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  • sexta-feira, 23 de setembro de 2011

    ÉTICA ESPÍRITA, ENTRADA FRANCA SEMPRE!... POR QUE NÃO?



    Após proferir palestra no Centro Espírita, cujo tema nos induziu a afirmar para o público sobre o delírio da cobrança de taxas para entrada no congresso “espírita”, programado pelo órgão federativo local, um amigo sugeriu-nos a leitura do “Projeto de Interiorização”- Espiritismo para os simples. (1) Procuramos conhecer o projeto, lemos e apreciamos bastante as diretrizes e planos ali consignados. O confrade também indicou-nos o artigo “União com fidelidade, simplicidade e fraternidade” do admirável Antonio César Perri de Carvalho, Diretor da FEB. Encontramos o artigo na Revista Reformador; analisamos o texto e ficamos entusiasmados com os dizeres do representante da Comissão Executiva do Conselho Espírita Internacional. O excelente artigo, dentre outras reflexões audaciosas, inspira-nos para o imperativo da “unidade do espírito pelo vínculo da paz”. (2)

    César Perri ilustra o tema afirmando que “entre os desafios atuais para a união dos espíritas (...)há necessidade de revisão de algumas estratégias e posturas, para se ampliar a difusão do Espiritismo em todas as faixas etárias e sociais. (...) entendemos que o acolhimento dos simples [espíritas desempregados, iletrados, pobres] no ambiente das reuniões espíritas é tarefa de primordial importância nos tempo em que vivemos.”(3)

    Para o Diretor da FEB “a realização de eventos federativos e de divulgação devem ter como parâmetros o que é simples e viável para a maioria das instituições e dos espíritas.” (4)(grifei)

    O tema é recorrente e crônico. É flagrante a marginalização de confrades valorosos que, devido à impossibilidade de arcar com os escorchantes preços dos eventos espíritas, ficam e continuarão a ficar excluídos dos congressos espíritas, como os que têm sido realizados ultimamente por diversas federativas estaduais e mesmo pela Casa Mater. Após 36 anos escrevendo para imprensa espírita e alertando sobre a discrepância dos eventos pagos, confessamos que o Perri pacificou-nos o ânimo com as suas judiciosas e lúcidas palavras. E, mais, advindo de um confrade de envergadura moral irrepreensível como é o caso do Perri, acreditamos que o Movimento Espírita brasileiro mudará de rota no Brasil e no Mundo.

    À guisa de sugestão , considerando a viabilidade de participação nos eventos doutrinários da maioria das instituições e dos espíritas, propomos aos abastados seguidores de Kardec abrirem mão do excesso da conta bancária e colaborem mais frequentemente com o Movimento Espírita. Poderiam bancar vários eventos doutrinários sem consentir que espíritas simples fossem excluídos dos congressos, seminários e encontros. Portanto, sem ferir a ótica e a ética espíritas, saberiam utilizar com inteligência os recursos que Deus concede, fugiriam da avareza, seriam pródigos no amor, conscientizar-se-iam da imensa responsabilidade social e colaborariam para fazer do Espiritismo o mais importante núcleo de debates espirituais da Terra...

    Modelo de mecenas (5) não falta! “O empresário carioca Frederico Figner, proprietário da Casa Edison e introdutor do fonógrafo no Brasil, era um deles. Tão rico quanto espírita, ele trocou cartas com Chico Xavier 17 anos seguidos. E o ajudou muito. Sem suas doações, o datilógrafo da Fazenda Modelo não conseguiria atender tanta gente. A cada mês, o filho de João Cândido gastava o correspondente a três vezes o seu salário só com assistência social. Para Chico, os ricos deveriam ser considerados “administradores dos bens de Deus”. Ao longo de sua vida, ele ajudaria muitos milionários “benfeitores” a canalizar os “tesouros divinos” para a caridade.”(6)

