domicílio, porém não surtiu nenhum efeito.
    O interessante fenômeno coletivo de Morzine fez com que Kardec solicitasse orientação específica ao Espírito São Luiz e o mentor da Sociedade Espírita de Paris explicou o seguinte: "Os possessos de Morzine estão realmente sob a influência dos Espíritos sofredores, atraídos para aquela região por causas que conhecereis um dia, ou melhor, que vós mesmos reconhecereis um dia. O conhecimento do Espiritismo ali fará predominar a boa influência sobre a má fé, isto é, os Espíritos curadores e consoladores, atraídos pelos fluidos simpáticos, substituirão a maligna e cruel influência que desola aquela população. O Espiritismo está chamado a prestar grandes serviços. Será o curador dos males cuja causa era antes desconhecida e ante às quais a ciência continua impotente. Sondará as chagas mortais e lhes ministrará o bálsamo reparador; tornando os homens melhores, deles afastará os Espíritos doentes atraídos pelos vícios da humanidade. Se todos os homens fossem bons, os Espíritos violentos deles se afastariam porque não poderiam os induzir ao mal. A presença dos homens de bem os faz fugir. A dos homens viciosos os atrai, ao passo que se dá o contrário com os bons Espíritos. Assim, sede bons, se quiserdes ter apenas bons Espíritos em redor de vós.”(1)
    Como percebemos, os fenômenos de Morzine se mostram atuais. Importa, portanto, que, diante de tão elucidativas afirmações pertinentes à temática, nos abstenhamos de responsabilizar somente os Espíritos momentaneamente imersos nas sombras por todos os dissabores e infortúnios que nos visitam a existência, reconhecendo que processo obsessivo é fenômeno de sintonia, sobretudo mental, em que ondas semelhantes se entrelaçam, fazendo com que os afins se atraiam, ainda que circunstancialmente.
    Para a Doutrina Espírita o esclarecimento dos encarnados, o amparo e consolo dos espíritos desencarnados em sofrimento poderiam acalmar as coisas em Itatira, sem maiores estardalhaços.

    Jorge Hessen
    http://jorgehessen.net


    Fonte:
      Kardec, Allan.  R e v i s t a   E s p í r i t a,  ano VI, maio de 1863, vol. 5, (mensagem ditada pelo Espírito S. Luiz através da médium sra. Costel em reunião na SEEP).

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