Michael Faherty, de 76 anos, desencarnou em sua casa em Galway no dia 22 de dezembro de 2010. O corpo, carbonizado, foi encontrado com a cabeça virada para a lareira. O médico legista Ciaran McLoughlin, de West Galway, Irlanda, afiançou que Faherty foi vítima de uma “autocombustão humana”. "O incêndio foi totalmente investigado e a sua conclusão é de que o fato se encaixa na categoria de ‘combustão humana espontânea’, para o qual não há uma explicação adequada"(1). McLoughlin explicou ser essa a primeira vez em 25 anos de carreira que deu um parecer de combustão espontânea.
Larry Arnold, um experto em autocombustão humana, sugere que o fenômeno resulta de uma nova partícula subatômica chamada 'pyroton' que, segundo ele, interage com as células para criar uma micro-explosão. Mas não existe nenhuma evidência científica provando a existência de tal partícula.
A primeira combustão humana espontânea conhecida foi divulgada pelo anatomista dinamarquês Thomas Bartholin, em 1663, quando descreveu como uma mulher em Paris "foi reduzida a cinzas e fumaça" enquanto dormia. O colchão de palha onde ela estava deitada não foi danificado pelo fogo. Em 1763, Jonas Dupont apresentou em Lyon uma tese de doutorado: De incendiis corporis humani sponraneis; ele foi o primeiro a tratar do assunto oficialmente.
No século XIX, Charles Dickens despertou grande interesse no assunto, usando o tema para “matar” um personagem de sua novela "A casa abandonada” ("Bleak House"). Krook (o personagem alcoólatra), compartilhava da crença comum nessa época de que a combustão humana espontânea era causada por quantidades excessivas de álcool no corpo.(2) Surgiram algumas críticas acusando Dickens de divulgar superstições, mas o escritor respondeu aos ataques citando suas fontes de pesquisa sobre autocombustão humana – especialmente o caso da Condessa Cornelia de Bandi, de Cesena, Itália, ocorrido em 1731 – e o de Nicole Millet.
A rigor, ninguém ainda desmentiu ou provou concreta e conclusivamente a combustão humana espontânea. Portanto, estamos diante de um fenômeno paranormal não mencionado na literatura consagrada pelas explicações espíritas e que tem desafiado a inteligência dos pesquisadores. A ocorrência é um dos mais complexos fenômenos estudados pela parapsicologia e, sem dúvida, dos mais difíceis de ser comprovado, e sobre o qual muitos cientistas preferem manter silêncio. A definição pode parecer um tanto vazia, mas a verdade é que pouco ou nada se sabe sobre o suposto fenômeno – como se inicia ou termina, ou mesmo por que ocorre.
O intrigante da questão é: os corpos físicos podem ser consumidos espontaneamente pelo fogo? Muitas pessoas acreditam que a autocombustão humana seja um evento possível, mas a maioria dos cientistas não está convencida, apesar das evidências pelas inúmeras imagens fotográficas existentes. Para alguns, a combustão espontânea ocorre quando uma pessoa rompe em chamas por causa de uma reação química interna aparentemente não provocada por uma fonte externa de calor (ignição). “Em dezembro de 1966, o corpo do Dr. J. Irving Bentley, de 92 anos, foi descoberto na Pensilvânia, ao lado do medidor de consumo de eletricidade de sua casa. Na realidade, apenas parte da perna dele e um pé, ainda com o chinelo, foram achados. O restante do seu corpo tinha se transformado em cinzas.” (3)
Como esclarecer que um homem pegou fogo – sem nenhuma origem aparente de faísca ou chama – queimando completamente o próprio corpo, sem espalhar as chamas para nenhum objeto próximo? O caso do Dr. Bentley e centenas de outros casos semelhantes ficaram conhecidos como eventos de "combustão humana espontânea" (Spontaneous Human Combustion – SHC). Embora ele e outras vítimas do fenômeno tenham sofrido combustão quase total, as redondezas de onde se encontravam, ou as próprias roupas, muitas vezes não sofriam dano algum.(4)
Certa vez a TV Globo mostrou um “senhor que dormiu dois dias sucessivos e ao acordar notou no seu corpo queimaduras espontâneas profundas e sua mão direita completamente carbonizada, a qual teve que ser amputada. Um médico e um cientista abordados a respeito desse fato também não souberam explicá-lo. Mas como é de praxe, batizaram o fenômeno: "Combustão espontânea do corpo humano".(5)
Allan Kardec elucida os fenômenos (anímicos) de efeitos físicos (ruídos, pancadas, lançamento de objetos, transportes, a pirogenia ou combustão espontânea [roupas, colchões, móveis], psicometria (percepção de fatos a partir de objetos) etc.(6) As manifestações físicas estiveram relacionadas ao próprio surgimento da Doutrina Espírita, no século XIX, quando o professor Rivail teve sua atenção despertada para as chamadas mesas girantes e passou a estudá-las conforme consigna O Livro dos Espíritos, na Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita. Os fenômenos espíritas desse gênero, de modo geral as manifestações físicas espontâneas, objetivavam chamar a atenção de Kardec e convencê-lo da presença de uma força superior à do homem.(7) Todavia, ressalte-se que o mestre de Lyon nada investigou e nem os espíritos informaram sobre o fenômeno de mortes por autocombustão humana.
