Jorge Hessen
Brasília -DF
A questão de se as
predições deveriam ou não acontecer, dado o conceito de livre-arbítrio, é um
tópico intricado que toca em debates teológicos e filosóficos de longa data,
sem uma resposta única ou universalmente aceita.
Emmanuel, na obra
"EMMANUEL", registra no 33º capítulo que "o livre-arbítrio é lei
irrevogável na esfera individual, perfeitamente separável das questões do
destino, anteriormente preparado. Os atos premonitórios são sempre dirigidos
por entidades superiores, que procuram demonstrar a verdade de que a criatura
não se reduz a um complexo de oxigênio, fosfato, etc
Existem várias
perspectivas sobre como a predição e o livre-arbítrio coexistem (ou não):
Uns sustentam que a
profecia não dita o futuro, mas sim que uma entidade onisciente (Deus)
simplesmente sabe de antemão quais escolhas livres os indivíduos farão.
Nesse caso, a profecia é
o conhecimento do resultado, não a causa do resultado. O livre-arbítrio
ainda existe plenamente, pois as pessoas fazem suas escolhas independentemente
de elas serem conhecidas de antemão.
Muitas tradições
religiosas tratam as profecias como condicionais. Elas servem como avisos ou orientações
sobre o que pode acontecer se determinadas ações forem ou não tomadas. Nesse
cenário, o objetivo da profecia é motivar as pessoas a usarem seu
livre-arbítrio para mudar o curso dos acontecimentos através do exercício do
arrependimento, da mudança de comportamento, o que significa que a predição
pode não se cumprir se a condição for alterada.
Outro aspecto sugere que,
embora os indivíduos tenham livre-arbítrio para fazer escolhas diárias, certos
eventos antevistos maiores são inevitáveis como parte de um plano ou destino
predeterminado. O livre-arbítrio operaria dentro desses limites maiores.
Uma visão mais estrita
argumenta que profecias detalhadas e infalíveis são fundamentalmente
incompatíveis com a existência do livre-arbítrio genuíno, pois se o futuro é
conhecido com certeza absoluta, as escolhas dos indivíduos não podem ser
verdadeiramente livres para alterá-lo.
Portanto, a ideia de que
"toda profecia deveria não acontecer considerando o livre-arbítrio"
reflete a visão de que o destino predeterminado e a escolha pessoal se anulam
mutuamente.
No entanto, muitas
estruturas de crença oferecem maneiras de reconciliar os dois conceitos.
Na verdade, a
complexidade de prever o futuro é imensamente amplificada pela existência do
livre-arbítrio, pois a capacidade humana de fazer escolhas autônomas introduz
um elemento de imprevisibilidade fundamental que desafia abordagens puramente
determinísticas.
A discussão sobre a
previsão do futuro está intrinsecamente ligada ao debate filosófico e
científico entre o determinismo e o livre-arbítrio.
Na visão do determinismo,
todos os eventos e ações humanas são o resultado inevitável de causas
anteriores, como leis naturais, genética e ambiente social.
Em um universo
estritamente determinístico, onde cada ação é uma consequência necessária do
estado anterior do universo, o futuro é, em princípio, previsível, desde que se
conheçam todas as variáveis relevantes.
Na visão do
livre-arbítrio, os seres humanos são livres para escolher suas ações e tomar
decisões, sem serem completamente determinados por fatores externos. A
introspecção sugere que temos opções e podemos decidir nosso caminho, o que
torna nossas ações, em essência, imprevisíveis por métodos puramente causais e
mecânicos.
Portanto, o
livre-arbítrio introduz várias camadas de complexidade à previsão: se as ações
humanas não são meras consequências de cadeias causais fixas, mas sim o
resultado de um processo de deliberação interna complexo e, em certa medida,
idiossincrático, as previsões tornam-se incertas.
Mesmo que se pudessem
medir todos os estados mentais de uma pessoa, a emergência da consciência e a
tomada de decisão envolvem uma complexidade cognitiva que vai além de manipular
instrumentos em laboratório.
A tentativa de prever o
futuro de uma pessoa com livre-arbítrio cria uma contradição. Se um cientista
prevê que você fará A, mas você, ao saber da previsão, decide fazer B para
contrariá-la, a previsão falha. A própria previsão torna-se um novo fator causal
que a pessoa livre pode considerar em sua decisão, tornando a previsão estática
impossível.
Porém, algumas visões
teológicas tentam conciliar a presciência divina (conhecimento de Deus sobre o
futuro) com o livre-arbítrio humano, sugerindo que Deus está fora do tempo e
pode "ver" o futuro que as pessoas escolhem livremente, sem necessariamente
determiná-lo. No entanto, isso não resolve o problema da previsibilidade humana
por meios naturais.
Em suma, a existência do
livre-arbítrio sugere que o futuro não é um caminho único e predeterminado, mas
sim um espectro de possibilidades que se atualizam momento a momento através
das escolhas humanas.
