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  • quarta-feira, 17 de dezembro de 2025

    Os paradoxos das profecia ante o livre-arbítrio

     


    Jorge Hessen

    Brasília -DF

     

    A questão de se as predições deveriam ou não acontecer, dado o conceito de livre-arbítrio, é um tópico intricado que toca em debates teológicos e filosóficos de longa data, sem uma resposta única ou universalmente aceita.

    Emmanuel, na obra "EMMANUEL", registra no 33º capítulo que "o livre-arbítrio é lei irrevogável na esfera individual, perfeitamente separável das questões do destino, anteriormente preparado. Os atos premonitórios são sempre dirigidos por entidades superiores, que procuram demonstrar a verdade de que a criatura não se reduz a um complexo de oxigênio, fosfato, etc

    Existem várias perspectivas sobre como a predição e o livre-arbítrio coexistem (ou não):

    Uns sustentam que a profecia não dita o futuro, mas sim que uma entidade onisciente (Deus) simplesmente sabe de antemão quais escolhas livres os indivíduos farão.

    Nesse caso, a profecia é o conhecimento do resultado, não a causa do resultado. O livre-arbítrio ainda existe plenamente, pois as pessoas fazem suas escolhas independentemente de elas serem conhecidas de antemão.

    Muitas tradições religiosas tratam as profecias como condicionais. Elas servem como avisos ou orientações sobre o que pode acontecer se determinadas ações forem ou não tomadas. Nesse cenário, o objetivo da profecia é motivar as pessoas a usarem seu livre-arbítrio para mudar o curso dos acontecimentos através do exercício do arrependimento, da mudança de comportamento, o que significa que a predição pode não se cumprir se a condição for alterada.

    Outro aspecto sugere que, embora os indivíduos tenham livre-arbítrio para fazer escolhas diárias, certos eventos antevistos maiores são inevitáveis como parte de um plano ou destino predeterminado. O livre-arbítrio operaria dentro desses limites maiores.

    Uma visão mais estrita argumenta que profecias detalhadas e infalíveis são fundamentalmente incompatíveis com a existência do livre-arbítrio genuíno, pois se o futuro é conhecido com certeza absoluta, as escolhas dos indivíduos não podem ser verdadeiramente livres para alterá-lo.

    Portanto, a ideia de que "toda profecia deveria não acontecer considerando o livre-arbítrio" reflete a visão de que o destino predeterminado e a escolha pessoal se anulam mutuamente.

    No entanto, muitas estruturas de crença oferecem maneiras de reconciliar os dois conceitos.

    Na verdade, a complexidade de prever o futuro é imensamente amplificada pela existência do livre-arbítrio, pois a capacidade humana de fazer escolhas autônomas introduz um elemento de imprevisibilidade fundamental que desafia abordagens puramente determinísticas.

    A discussão sobre a previsão do futuro está intrinsecamente ligada ao debate filosófico e científico entre o determinismo e o livre-arbítrio.

    Na visão do determinismo, todos os eventos e ações humanas são o resultado inevitável de causas anteriores, como leis naturais, genética e ambiente social.

     Em um universo estritamente determinístico, onde cada ação é uma consequência necessária do estado anterior do universo, o futuro é, em princípio, previsível, desde que se conheçam todas as variáveis relevantes.

    Na visão do livre-arbítrio, os seres humanos são livres para escolher suas ações e tomar decisões, sem serem completamente determinados por fatores externos. A introspecção sugere que temos opções e podemos decidir nosso caminho, o que torna nossas ações, em essência, imprevisíveis por métodos puramente causais e mecânicos.

    Portanto, o livre-arbítrio introduz várias camadas de complexidade à previsão: se as ações humanas não são meras consequências de cadeias causais fixas, mas sim o resultado de um processo de deliberação interna complexo e, em certa medida, idiossincrático, as previsões tornam-se incertas.

    Mesmo que se pudessem medir todos os estados mentais de uma pessoa, a emergência da consciência e a tomada de decisão envolvem uma complexidade cognitiva que vai além de manipular instrumentos em laboratório.

    A tentativa de prever o futuro de uma pessoa com livre-arbítrio cria uma contradição. Se um cientista prevê que você fará A, mas você, ao saber da previsão, decide fazer B para contrariá-la, a previsão falha. A própria previsão torna-se um novo fator causal que a pessoa livre pode considerar em sua decisão, tornando a previsão estática impossível.

    Porém, algumas visões teológicas tentam conciliar a presciência divina (conhecimento de Deus sobre o futuro) com o livre-arbítrio humano, sugerindo que Deus está fora do tempo e pode "ver" o futuro que as pessoas escolhem livremente, sem necessariamente determiná-lo. No entanto, isso não resolve o problema da previsibilidade humana por meios naturais.

    Em suma, a existência do livre-arbítrio sugere que o futuro não é um caminho único e predeterminado, mas sim um espectro de possibilidades que se atualizam momento a momento através das escolhas humanas.