Civilizações antigas adoravam o deus Mamon (estátua construída de ouro e prata), representando a riqueza, o luxo, a ganância e os gozos excessivos. Por isso, nos tempo apostólicos, a analogia proposta por Jesus: "Ninguém pode servir a Deus e a Mamon pois, ou odiando a um, amará o outro, ou aderindo a um, desprezará o outro."(1)
Jesus não condenou a riqueza, pois ela não é contra as Leis Naturais. O condenável é o seu abuso ou mau uso, quando é utilizada para a satisfação de gozos prejudiciais, pelas tristes consequências que acarreta. Embora o Mestre tenha citado que "é mais fácil um camelo passar pelo buraco da agulha, do que um rico entrar no reino dos Céus."(2) Muitos acreditam que só alcançarão a paz se conseguirem fortuna e segurança. Entregam-se ao materialismo, à preguiça e ao comodismo. Mas em verdade, o Mestre não quis dizer que todos os ricos são depravados.
Grandes fortunas trazem grandes encargos. Se sob certos aspectos dão comodidade e conforto, de outro trazem muitas obrigações que, se não cumpridas, poderão perder a nossa alma, criando enormes dívidas. "se a riqueza tivesse de ser um obstáculo absoluto salvação dos que a possuem, como poderia inferir de certas expressões de Jesus, interpretadas segundo a letra não segundo o espírito?"(3)
O Evangelho consigna sobre o Rico e o pobre Lázaro que personificam a Humanidade, sempre rebelde aos ditames da Luz e da Verdade. O Rico gozou no mundo e sofreu no Espaço; o Lázaro sofreu no mundo e gozou no Espaço. Nesse caso, o rico pode ser a personificação daqueles que são escravos do reino do mundo, que não vêem mais do que o mundo, esse "paraíso perdido" entre os charcos da degradação moral, que avilta as almas e as atira aos infernos escancarados dos vícios.
Por outro lado, Lázaro representa os excluídos da sociedade terrena, aqueles que, quando muito, podem chegar ao portão dos grandes templos, aqueles que não podem atravessar os umbrais dos palácios dourados, aqueles que essa sociedade corrompida do mundo despreza, amaldiçoa, cobre de labéus, crava de setas venenosas que lhes chagam o corpo todo.
A riqueza é uma prova muito arriscada para o espírito, mais perigosa do que a prova da pobreza. São palavras do próprio Kardec: “a pobreza é, para os que a sofrem, a prova da paciência e da resignação; a riqueza é, para os outros, a prova da caridade e da abnegação.”(4) Todavia, Jesus nos ensinou. “Amai-vos uns aos outros”(5) . Estas palavras encerram o bom emprego da riqueza, porque aquele que ama o seu próximo tem traçada toda a linha do seu bem proceder – A caridade.
Portanto, riqueza e pobreza nada mais são que provas, pelas quais o Espírito necessita passar, tendo em vista um objetivo mais alto, que é o seu progresso. Deus concede, pois, a uns a prova da riqueza, e a outros a da pobreza, para experimentá-los de modos diferentes. Aliás, essas provas são, com freqüência, escolhidas pelos próprios Espíritos, que, no entanto, nelas geralmente sucumbem.
Espíritos realmente evoluídos, tanto quanto os que compreendem perfeitamente o significado a Lei de Causa e Efeitos, podem solicitar a prova da pobreza como oportunidade para o acrisolamento de qualidades ou a realização de certas tarefas que a riqueza certamente prejudicaria. Algumas vezes, também, o mau uso da fortuna em precedente existência leva o Espírito a pedir a condição oposta, com o que espera reparar abusos cometidos e pôr-se a salvo de novas tentações.
Se a riqueza somente males houvesse de produzir, Deus não a teria outorgado aos homens. Mas, longe disso, a riqueza, se não constitui elemento direto de progresso moral, é, sem contestação, poderoso elemento de progresso intelectual.
A igualdade das riquezas é impossível no mundo em que vivemos, porque a isso se opõe a diversidade das faculdades e dos caracteres. Os homens não são criaturas iguais. Há entre eles os que são mais previdentes, mais inteligentes e mais ativos. Logo, se a riqueza fosse repartida com igualdade entre todos, o equilíbrio em pouco tempo estaria desfeito.
Se fôssemos consciente da necessidade da prática do bem, não haveria situações tão extremadas de todos os tipos de aberrações, que se cometem em nome da abastânça. Não encontraríamos pessoas perambulando pelas ruas, embriagadas, sujas, cabelos desgrenhados, roupas ensebadas, catando coisas no lixo ou esmolando um pedacinho de pão.
A mensagem do Cristo é um elixir poderoso, o mais seguro para a redenção social, que haverá de penetrar em todas as consciências humanas, como um dia penetrou no desprendimento de Vicente de Paulo, na majestosa solidariedade de irmã Dulce, na bondade de Francisco de Assis, na suprema dedicação de Teresa de Calcutá e no amor de Chico Xavier. É urgente aprendermos a fazer o bem incondicional, e nesse comportamento podermos soltar o sereno grito como o fez Paulo: "Já não sou quem vive, mas o Cristo é quem vive em mim.”(6)
Jorge Hessen
(1) Mateus 6:24
(2) Mateus 19:24
(3) Kardec, Allan,. O Evangelho Segundo Espiritismo, Rio de Janeiro: Ed. FEB,1998, Cap.1
(4) Idem
(5) Jo.15:9
(6) Gl. 2,20
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