“Existe, no entanto, a faculdade, qual utilizava Daniel Dunglas Home, que produzia fenômenos de combustão espontânea, mas que não era autocombustão e que não o queimava. Em uma experiência memorável diante do Imperador Napoleão III, antes de Allan Kardec, no mês de abril de 1852, convidado às Tulherias por aquele, deu as maiores demonstrações de mediunidade, porque o Imperador gostava de prestidigitação (ilusionismo) e acreditava que os fenômenos produzidos por Daniel e por outros eram de ilusionismo, de malabarismo. Entre as manifestações notáveis que Daniel produziu naquela noite, uma foi tomar de uma folha de papel, atritá-la, atirando-a nas labaredas da lareira, dizendo: – "Não queime". – e a folha de papel permaneceu intacta. Ele afastou-se alguns metros, e ordenou: – "Pode queimar". – e ela ardeu. Constatamos que ele a havia impregnado de energia anti-combustiva e, ao dar-lhe a ordem, a energia desgastada, não isolou o papel.” (8)
Quais as causas dos fenômenos de efeitos físicos? Qual a sua origem e sua finalidade? São questões que passaram a ocupar o pensamento do professor lionês, que passou a estudá-los levando-o às pesquisas e ao trabalho de compilação e organização da Codificação Espírita, dando origem aos cinco livros que editou usando o criptônimo de Allan Kardec.
Pelo sim, pelo não, ousemos propor uma explicação plausível para o fenômeno peculiar que consome uma pessoa por uma chama que parece vir de seu próprio corpo e transformá-la em pouco mais que um monte de ossos enegrecidos e pó. Cremos ser um processo expiatório que alcançam alguns seres humanos que invariavelmente praticaram atos impiedosos no passado, quiçá nos medievos cenários inquisitoriais; pessoas essas que incineraram impiedosamente os hereges vivos nos troncos do ódio, razão pela qual e sob o látego da Lei de Ação de Reação carregam as matrizes que liberam a materialidade de tão dantesco fenômeno.
Espera-se que um dia o mistério possa ser mais bem esclarecido, pois a autocombustão de corpos representa um dos mais complexos e atemorizantes acontecimentos paranormais da história humana.
Jorge Hessen
http://jorgehessen.net
Referências bibliográficas:
(1) Disponível em http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2011/09/110923_combustao_irlanda_fn.shtml acessado em 16/11/2011
(2) Entre as vítimas da tal “combustão humana espontânea”, consta uma proporção elevada de mulheres idosas, sedentárias, obesas e que bebiam muito. Mas a lista compreende também pessoas jovens, em boa saúde e que não bebiam, o que torna particularmente precária a explicação pela combustão do álcool e das gorduras do organismo. As listas das vítimas mostram, igualmente, uma proporção anormal de eclesiásticos.
(3) Disponível em http://teoriadaconspiracao.org/discussion/67/combustao-humana-espontanea-che/p1 acessado em 11/11/2011
(4) Disponível em http://teoriadaconspiracao.org/discussion/67/combustao-humana-espontanea-che/p1 acessado em 11/11/2011
(5) Disponível em http://www.espirito.org.br/portal/artigos/correio-fraterno/boletim-2000-04.html acessado em 12/11/2011
(6) Há alguns anos, uma modesta residência da Grande São Paulo foi literalmente destruída em decorrência de uma série continuada de fenômenos de efeitos físicos: combustão espontânea de roupas, cobertores e colchões, vidros e telhas estilhaçados por objetos atirados ninguém sabia de onde, barulhos ensurdecedores que não deixavam ninguém descansar.
(7) Kardec, Allan. O Livro dos Médiuns , Rio de Janeiro: Ed FEB, 1999, item 85
(8) Entrevista de Divaldo Franco, disponível em http://grupoallankardec.blogspot.com/2011/11/combustao-espontanea-na-visao-espirita.html acessado em 11/11/11