Jorge Hessen
Brasília-DF
É muito comum a negação dos sentimentos que avaliamos negativos, camuflando-os por maneiras supostamente positivas.
No entanto, à luz da Doutrina dos Espíritos, essa postura não traduz progresso moral, mas antes um distanciamento entre o mundo essencial e o transitório comportamento exterior.
O sentimento que não é reconhecido consciencialmente não se modifica; apenas se esconde. A propósito, Allan Kardec ensina que o crescimento espiritual advém através da transformação moral consciente, e não pela aparência de virtude.
No Livro dos Espíritos, à questão 909, somos convidados a refletir o seguinte: “Poderia sempre o homem, pelos seus esforços, vencer suas más inclinações?”
“Sim, e frequentemente fazendo esforços muito insignificantes. O que lhe falta é a vontade”, segundo nos ensinam os Benfeitores.
Quando nos recusamos a reconhecer nossas propensões para o mal, criamos mecanismos defensivos do ego que se manifestam como máscaras emocionais e morais.
Essas camuflagens psíquicas sustentam uma imagem idealizada de nós mesmos, como se o simples parecer substituísse o ser.
Nosso progresso real não se repousa na ilusão, mas na verdade íntima. A negação das imperfeições revela, muitas vezes, a dificuldade de lidarmos com o orgulho, uma das paixões mais profundamente enraizadas em cada um de nós.
O ego, ao sentir-se ameaçado pela dor moral não elaborada, cria uma falsa energia de amor, que se apresenta como virtude, mas ainda está contaminada pelo egoísmo. Surge, então, o pseudoamor — uma expressão afetiva que não nasce da essência espiritual, mas da necessidade de aceitação, controle ou autoproteção. Esse amor aparente não resiste às contrariedades, pois não foi conquistado essencialmente.
Jesus nos oferece o modelo do amor autêntico, e o Espiritismo o reafirma como referência máxima. Contudo, Kardec nos adverte de que não basta conhecer o bem; é preciso praticá-lo. Na questão 629 do Livro dos Espíritos, encontramos a definição mais profunda de moral: “Qual a definição mais completa que se pode dar de moral?” Os Espíritos responderam que “A moral é a regra de bem proceder, isto é, a distinção entre o bem e o mal.”
Proceder bem exige coerência entre sentimento e ação. Quando mascaramos nossos conflitos internos, criamos uma dissociação que retarda o autoencontro, ou seja, o encontro sincero conosco mesmos.
Esse atraso repercute diretamente no processo reencarnatório, pois as imperfeições não trabalhadas tendem a se repetir em novas experiências, conforme ensina a lei de causa e efeito.
O uso das máscaras do ego ocorre, na maioria das vezes, de forma subconsciente. Acreditamos estar nos protegendo, quando, na realidade, estamos apenas adiando nossa libertação interior.
O Espiritismo não propõe a repressão dos nossos sentimentos, mas nossa educação moral. Negar emoções não as extingue; compreendê-las à luz da razão e do Evangelho permite transformá-las.
À medida que abandonamos as máscaras do ego, nossa essência divina se manifesta com mais clareza, e o amor deixa de ser uma representação para tornar-se uma conquista real.
Assim, o progresso espiritual se acelera quando deixamos de viver de aparências e passamos a viver de autenticidades interiores, alinhando pensamento, sentimento e ação, conforme os ensinamentos imortais da Doutrina Espírita.