    O editorial da revista "O Espírita", de jan/mar-93 registra que "a fé começa nos lábios, obrigatoriamente passa pelo bolso, para se instalar no coração".(7) Sabemos que a divulgação doutrinária é urgente mas não apressada. Portando, não identificamos necessidade nenhuma para o afoitamento e desespero das federativas promoverem improfícuos festivais de congressos, seminários e simpósios onerosos. Jamais esqueçamos que “é indispensável manter o Espiritismo, qual foi entregue pelos Mensageiros Divinos a Allan Kardec: sem compromissos políticos, sem profissionalismo religioso, sem personalismos deprimentes, sem pruridos de conquista a poderes terrestres transitórios.” (8)

    Os congressos espíritas são importantes para a vitalidade do movimento espírita, para a permuta de experiências e o congraçamento entre pessoas. Mas, francamente! O frenesi para realização de congressões espíritas dispendiosos têm revigorado o status, o personalismo e a vaidade de muitos líderes incautos. Jesus nos ensinou a condenar o erro, preservando a quem erra. Mas, até mesmo Ele, que era um exemplo de brandura, atuou com austeridade, com muito rigor, aliás, quando a expelir os vendilhões do Templo.

    Não condenamos e nem poderíamos desaprovar os Congressos, Simpósios, Seminários, encontros necessários à divulgação e à troca de experiências, mas, a Doutrina Espírita não pode ficar cerrada nos Centros de Convenções suntuosos, não se pode enclausurar Espiritismo nos excludentes anfiteatros acadêmicos e nem aprisioná-lo em grupos fechados. À semelhança do Movimento Cristão, dos tempos apostólicos, A Doutrina dos Espíritos também pertence aos Centros Espíritas simples, localizados nos bolsões de desventura, nos assentamentos, nas favelas, nos bairros miseráveis, nas periferias urbanas esquecidas; e não nos venham com a eloqüência oca de que estamos sugerindo um tipo de “elitismo às avessas”. O que fortalece nossas assertivas são os muitos Centros Espíritas simples e pobres, todavia bem dirigidos em vários municípios do País. Por causa desses Núcleos Espíritas e médiuns humildes, o Espiritismo haverá de se manter simples e coerente, no Brasil e, quiçá, no Mundo, conforme os Benfeitores do Senhor o entregaram a Allan Kardec.

    E por falar no mestre lionês, precisamos de “Allan Kardec nos estudos, nas cogitações, nas atividades, nas obras, a fim de que à nossa fé não se faça hipnose, pela qual o domínio da sombra se estabelece sobre as mentes mais fracas, acorrentando-as a séculos de ilusão e sofrimento. Seja Allan Kardec, não apenas crido ou sentido, apregoado ou manifestado, à nossa bandeira, mas suficientemente vivido, sofrido, chorado e realizado em nossas próprias vidas. Sem essa base é difícil forjar o caráter espírita-cristão que o mundo conturbado espera de nós pela unificação.” (9)


    Jorge Hessen

    http://jorgehessen.net


    Referências bibliográficas:


    (1) disponível em: http://www.febnet.org.br/ba/file/CFN/Projeto_interiorização.pdf
    (2) Xavier, Francisco C. Fonte Viva, ditado pelo espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap. 49, pg.116
    (3) Carvalho, Antonio C. Perri. Artigo “União com fidelidade, simplicidade e fraternidade” publica do em Reformador, abril, ano 2011 pags. 29,30 e 31
    (4) idem
    (5) O termo mecenas, nos países de línguas neolatinas, indica uma pessoa dotada de poder ou dinheiro que fomenta concretamente a produção de certos literatos e artistas. Num sentido mais amplo, fala-se de mecenato para designar o incentivo financeiro de atividades culturais, como exposições de arte, feiras de livros, peças de teatro, produções cinematográficas, restauro de obras de arte e monumentos.
    (6) Maior, Marcel S. As vidas de Chico Xavier, São Paulo: Editora Planeta, 2003
    (7) Editorial da revista "O Espírita" de Brasília edição de jan/mar-93
    (8) Bezerra de Menezes, trechos da mensagem “Unificação”, Psic. F. C. Xavier – Reformador, dez/1975 - FONTE: CEI - Conselho Espírita Internacional.
    (9) Idem

