Ninguém tem a obrigação de ser espírita e sequer demorar-se
nos grupos kardecianos. (Jorge Hessen)
Jorge Hessen
jorgehessen@gmail.com
Conhecemos centros “espíritas” brasiliense, que elegem como
“mentores (as)” os espíritos saturados de atavismos psicológicos do tipo – “pai
fulano”, “vovó sicrana”, “vovô beltrano” e correlatos. Nada mais incoerente! Não
há como comparar tais “entes” com os espíritos que se apresentam como
“ex-padres” e “ex-freiras” do ponto de vista da Codificação Espírita. [1]
Sabemos que no além-túmulo, o espírito não tem raça,
portanto não é amarelo, nem vermelho, nem negro, nem branco, não obstante possa
apresentar no seu perispírito distinções de alguma casta, idade, se ainda assim
se sentir, devido à sua limitação moral e intelectual e ou se assim o apetecer.
Como sucedeu numa das reuniões realizadas na Sociedade Parisiense de Estudos
Espíritas, em que Allan Kardec dialogou com um Espírito de um “velhinho” (Pai
César), aliás, exclusivo episódio do gênero referido em toda a Codificação.
Será que há alguma coerência um “vovô”, uma “vovó”, um(a)
preto(a) velho(a), ser mentor(a) espiritual de uma instituição cujo estatuto normatize
a obrigatoriedade dos estudos das obras básicas? Obviamente não, sobretudo, se tais
entidades evidenciarem insuficiente cultura, pouca evolução espiritual, linguajar
primário, argumentos místicos e tolos, raciocínios lento e exigirem serem chamados
de “vovô”, “vovó”, “preta ou preto velho”.
As comunicações de tais entidades havidas como “mentores
espirituais” de uma instituição espírita
resultam da autossugestão mediúnica, do incabível animismo, das ciladas
psicológicas e das emperradas mistificações. Não são poucos os obsessores que
fingem ser tais entidades e imitam linguajar (de entes de “terreiros”) com o
objetivo de iludir e manter sob hipnose os espíritas inábeis.
Nas sessões mediúnicas que administro há mais de 40 anos, se
ocasionalmente ocorrer manifestação de tais espíritos (“pais”, “vós”, “vôs”,
“pretas ou pretos velhos”, caboclos e análogos), se acolhidos pelo diretor espiritual
da sessão, tais espíritos serão orientados adequadamente. Não haverá
intolerância ou preconceito contra eles. Mas, analisaremos atentamente sua
natureza e o conteúdo de suas comunicações, como fazemos com espíritos de
qualquer procedência que se manifeste no grupo.
Na verdade, tais
espíritos, para se comunicarem no grupo mediúnico , não têm necessidades e nem precisam
de convite para o uso de linguajar bizarro, incompreensível aos médiuns e aos
participantes da reunião. Se tais entidades se apresentam com atavismos da
encarnação de ex-escravos, “velhos ou novos”, índios etc. buscamos orientá-los
sob a luz do Espiritismo, a fim de que se libertem desses ranços atávicos.
Assim, buscamos esclarecê-los quanto à sua real natureza de
espíritos em evolução. Por isso, durante a doutrinação esforçamo-nos para lhes lembrar
que já reencarnaram diversas vezes em diferentes condições e, portanto, têm
patrimônio espiritual mais vasto, portanto , não necessitam permanecerem quais
pássaros presos numa gaiola, alimentando um padrão mental de ingênuos seres
algemados ao passado.
Há os que usam sutis subterfúgios, dizendo que se apresentam
assim porque tal ou qual encarnação lhes foi muito grata por lhes haver
permitido adquirir “virtudes”, especialmente a “humildade” e daí seu desejo em
exemplificar. É evidente que esse argumento é capcioso, pois quem conquistou a
virtude da humildade não nutre nenhuma necessidade de exibir e ou adotar trejeitos
de falsas modéstias.
Algumas pessoas supõem que pretos-velhos, índios e caboclos
e semelhados sejam quais empregados domésticos para lhes atenderem aos pedidos caprichosos.
Outras acreditam que tais espíritos tenham poderes misteriosos, capazes de resolver
de modo feiticeiro os problemas dos consulentes. Parecem também julgá-los
subornáveis, já que aceitariam agir em troca de algum “pagamento” ou “compensação”.
Quando não mais houver estímulos para essas exibições atávica
nas instituições espíritas, tais
espíritos deixarão de se apresentar como “pai”, “mãe”, “vermelhos”, “pretos”, “amarelos”,
“velhinhos”, “criancinhas”, “selvagens” etc. etc. etc. e passarão a se
comunicar em seu modo próprio e natural de ser.
Muitos entendem que os “vovôs”, “vovós”, “caboclos” e
“pretos-velhos” e “entidades orientais” são mais enérgicos e fortes. Creem que
as proteções que os Espíritos comuns não obtêm os tais mandingueiros conseguem.
Nada é mais burlesco!
Não estamos afirmando aqui que o Espiritismo seja uma doutrina
melhor do que as outras. Porém, se abraçamos os princípios espíritas como regra
de conduta devemos nos comportar consoante recomenda o Espiritismo. Todavia, se
ainda temos carência das entidades (“fortes”) repletas de atavismos, busquemos seus
espaços de ação (um terreiro por exemplo) e sejamos felizes! Até porque, ninguém
tem a obrigação de ser espírita e sequer demorar-se nos grupos kardecianos.
O que não podemos é misturar as coisas. Cada um no seu espaço
em plena liberdade de escolha.
Pensemos, nisso!
Referência: