Jorge Hessen/2002 |
O problema da superpopulação
começou a causar preocupação no século passado e se tornou um problemão neste
século. Estamos vivendo um dos momentos mais críticos da história da sociedade
terrena, enfrentando uma época em que a humanidade precisa escolher o seu
porvir. Até porque, somos um aglomerado de seres humanos com um destino comum.
Por isso, urge potencializarmos a soma de esforços para gerarmos uma sociedade
comprometida com a sustentabilidade global, baseada no respeito pela natureza,
nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura de
desapego e de legítima fraternidade.
Estamos experimentando uma
explosão demográfica sem precedentes na zona urbana. Há pouco mais de dois
séculos, apenas, 3% da população mundial vivia em cidades. De acordo com
estimativas das Nações Unidas, pela primeira vez na história, o número de
pessoas que vivem em áreas urbanas ultrapassará o de moradores do campo.
Estudos apontam que, nas próximas décadas, praticamente todo o crescimento
populacional do planeta ocorrerá nas cidades, nas quais viverão sete, em cada
dez pessoas, em 2030. Estima-se a idade do homem moderno em 130 000 anos. A
agricultura e a vida sedentária, que permitiram viver em aldeias ou vilas,
existem há, apenas, 11 000 anos. Cidades, da forma que as conhecemos hoje, só
apareceram 5.500 anos depois, na Mesopotâmia e no vale do Rio Nilo, no Egito.
Segundo estudiosos, o lugar que melhor resume a urbanização, em escala global,
é a megalópole. (1) Um, em cada 25 habitantes do planeta, vive em uma das
megalópoles existentes. (2) Nos países mais industrializados, a supremacia
numérica dos moradores das cidades é um fato consolidado desde os anos 50.
Portanto, segundo as projeções
demográficas, daqui a duas décadas, as megalópoles estruturar-se-ão com centros
luxuosos e ultra modernos, habitados por uma classe poderosa e rica, mas
rodeados, ou melhor, sitiados por enormes extensões de favelas, de marginados,
como já se pode perceber, embora em quantidades ainda reduzidas, nas atuais
metrópoles do Rio de Janeiro e São Paulo.
Famílias inteiras coabitarão em
casebres ou em áreas de poucos metros quadrados, convivendo numa promiscuidade,
que poderá trazer, de volta, as epidemias de doenças já combatidas ou
debeladas, como a cólera, a hepatite e outras tantas doenças infectocontagiosas.
Além disso, haverá muito desemprego e vida precária, tornando a convivência
ainda mais complicada do que ocorre nas atuais favelas. Tóquio, com perspectiva
de 37 milhões de moradores, será a maior megalópole do planeta.
Os governos atuais, já na realidade
atual das metrópoles, não conseguem criar os serviços necessários para uma vida
humana decente. O crescimento desordenado da população, o desemprego
estrutural, a pobreza, a miséria, a exclusão social, a falta de atendimento às
necessidades básicas, o não reconhecimento dos direitos do cidadão, o
desrespeito aos direitos humanos, a facilidade de acesso às drogas e às armas,
a falta de Deus nos corações, a influência nociva da televisão, e o uso abusivo
de bebidas alcoólicas, favorecerão todo tipo de violência que se possa
imaginar.
Atualmente, já temos notícia de
várias formas de violência que vem ocorrendo, principalmente no recesso da
família, como: assassinatos, maus tratos à mulher, maus tratos às crianças,
violência sexual, violência psicológica, ameaças, palavras de baixo calão, etc.
A prevenção e o controle da violência, entre consanguíneos, é um problema de
saúde espiritual e a epidemia que mais cresce no mundo é a violência provocada
pelo homem contemporâneo.
Em se tratando de violência global,
há uma síndrome perversa, em que os benefícios do desenvolvimento não estão
sendo divididos equitativamente e o fosso entre afortunados e deserdados (ricos
x pobres) está aumentando. Essa tendência é extremamente perigosa, mas podemos
evitá-la. Caso contrário, as bases da segurança global estarão seriamente
ameaçadas, muito mais do que já estão. Temos o conhecimento e a tecnologia a
nosso favor, necessários para sustentar toda a população, equilibradamente, e
reduzir os impactos de agressão ao meio ambiente, até porque, os desafios
ambientais, econômicos, políticos, sociais e espirituais estão interligados, e,
juntos, podemos criar, de início, soluções emergenciais, para que evitemos o
caos absoluto em pouco tempo.
A rigor, essas questões sobre
crescimento demográfico, uso e utilização dos bens terrenos, desigualdades
sociais, direito de propriedade, justiça, amor e caridade, como tantas outras
mais, de cunho eminentemente social, são temas doutrinários. O Espiritismo,
eminentemente moralizador, comparece, objetivando educar o homem como Espírito
imortal, regido pelo livre-arbítrio e pela lei de causa e efeito, com
responsabilidades e culpas intransferíveis, adquiridas nas sucessivas
reencarnações.
A Doutrina Espírita embora
compreenda e explique muitos fenômenos sociais e econômicos, através da tese
reencarnacionista, é evolucionária, porque propõe mudanças estruturais do ser
humano; não contemporiza com a concentração de riqueza e com a ausência de
fraternidade, que significam a manutenção de privilégios e de excessos no uso
dos bens, das riquezas e do poder de uns poucos em detrimento do infortúnio da
maioria. O mais amplo sentido de Justiça Social, segundo a visão do
Espiritismo, é a que está gravada no escrínio da consciência humana, que
estimula o homem a cumprir seus deveres honestamente e a proteger seus
direitos, respeitando os direitos alheios.
Sabemos das quantias
exorbitantes, em dinheiro, que são gastas na produção de armas, pelos países
desenvolvidos, para fomentar guerras. Temos consciência de que o montante
monetário destinado à guerra seria suficiente para minorar ou erradicar a
pobreza humana em poucos anos. Como modificar este panorama de desigualdade e
insegurança? Como diminuir continuamente a manifestação da violência nas suas
mais diversas nuanças? Cremos que o desenvolvimento de uma cultura de amor e
fraternidade com base no Evangelho é ponto relevante para todas as denominações
políticas, filosóficas e religiosas comprometidas com a conquista definitiva da
paz entre os homens no planeta.
Notas:
(1) Esse é o nome que se dá aos aglomerados urbanos com mais
de 10 milhões de habitantes.
(2) Lista das maiores megalópoles do globo Bos-wash (O nome
vem de Boston à Washington; Localização: nordeste dos Estados Unidos;
População: cerca de 50 milhões de habitantes; Metrópoles abrangentes: Boston,
Nova Iorque, Filadélfia, Baltimore e Washington, DC.) Chippits (Localização: ao
norte dos Estados Unidos, na região dos Grandes Lagos; População: equivalente à
de Bos-wash; Metrópoles abrangentes: Chicago, Pittsburgh, Cleveland e Detroit;)
Tokkaido (Localização: sudeste do Japão; População: cerca de 45 milhões de
habitantes; Metrópoles abrangentes: Tóquio, Kawasaki, Nagoya, Quioto, Kobe,
Nagasaki e Osaka;) Rio-São Paulo (Localização: Sudeste do Brasil, População: 43
milhões de habitantes; Metrópoles abrangentes: São Paulo, Rio de Janeiro,
Campinas e Santos;) Renana (Localização: Europa ocidental, junto ao vale reno;
População: cerca de 33 milhões de habitantes; Metrópoles abrangentes: Amsterdã,
Düsseldorf, Colônia, Bonn e Stuttgart) dados de 2010
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comente o texto aqui .