    Um desabafo,

    Arnaldo A. Rocha
    Arnaldo Rocha e Jorge Hessen


    Meu bom amigo e irmão Jorge Hessen,


    Em 1993, participávamos de uma reunião de dirigentes de centros espíritas na FEDF,  quando o presidente dessa Distrital, na época, fez uma citação negativa ao editorial da revista "O Espírita" sobre cobranças de taxas em eventos espíritas, referindo-se  de forma infeliz, à pessoa de quem fazia o editorial da revista e não assinava (no caso o confrade Carlos Augusto de São José, um dos mais  incansáveis defensores da pureza dos postulados espíritas-cristãos). Tomei da palavra, mostrando minha indignação por citar alguém que não estava presente para se defender, e disse que a direção da federação deveria chamá-lo para explanar sobre sua opinião, tão bem colocada no editorial da revista. Formou-se um burburinho, pois não esperavam que alguém pudesse se manifestar com tanta  veemência....
    Aproveitei o ensejo para dizer que também não concordava com as cobranças de taxas em eventos espíritas, sugeri que todas as casas espíritas, de acordo com as suas condições financeiras, repassassem 1salário mínimo, ou mais, anualmente para a FEDF fazer um caixa, com a finalidade única de bancar todos os eventos espíritas no Distrito Federal. Disse que, excluindo as casas espíritas que têm dificuldades materiais, todas as demais tinham como aderir a essa idéia, recolhendo 1/12 avos de um salário mínimo por mês, o que representaria hoje o valor de R$ 45,41. Além de dar a sugestão, mostrei o recibo de depósito bancário feito em conta da FEDF pelo Centro Espírita Fonte de Esperança para que pudesse servir de exemplo. Falei, também, na oportunidade, que se 100 casas, pelo menos, recolhessem um salário mínimo anual, teríamos, a preço de hoje, o valor de R$ 54.500,00, o que daria para pagar as despesas, se não de todos, mas da maioria dos eventos realizados no DF. Infelizmente o presidente retomou a palavra, solicitou para que voltássemos à pauta da reunião, deixando esse assunto para ser discutido num outro momento. Foi o último encontro do qual participei na FEDF, representando o Centro Espírita Fonte de Esperança, por perceber a incoerência dos líderes espíritas que preferem render-se à lei do menor esforço, elitizando uma doutrina crística que veio para o bem de  toda a humanidade e não para atender aos anseios da classe média.
    Esse cancro tomou conta do movimento espírita de tal maneira que hoje, qualquer palestra, seminário, workshopping e etc., tem sua entrada cobrada, num flagrante desrespeito às orientações de mais Alto.
    Na minha visão particular, a FEB, também, se encontra em atitude de omissão, de braços cruzados, não emite uma opinião à respeito, preferindo seguir com essa prática que faz do Espiritismo mais uma religião que aceita esse procedimento comercial, como se fosse correto, moral e ético, descaracterizando o Consolador Prometido por Jesus Cristo. Se a própria FEB, anualmente, publicasse edições de livros espíritas, com o propósito único de arrecadar fundos para bancar as despesas de eventos espíritas em nosso país, os que pudessem, comprariam essas edições extras (mesmo que um pouco mais caras) para ajudarem na realização de eventos com entrada franca. Fora essas sugestões, devem existir outras semelhantes ou melhores, bastando tão-somente que os  líderes de nosso movimento queiram fazer um espiritismo para todos e não para os que possam pagar para receberem o que de graça recebemos do Espírito de Verdade.
    Infelizmente acho que Mamon, de maneira muito inteligente e persuasiva, está mais presente dentro movimento espírita do que possamos imaginar, principalmente pelos sofismas que são utilizados para defender essa prática funesta, da cobrança de taxas em eventos espíritas, por "dignos" representantes que falam em nome do Espiritismo. E para finalizar, penso, igualmente, que todo palestrante e expositor espírita-cristão consciente  não deveriam participar de eventos com entradas pagas, mostrando por essa atitude a sua discordância e indignação com tal proceder.
    Só falta, agora, colocarmos um "Gazofilácio" à entrada de cada Centro Espírita nos dias das reuniões públicas, e não estamos longe disso...
    Arnaldo Rocha